sexta-feira, 25 de maio de 2012

A menina que não sabia ler – John Harding

 

A menina que não sabia ler 1891. Nova Inglaterra. Em uma distante e escura mansão, onde nada é o que parece, a pequena Florence é negligenciada pelo seu tutor e tio. Guardada como um brinquedo, a menina passa seus dias perambulando pelos corredores e inventando histórias que conta a si mesma, em uma rotina tediosa e desinteressante. Até que um dia Florence encontra a biblioteca proibida da mansão. E passa a devorar os livros em segredo. Mas existem mistérios naquela casa que jamais deveriam ser revelados. Quem eram seus pais? Por que Florence sonha sempre com uma misteriosa mulher ameaçando Giles, seu irmão caçula? O que esconde a Srta. Taylor? E por que o tio a proibiu de ler? Florence precisa reunir todas as pistas possíveis e encontrar respostas que ajudem a defender seu irmão e preservar sua paixão secreta pelos livros - únicos companheiros e confidentes - antes que alguém descubra quem ousou abrir as portas do mundo literário. Ou será que tudo isso não seria somente delírios de uma jovem com muita imaginação?

 

Já fazia um tempo que este livro estava na minha estante. Eu o vi pela primeira vez na Bienal do Livro de SP em 2010, e a capa já me chamava a atenção. E o título é intrigante. Mas só comprei (ou melhor, minha irmã comprou) recentemente, e então só agora eu li. E gostei bastante. Pela sinopse, eu já imaginava, e ele faz um paralelo direto com A volta do parafuso, de Henry James, que eu adoro.

Apesar do nome, Florence, a protagonista do livro, sabe ler sim. Mas ela mantem isso um segredo. Isso porque ela mora com seu irmão Giles em Blithe House, uma mansão afastada de Nova York. Eles são órfãos, e estão sob a tutela de seu tio, mas este nunca aparece e nem toma muito interesse nas vidas das crianças. A casa fica numa grande propriedade e tem um lago, e tem duas torres. Só por isso, já dá para ver toda a referência a Volta. Some-se a isso o fato de as crianças ficarem aos cuidados dos empregados do tio, uma cozinheira gorducha, Meg, um faz-tudo, John, e da governanta, Sra. Grouse. E ambos tem a mesma idade das crianças do outro livro.

Mas não para por aí. Florence lê muito, e sua imaginação é fértil até demais. Ela adora o irmão, e é muito esperta. Quando a nova preceptora chega, já que Giles não se adaptou à escola, ela começa a desconfiar até da sombra da mulher. Esqueci de dizer que Florence mantém segredo a leitura porque seu tio não acredita que mulheres devam aprender a ler. Florence passa muito tempo sozinha, entocada na biblioteca com seus livros.

Florence tem muito da preceptora do livro de Henry James. A mesma imaginação fértil, e também é extremamente influenciável, no caso pelas histórias de Edgar Allen Poe. Ainda por cima, ela sofre um trauma, por ter presenciado um acidente grave com a primeira preceptora a chegar a Blithe House. E quando a nova, Sra. Taylor, chega, a menina se convence que ela é um fantasma. Para piorar, ela é assombrada pela visão de uma mulher que ameaça seu irmãozinho e é sonâmbula. Sua existência só é amenizada pelo irmão e por Theo (que eu , por conta de GoT, insistia em ler como Theon ;D), seu vizinho. E dá pra fazer um paralelo entre a relação deles e a de Liesel e Rudy em A menina que roubava livros.

Theo é um menino um pouco mais velho, e doente. Ele não consegue frequentar a escola também, mas por conta da asma, e clima mais frio de Blithe é mais adequado a sua saúde. O garoto é um varapau, e muito desengonçado. Mas é inteligente e leal a Flo. Claro que o garoto morre de amores por ela, que nem dá bola para o xaveco do menino. Ele é o único em quem Florence pode confiar seu segredo, e o garoto toma parte em todas as suas maquinações contra a preceptora, que Flo chama de demônia.

Giles é um menino doce, mas muito ingênuo, e sofre alguns abusos na escola, por isso retorna para ser educado em casa. É um garoto muito impressionável, mas adora a irmã e tem o hábito de fazer perguntas perturbadoras às visitas logo de cara. Todas envolvendo morte. Tem a vivacidade dos oito anos e está alheio às idéias da irmã.

A tal preceptora, Sra. Taylor, é uma mulher misteriosa, ninguém sabe de seu passado e sempre que ela sai da casa para ir à vila, cobre o rosto, com medo de ser vista. E também se esconde de visitas. É toda amores com Giles, mas muito hostil com Florence. Claro que a menina também não é lá muito simpática com ela, mas mesmo assim, é só fachada mesmo. Ela tem alguns ataques histéricos, e quase não come, alimentando ainda mais a fantasia de Florence. Mas nem tudo é infundado em se tratando dela. Ela tem sim, um lado meio assustador, e que novamente faz um paralelo com Henry James, insinuando um pouco de pedofilia.

Vale ainda destacar o capitão Hadley. Ele é o capitão de polícia local, e acaba por conhecer um pouco Florence por causa do acidente que ela presenciou. Ele é a outra pessoa em quem Florence confia, mas por outros motivos. Ela acredita que ele é o único que pode ajudá-la a salvar Giles, e ele até ajuda mesmo. Acredita nela. E é um homem de palavra. E é praticamente o único adulto que frequenta Blithe House.

O clima é bem sombrio, tudo se passa no inverno, no frio. E há sempre o contraste entre a brancura da neve com o preto da gralha. E Florence não é uma narradora confiável, já que é ela que conta a história. Não dá para saber se é fato ou fantasia da cabeça dela. Até nisso o livro faz um paralelo com a Volta. A narrativa mesmo assim por vezes é tensa. Mas ainda assim não dá vontade de largar. Recomendado.

Trilha sonora

Seven devils, de Florence and the Machine (não escolhi pelo nome, não) tem tudo a ver. Só não posso explicar porque, senão entrega muito, sem necessidade. Ainda deles, Heavy in your arms (nesse caso, o clipe também tem tudo a ver). Enter Sandman, do Metallica, também vai bem, e Haunted, do Evanescence.

Se você gostou de A menina que não sabia ler, pode gostar também de:

  • A volta do parafuso – Henry James;
  • Histórias extraordinárias – Edgar A. Poe;
  • A menina que roubava livros – Markus Zusak;
  • A sombra do vento – Carlos Ruiz Zafón.

10 comentários:

Nadia Viana disse...

Como já tinha dito, gostei bastante desse livro e agora fiquei com vontade de ler A volta do parafuso. :)
Beijo, Nadia

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Nádia!

Lê sim, que vcoê vai gostar! E acho que você vai poder aplicar muita coisa de Jung e Freud ;D

Beijos!

Nadia Viana disse...

Hehehe. Vou ler sim. Depois de alguns que já estão na lista. ;)
Beijo.

Fefa Rodrigues disse...

feeee

parece bem interessante!!!!

Diana Bitten disse...

Acho que seu comentário "E Florence não é uma narradora confiável, já que é ela que conta a história. Não dá para saber se é fato ou fantasia da cabeça dela" foi simplesmente perfeito!

Adorei esse livro!

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Diana!

Eu também gostei bastante.

Obrigada pelo comentário.

Beijos!

Yago Martins Campos disse...

Nossa, Seven Devils é muito Florence x Srta. Taylor, como se estivessem lutando, e a srta. Taylor cantando para a Florence.

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Yago!

É verdade. Não lembro agora exatamente porque escolhi essa música, mas ela cai direitinho nessa situação.

Obrigada pelo comentário e volte sempre!

Beijos!

Jéssica Soares disse...

Oi, Fê! Tudo bem?
Acabei de ver que você postou a resenha da continuação desse livro e vim aqui para ler a resenha dele. Li poucas resenhas de "A menina que não sabia ler", mas já estou super curiosa para conferir o livro, exatamente por esse ar sombrio e misterioso que ele tem. Gostei de algumas referências que você fez ao longo da resenha, mas eu fiquei curiosa mesmo para conferir o "A volta do parafuso" que parece ser incrível também! As dicas estão anotadas aqui, já estou com expectativas e espero poder conferir esses dois livros logo, logo! :) Bjs
Jess

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Jess!

Leia primeiro A volta do parafuso, depois leia este. Você vai ver como os dois tem uma ligação direta. E você vai ler os dois rapidinho, eles são curtinhos e de fácil leitura.

Beijos!