segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Diários do Vampiro 1,2,3 e 4

vamp diaries 1

Diários do Vampiro é uma série de livros de terror e romance da autora estadunidense Lisa Jane Smith sobre a vida de uma garota chamada Elena Gilbert que se vê às voltas com dois irmãos vampiros.
O primeiro livro, O Despertar introduz o leitor à Elena Gilbert, uma bela e popular estudante do Ensino Médio da pequena cidade de Fell´s Church, em Virginia, e seus amigos: Bonnie, Meredith, Matt, e Caroline - uma velha amiga de Elena que agora compete com ela.
O segundo livro, O Confronto, vamp diaries 2 começa de onde O Despertar termina, com um buraco onde Damon está tentando ganhar o afeto de Elena e Stefan luta pra sobreviver. Quando Stefan desaparece, Elena procura por Damon e o confronta no cemitério.
O terceiro livro, A Fúria, trata de Elena com sua adaptação ao vampirismo, bem como a sua confusão entre os dois irmãos. Embora tenham que ficar fora do caminho da cidade por causa do novo vampiro caçador, Stefan, Damon, Elena e os amigos dela Vampire diaries 3 terão que pesquisar sobre a sombria presença que tem ultrapassado a cidade e que também é suspeita por estar por trás da morte de Elena.
O quarto livro, Reunião Sombria começa seis meses após a morte de Elena. Este livro é contado à partir do ponto de vista de Bonnie. Em uma festa de aniversário surpresa à Meredith,

Bonnie e Caroline (juntamente com mais três amigas da escola) contatam Elena usando um tabuleiro de Ouija.
Elena avisa-lhes que todos da cidade estão em perigo. Ela diz que elas precisam chamar alguém, mas é interrompida, presumivelmente pelo espírito malígno, antes de dizer-lhes o resto. Antes de todas as meninas conseguirem sair da casa, uma delas é jogada pela janela do segundo andar e morre. Outra das garotas se torna insana após esse acontecimento.
Com a ajuda de Matt, Bonnie e Meredith executam um feitiço para chamar Stefan, e ele aparece à cidade com Damon. Os cinco trabalham para achar a origem do mal na cidade.

 

Comecei a ler esse livros (ou melhor, livros), depois de ver que ia virar série. Claro que o nome já me dexava com a pulguinha atrás da orelha, mas foi só mesmo depois de começar a ver a série (que eu AMO, by the way) que comecei a ler. E para falar a verdade, fiquei meio desapontada.

Como já disse quando escrevi sobre Crepúsculo, dá para notar que Stephenie Meyer chupou (hehe) tudinho daqui, mas desenvolve bem melhor (tá, com ressalvas. Depois que eu escrevi a resenha, comecei a pensar mais friamente, e acho que há várias falhas graves com a saga. Se der na telha, qualquer dia eu escrevo mais algumas considerações). A historinha de L J Smith é bem fraquinha pra ser bem sincera. Nada memorável.

A começar por Elena. Ela é fútil, se acha a rainha da escola, e é perfeita (fala sério! Como pode ser perfeita e ser tão superficial?). É infantil e só se ocupa em fazer joguinhos para conquistar Stefan. Isso no primeiro. Ela melhora um pouco a partir do final do segundo (mas não vou falar porque. Adivinhem). E não está nem aí com quem ela tem que passar por cima (inclusive uma de suas melhores amigas, que alías são igualmente fúteis). A única que eu gosto é Meredith, a menos fútil e mais adulta do grupo.

Stefan é absurdamente bonzinho. E mais careta que Edward (!). Sim, é possível. O casalzinho não faz muito mais que se abraçar e segurar a mão (é, bem old-fashioned mesmo). E francamente acho ele meio bobão (Edward pelo menos é sarcástico. Dá pra notar bem quando se lê Midnight sun, que eu recomendo. É melhor que Crepúsculo).

Damon é mau, mas mesmo a ruindade dele é risível. E ele nem implica tanto com seu irmãozinho. Falta também o sarcasmo do personagem da série (falo mais sobre ela daqui a pouco). Ele é meio apático, mas é de longe o melhor personagem da série. Aliás, ela melhora muito depois que ele aparece.

E só mesmo a partir do terceiro é que a série fica realmente legal. Mais sombria e mais intrincada. E isso se deve a uma personagem importantíssima (que os fãs da série vão saber quem é, mas aqui eu não vou revelar) que aparece. O quarto livro, até agora, é o mais sombrio. Aqui sim o sangue escorre.

Alguém pode argumentar: você está sendo muito rigorosa! É livro juvenil! E daí? Harry Potter, Percy Jackson e Eragon também, mas são bem mais estruturados, e as histórias são mais envolventes. Até Crepúsculo nesse quesito é melhor. Mas não deixa de ser uma alternativa quando não se quer pensar muito (por exemplo, eu li o terceiro e o quarto depois de ler A sombra do vento, que me atropelou, lembra? Eu tinha que ler algo mais light).

A série

vamp diaries série Ao contrário do livro, a série é um deleite. A trama é mais complexa, e, apesar de ser direcionada para o público adolescente, é densa, cobrindo assuntos pesados, como drogas. E não é tão piegas. Elena para começar não tem nada a ver com a do livro (ainda bem!). É mais madura, e não é superficial. Stefan é menos bom moço, e tem um bom senso de humor. Agora, Damon é uma delícia! Para os olhos (apesar de Stefan não ficar atrás), e em tudo mais. Tudo que falta no Damon do livro, tem o da série: sarcasmo, indiferença, implicância, e ele nunca revela suas verdadeiras intenções. Deixa a gente sempre se perguntando qual a dele. E os dois atores, Paul Wesley e Ian Somerhalder têm uma química boa, entre eles e com Nina Dobrev, a Elena. E Ian Somerhalder parece estar particularmente à vontade no papel de Damon. Vale a pena conferir. Eu particularmente não vejo a hora de a segunda temporada chegar (eu até podia ver na net, mas não tenho paciência). Ah, e Mystic Falls é um nome bem melhor pra cidade que Fell’s Church.

Trilha sonora

A da série é ótima, contando com Within Temptation (aliás, foi por causa da série que eu me apaixonei por Within Temptation), Alex Band (ex-vocalista do The Calling), One republic e The Fray.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Marley & Eu

 

marley John e Jenny eram jovens, apaixonados e estavam começando a sua vida juntos, sem grandes preocupações, até ao momento em que levaram para casa Marley, "um bola de pêlo amarelo em forma de cachorro", que, rapidamente, se transformou num labrador enorme e encorpado de 43 quilos.


Era um cão como não havia outro nas redondezas: arrombava portas, esgadanhava paredes, babava nas visitas, comia roupa do varal alheio e abocanhava tudo a que pudesse. De nada lhe valeram os tranqüilizantes receitados pelo veterinário, nem a "escola de boas maneiras", de onde, aliás, foi expulso. Mas, acima de tudo, Marley tinha um coração puro e a sua lealdade era incondicional. Imperdível.

Alguma dúvida que eu li esse livro? Nenhuma, não é? Mas demorei para ler. Eu enrolei mesmo, porque eu sabia que eu ia chorar. E foram litros de lágrimas ao final, eu mal conseguia ver o livro. E também não fui ver o filme no cinema pelo mesmo motivo. Eu sabia que ia dar vexame. Aliás, só de lembrar, me dá vontade de chorar de novo.

Na verdade, para mim, esse livro é meio pessoal. Nunca tive labrador (Não tenho espaço em casa), mas’, como já relatei nas crônicas Eu e minha dona, eu tive vários animais de estimação. Marley, principalmente no final, me lembra muito a minha cachorrinha Sheyna (ai, aí vai um rio de lágrimas!). Como eu escrevi na parte seis da crônica, ela morreu bem velhinha, e alguns lances de Marley me lembram seus últimos dias; a surdez, como ela andava devagarzinho ( ver no filme foi emocionante, quando Marley vai seguindo seu dono na colina, atrás, devagar), como ele tinha dificuldade de subir e descer escadas… Com a Sheyna foi igual, e, acreditem, estou chorando enquanto escrevo.

John Grogan faz um relato realmente emocionante sobre sua vida, os primeiros anos de casamento, os filhos, mas sem tirar o foco de Marley, e fica patente o amor que ele tinha pelo cão, que fielmente o ajudou a enfrentar tantas dificuldades, e tantas alegrias.

E o que eu gostei muito é que, tanto ele como Jenny não desistiram de Marley nem por um minuto, apesar do furacão que ele era. Alguns não pensariam duas vezes em se desafazer do cachorro, dando para outra pessoa, ou, pior, soltando na rua. Isso não se faz. E também acho inadmissível (e podem me criticar se quiserem) abandonar o cachorro quando nascem os filhos, alegando não ter tempo para o animal. E se chega o segundo filho, pouco depois do primeiro? Vão dar o primeiro? (é me revolta mesmo! Sou radical nesse ponto. Não tenho filhos, mas quando tiver, não vou abandonar meus bichinhos. Eles também sentem tanto quanto nós). Aplausos para a família Grogan por essa atitude tão digna (no filme isso tá meio distorcido, só para gerar intriga, efeito dramático).

Mas claro, como veterinária, eu tinha que analisar o fim do livro, e, no lugar do veterinário, quando o estômago pela primeira vez, eu teria operado. Até onde eu sei (já faz tempo que eu não clinico, e mais tempo ainda que eu não leio nada a respeito), mas não tem tratamento para torção gástrica que não seja cirúrgico. E, sim é muito difícil de salvar o animal, é cirurgia de emergência. Mas também não é tão comum assim. Nem na faculdade eu vi um caso, só relatos. E nunca vi a cirurgia. Mas eu teria arriscado, porque as chances de virar outra vez eram grandes. Não estou julgando o veterinário, que tenho certeza era muito competente, mas só comentando qual seria minha conduta. A decisão seria do proprietário, de qualquer jeito.

De volta ao livro, ele mescla bem momentos de risadas altas (como o episódio na praia. Impagável), com outros tocantes, sem perder o ritmo. Um relato delicioso, que agrada não só os amantes de animais, mas a todos com sua sensibilidade.

Trilha sonora

Bob Marley, o que mais: E também I know do Barenaked Ladies, que fala de cachorro (alias, e uma boa descrição do meu cachorro)

Se você gostou de Marley & Eu, pode gostar também de:

  • 100 cães que mudaram a historia – Sam Stall
  • Tudo bem não alcançar a cama nu primeiro salto – John O’Hurley
  • A arte de correr na chuva  - Garth Stein
  • Anjo de quatro patas – Walcyr Carrasco
  • qualquer outro que fale de cachorro

Filme

marley filme Como eu disse, chorei muito vendo o filme. Eu tenho o DVD, e assisti a grande total de duas vezes: uma sozinha, e uma com minha amiga Mari (que também chorou copiosamente). Em geral, o filme e bem fiel ao livro, com uma ou outra alteração, como eu já mencionei, mais para dar dramaticidade do que outra coisa. E, no dia seguinte, me dava vontade de chorar só de lembrar do filme. Um filme lindo, sensível, compatível com o tom do livro. E parabéns pelas atuações de Jennifer Aniston (não é surpresa. Ela é ótima atriz) e Owen Wilson (aí sim, fomos surpreendidos novamente!)

Dewey

 

Dewey A rotina da pacata cidade de Spencer, Iowa, Estados Unidos, se transforma após Dewey, um gato, ser encontrado na Biblioteca Pública. A diretora da Biblioteca, que achou o gatinho na caixa de devolução, resolve contar a história e lança o livro, Dewey, um gato entre livros. O livro escrito por Vicki Myron, com colaboração de Bret Witter é a história real de um gato que fez da biblioteca - e da cidade de Spencer- sua casa e de seus habitantes, os melhores amigos.

Logo que vi a capa desse livro eu sabia que eu tinha que ler. Ele junta duas das minhas paixões: gatos e livros. E, convenhamos, um gato combina muito bem com o ambiente de uma biblioteca. Mas para falar a verdade, me decepcionei um bocado com o livro.

Quando alguém compra um livro com um gato na capa espera o quê? Ler sobre o gato, certo? Mas esse deixa um pouco a desejar nesse quesito. Não que o gato não faça parte de boa parte do livro, mas a autora conta mais a história da família (inclusive de sua infância) e da cidade do que de Dewey. Hello! Who cares? Eu queria mesmo saber do gato!

E a história dele já começa emocionante. Resgatado numa manhã fria e com neve. Dewey quase morre antes mesmo de a história começar. Já chorei aí. Fiquei imaginando o coitadinho naquela caixa gelada! E me revoltei também. Como é que alguém tem coragem de fazer isso com um bichino inocente? Isso me lembra uma história que aconteceu comigo: como vocês devem ter lido, eu trabalhava como veterinária, e tinha um petshop. Bem, um belo dia (que na verdade não era nada bonito) deixaram uma ninhada de cachorrinhos na minha porta. Fazia um frio de rachar (não, não estava nevando. Ainda bem que em São Paulo não neva!). A “sorte” é que tinha uma inquilina que morava numa kitchenette nos fundos da loja. Quando ela saiu para trabalhar, mais ou menos 6 da manhã, ela viu, e tirou a própria blusa para aquecer os coitadinhos. Esqueci de dizer: eram recém-nascidos, nem tinham aberto os olhos ainda. Ah, e a “alma caridosa”, pensando que estava fazendo uma boa ação, deixou uma fatia de pão de forma molhada com leite para eles não passarem fome (o que na verdade, só fez com que os pobrezinhos tivessem hipotermia). Oh estrupício! Eles ainda estavam sugando, não conseguiam comer! Infelizmente, não pude salvar todos, todos morreram. Eram seis. Filhotes assim pequenos precisam da mãe para tudo (mamar, se aquecer, etc. É muito difícil salvar filhotinhos tão pequenos). E, me desculpem o desabafo, mas que isso sirva de alerta: CASTRE SEU ANIMALZINHO! E se não tiver paciência, nem tenha. Não é todo mundo que merece (é isso mesmo, merece) ter animal de estimação.

Anyway, de volta ao livro. A história é meio parada, e, como eu disse, gira mais em torna da cidade e da vida da autora que de Dewey propriamente. E, confesso que em certo momento, eu quis estrangular a mulher. Quem ler, vai entender porque. E, quanto à história dela, não que não seja interessante (e, aliás, que família mais zicada a dela), mas para mim não faria a mínima diferença saber disso. E, gatos até podem dominar o mundo, mas é forçar demais a barra dizer que o gato salvou a cidade da falência, por mais que donos sintam que seus pets são especiais.

Chorei de novo o final (já dá pra imaginar o que acontece, né?). E o curioso é que meu cachorro estava do meu lado, na cama, e percebendo que eu estava chorando, levantou (ele estava dormindo), e começou a me lamber, todo preocupado. Animais são assim: percebem que há algo de errado.

De qualquer forma, para quem gosta de gatos, pode interessar. Mas se você pensa que se trata da versão felina de Marley & Eu, está muito enganado.

Trilha sonora

Just for fun:

Nós gatos já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora, senhoria
Felinos
Não reconhecerás!

Se você gostou de Dewey, pode gostar também de:

  • Marley & Eu – John Grogan
  • 100 gatos que mudaram a história - Sam Stall
  • qualquer outro livro sobre gatos

sábado, 11 de setembro de 2010

A Sombra do Vento

A sombra do vento "A Sombra do Vento" é uma narrativa de ritmo eletrizante, escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, o romance de Zafón é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Além de ser uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias.
Tudo começa em Barcelona, em 1945. Daniel Sempere está completando 11 anos. Ao ver o filho triste por não conseguir mais se lembrar do rosto da mãe já morta, seu pai lhe dá um presente inesquecível: em uma madrugada fantasmagórica, leva-o a um misterioso lugar no coração do centro histórico da cidade, o Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar, conhecido de poucos barceloneses, é uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo, à espera de que alguém as descubra. É lá que Daniel encontra um exemplar de "A Sombra do Vento", do também barcelonês Julián Carax. O livro desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor desconhecido e sua obra, que ele descobre ser vasta. Obcecado, Daniel começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa, descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino terrível.

 

Confesso que apesar de o nome me chamar a atenção, não fazia lá muita questão de ler este livro. Até que minha irmã pegou na biblioteca e me mostrou isso:


Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece. Faz muitos anos que meu pai me trouxe aqui pela primeira vez, este lugar já era velho. Quase tão velho quanto a própria cidade. Ninguém sabe ao certo desde quando existe ou quem o criou. Conto a você o que me contou meu pai. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, nós, guardiãos, os que conhecemos este lugar, garantimos que ele venha para cá. Neste lugar, os livros que ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, viverão para sempre, esperando chegar algum dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Na loja, nós os vendemos e compramos, mas na verdade os livros não têm dono. Cada livro que você vê aqui foi o melhor amigo de um homem. Agora só têm a nós, Daniel. Você acha que poderá guardar este segredo?

 

Me fisgou na hora, e ainda bem, porque descobri mais um dos meus favoritos neste livro delicioso. Li em uma semana, mas não queria largar por nada, e quando acabei, me sentia como se tivesse sido atropelada por um caminhão. No bom sentido. Como aprendi nas minhas aulas de Clássicos na faculdade, ler A Sombra do Vento foi como uma tragédia grega, que tinha por objetivo causar a catarse. E foi exatamente a mesma coisa para mim a leitura deste livro.

O encantamento do começo, da primeira vez que Daniel vai com seu pai ao Cemitério dos Livros Esquecidos é suficiente para hipnotizar o leitor. Mas melhora muito depois que ele cresce. Aí sim fica viciante. Feriado de 7 de setembro: li a manhã inteira, e, mesmo cansada, não queira parar por nada.

Daniel é um rapaz sensível, introspectivo, e quieto. Mas ao mesmo tempo, arde dentro dele uma paixão que aparece nos momentos mais delicados do livro. E é com essa paixão que ele sai em busca de Julián Carax, sem descanso. Busca essa que vai se mostrar cada vez mais perigosa.

Ajudando Daniel em sua busca está Fermín Romero de Torres, um mendigo que recebe a ajuda de Daniel e seu pai, e passa a ser o melhor amigo de Daniel. Fermín diz que era espião, e tem um passado misterioso, mas uma coisa é certa: ele sofreu horrores, mas ainda assim encontra poesia na vida. Ele é provavelmente o personagem mais otimista do livro. São dele algumas das pérolas mais preciosas do livro, como dizer que o cinema e a TV são o anticristo (ele não sabia quanto estava certo). Isso até que vislumbra os encantos das atrizes, passando daí a ser frequentador assíduo. Suas opiniões sobre tudo são coloridas e cheias de ironia, deliciosas de se ler. Rendeu boas risadas.

Beatriz Aguilar é outra que ajuda Daniel em sua missão. Ela é como um raio de sol na cinzenta e chuvosa Barcelona do pós-guerra de Daniel. Moça inteligente e um tanto misteriosa, ela compartilha com Daniel a mesma paixão da busca por Julián. Beatriz é irmã de Tomás Aguilar, amigo de infância de Daniel, o que irá causar certos problemas para o último.

Mas, apesar de gostar muito de Bea, a melhor personagem feminina é Nuria Monfort. Mulher forte e apaixonada por Julián, ela passa por todo o inferno por causa de seu amor. É ela que vai esclarecer a maior parte do mistério que é Julián Carax.

E por falar em Julián, é impossível não se apaixonar por ele. Jovem humilde, consegue chegar próximo à elite barcelonense de antes da guerra através dos favores de Ricardo Aldaya. Mas, como no good deed goes unpunished (desculpem, mas não consegui encontrar expressão semelhante em português. Significa que tudo tem seu preço), esses favores vão custar muito caro a Julián, Mais do que ele imagina. E dá para entender o fascínio que ele exerce sobre todos. Mesmo com as atrocidades que ele comete, é impossível não se apiedar e se comover com sua história. Mais ou menos como o Fantasma da Ópera, que comete diversos assassinatos, mas a gente torce por ele no final. E devo confessar que me deu uma vontade imensa de ler os romances de Julián Carax.

Mas o meu preferido é Miquel Moliner, amigo de escola de Julián. E que amigo. O melhor que alguém pode querer. Miquel é um jovem rico com simpatia por Marx e Freud, e acima de tudo, é altruísta e faz de tudo por seu amigo. Nas palavras dele mesmo: tudo que é meu é seu, menos os sonhos. Pena que ele não apareça muito, mais na segunda metade do livro. Ele tem o dom de ver através das pessoas, o que o torna ainda mais adorável. Ele tinha escolhas e escolheu a mais difícil.

Vale ainda destacar Francisco Javier Fumero. Não haveria história se não fosse por Fumero. Inspetor da polícia, é um homem ardiloso, que faz alianças de acordo com sua conveniência, e é mesquinho. Foi amigo de Julián e Miquel na escola, e como Julián, era de família humilde. Mas ao contrário deste, não despertava o mesmo fascínio, e tem uma inveja insana de Julián. Miquel foi o único que viu Fumero por quem ele realmente é.

Brincando com o sobrenatural, o livro tem passagens de arrepiar, misturadas com poesia, de modo que se torna uma leitura interessante e deliciosa.

Trilha sonora

Como já disse antes, uma óbvia é The Phantom of the Opera, em qualquer versão (filme, peça ou Nightwish) O verso the phantom the opera is here/ inside my mind diz tudo. É de Christine, mas bem poderia sair dos lábios de Daniel ou, principalmente, de Nuria. Ainda All I need, do Within Temptation, It is what it is, do meu querido Lifehouse, e Could it be any harder, do The Calling. O palacete dos Aldaya, que é quase como um personagem na história também merece uma música, que para mim seria a que toca nas Minas de Moria em A Sociedade do Anel.

Nota histórica

A guerra Civil Espanhola iniciou-se em 1936. De um lado, estavam as lideranças políticas, que na época eram a Igreja Católica, os militares e os latifundiários. Como resultado da crise de 29 (a quebra da bolsa de NY), o ditador Primo de Rivera cai, bem como a monarquia (que só mantinha o poder graças à intervenção militar), obrigando o Rei Alfonso XIII a se exilar e instaurar a República. A esperança era de que a Espanha pudesse se modernizar e alinhar-se aos vizinhos ocidentais, mas isso não aconteceu. O resultado disso foi um violento choque de classes e idealismos diferentes, que eclodiriam na guerra, que foi particularmente violenta em Barcelona, e que eventualmente colocaria o General Francisco Franco no poder. A guerra durou 3 anos, até 1939, e, sem nem se recuperar desse conflito, eclode a Segunda Guerra Mundial, aumentando ainda mais a crise na Espanha. Para saber mais: Guerra Civil Espanhola e A Guerra Civil na Espanha

Se você gostou de A Sombra do Vento, ode gostar também de:

  • A menina que roubava livros – Markus Zusak
  • Histórias Extraordinárias – Edgar Allan Poe
  • O jogo do anjo – Carlos Ruiz Záfon

domingo, 5 de setembro de 2010

A Rainha do Castelo de Ar

 

the girl who kicked Com mais de 15 milhões de exemplares vendidos no mundo, a trilogia Millennium é uma das mais bem-sucedidas séries policiais dos últimos anos, e já conta com uma versão cinematográfica prevista para estrear no Brasil. Quer seja tratando da violência contra as mulheres, quer seja enfocando os crimes cometidos por magnatas ou pelo Estado, a saga cumpre sua principal missão: a de nos prender numa leitura envolvente, cheia de mistérios.
Neste terceiro e último volume da série, Lisbeth Salander se recupera, num hospital, de ferimentos que quase lhe tiraram a vida, enquanto Mikael Blomkvist procura conduzir uma investigação paralela que prove a inocência de sua amiga, acusada de vários crimes. Mas a jovem não fica parada, e muito mais do que uma chance para defender-se, ela quer uma oportunidade para dar o troco. E agora conta com excelentes aliados. Além de Mikael, jornalista investigativo que já desbaratou esquemas fraudulentos e solucionou crimes escabrosos, no mesmo front estão Annika Giannini, advogada especializada em defender mulheres vítimas de violência, e o inspetor Jan Bublanski, que segue sua própria linha investigativa, na contramão da promotoria.
Com a ajuda deles, Lisbeth está muito perto de desmantelar um plano sórdido que durante anos se articulou nos subterrâneos do Estado sueco, um complô em cujo centro está um perigoso espião russo que ela já tentou matar. Duas vezes.
"A Rainha do Castelo de Ar" enfoca de modo original as mazelas da sociedade atual, tendo conquistado um lugar único na literatura policial contemporânea.

 

Lisbeth vai à forra nesta última parte da Trilogia Millenium. Após sofrer diversos abusos por parte da família e das autoridades suecas, ela parte para o ataque. E podem se preparar, porque uma vez que essa baixinha começa uma coisa, ela vai até o fim.

O livro começa exatamente onde A menina que brincava com fogo termina. Após quase morrer, Lisbeth se recupera no hospital, e está presa, acusada de vários crimes. Ela está isolada em seu quarto, e nem imagina que há uma terrível conspiração para mantê-la presa em um sanatório para o resto da vida. Mas se por um lado há uma porção de gente conspirando contra ela, também há um outro contingente brigando por ela.

Dentre estes, claro, está seu fiel amigo Mikael Blomkvist. Incansável, Blomkvist arriscará tudo até provar a inocência de nossa querida hacker. E, no meio do caminho, não é que o ladies man acaba encontrando uma mulher que o dome? Só que Blomkvist também estará em perigo mortal ao tentar ajudar Lisbeth.

Mais personagens interessantes aparecem no desfecho da trilogia, como a advogada Annika Giannini. Irmã de Blomkvist, ela é persuadida por este a defender Lisbeth. E tenho que dizer que eu não dava muito crédito a ela. Inicialmente relutante a representar Lisbeth, Giannini se mostra à altura do desafio, e surpreende a todos com sua sagacidade.

Outra personagem de destaque é Monica Figuerola, uma inspetora da polícia secreta sueca, viciada em malhação e que encontra em Blomkvist o maior desafio que teve na vida. Destemida, ela entra na investigação contra os conspiradores dentro da polícia secreta, que inclui vários homens poderosos, sem pestanejar.

Erika Berger, amante de Blomkvist, é que parece estar meio deslocada na trama, após sua saída de Millenium. Mas o que acontece é que ela também acaba sendo vítima de um stalker, numa trama paralela que pode acabar com sua vida. E ela mostra um lado desconhecido até então.

Destaque ainda para Ian Bublanski, detetive da polícia sueca que Não tem medo de enfrentar figurões do alto escalão do governo e segue numa investigação paralela sobre o verdadeiro assassino de Dag Svensson e sua namorada Mia no livro anterior. Ajudando o Inspetor Bubble está  Modig, uma mulher corajosa e incansável, que não descansa até que se faça justiça.

A ação deste último volume da série se desenrola um pouco mais devagar que nos outros dois, e é preciso prestar muita atenção a todas as traições que acontecem no desenrolar do livro, para não se perder no meio de tanta sujeira. E demora um pouco para que a história engrene. Mas vale à pena, porque o final é simplesmente uma delícia de se ler. Os fãs da série não irão se decepcionar com o desfecho. Uma trama de espiões para Jason Bourne nenhum, botar defeito

Trilha sonora

In the end, do Linkin Park, é perfeita (in the end, it doesn’t even matter). Won’t get fooled again, do The Who, também.

Se você gostou de A Rainha do Castelo de Ar, pode gostar também de:

  • Os homens que não amavam as mulheres – Stieg Larsson
  • A menina que brincava com fogo – Stieg Larsson
  • coleção Jason Bourne – Robert Ludlum ( incluindo os 3 filmes)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Mão Esquerda de Deus

 

Mão Esquerda “Preste atenção.O Santuário dos Redentores no Penhasco de Shotover deve seu nome a uma grande mentira, pois há pouca redenção naquele lugar e ele tampouco serve de refúgio divino.”

O Santuário dos Redentores é um lugar desolador. Um lugar onde a esperança e a alegria não são bem-vindas. A maior parte dos meninos que habitam o lugar foi levada para lá muito nova e contra a vontade. Eles padecem sob o regime opressor dos Lordes Redentores, cuja violência e crueldade têm como único propósito honrar a memória do Redentor Enforcado – e passam suas vidas prisioneiros dos corredores labirínticos e tortuosos do Santuário, um lugar com séculos de história e segredos, e que ninguém conhece por completo…

No meio de um desses corredores há um menino. Talvez ele tenha 14 anos, talvez tenha 15: ninguém sabe ao certo. Lá dentro, é chamado de Thomas Cale. Seu verdadeiro nome, já esqueceu há muitos anos. Ele já esqueceu de tudo de sua antiga vida. Em breve, será a testemunha de um ato horrendo. E é neste momento que começará a sua extraordinária vida futura.

CONHEÇA O ANJO DA MORTE

Já fazia tempo que eu queria ler este livro. Eu via a capa nas livrarias, pegava na mão, mas acabava deixando no lugar. Mas foi mais forte que eu. Ele me chamava, e acabei comprando, e, sem demora, comecei a ler. E nem precisou muito para eu ficar viciada.

É impossível não ficar tocada pela história dos três meninos, Thomas Cale, Henri Embromador e Kleist, submetidos a todo tipo de crueldade da parte dos Redentores. Sua vida miserável no Santuário, o clima sombrio com que têm que conviver e que os obriga a crescerem rápido. Ao mesmo tempo, sua inocência é surpreendente, e é fascinante ir descobrindo o mundo junto com eles.

Meu preferido, claro, é Cale, o mais desajustado dos três. Sombrio e calado, Cale tem bons motivos para desconfiar de tudo e de todos. Ele sabe que é especial, só não sabe porque, ou o que os Redentores querem com ele. E se por um lado é impiedoso e sanguinário, ele também é inocente e puro. Não demonstra suas emoções, e é difícil saber o que se passa pela sua cabeça. E ele parece perfeitamente à vontade com essa dualidade: sim, ele é assustador, mas ao mesmo tempo há uma ternura nele. É inteligente e absorve tudo a sua volta, usando o conhecimento em seu benefício e dos que o rodeiam, apesar de não querer demonstrar essa preocupação.

Seus amigos de Santuário, Henri Embromador e Kleist (embora este último não reconheça Cale como amigo), igualmente embrutecidos pela vida dura do Santuário, acompanham Cale em sua fuga, e provam ser verdadeiros amigos. Henri é o mais curioso dos três, e por isso mesmo, o mais criança (considerando as circunstâncias), e seu deslumbramento diante das garotas é cativante. Mas não se engane: por trás de seu jeito meigo (na medida do possível) esconde-se uma mente calculista e afiada. Kleist é mais cético e também o mais prático do trio. Se algo não está de acordo, livre-se disso é seu lema. Só que ele não é ouvido por Cale, e por isso (e talvez também um pouco de inveja, embora provavelmente não saiba o que é isso) ele se ressente um pouco de Cale.

Destaco ainda IdrisPukke, o simpático vagabundo que se coloca em encrencas aonde quer que vá, e que tem um senso de humor autodepreciativo fantástico. Sua visão de mundo é peculiar, e ele passa a ser uma espécie de mentor para Cale. Vipond, o chanceler de Memphis, que tem algum objetivo escuso para Cale, e o usa em benefício próprio. Também Simon Materazzi, um rapaz surdo e mudo, mas que esconde uma inteligência superior, e que se torna um admirador fanático de Cale e seus amigos.

Do lado das meninas, Arbell, objeto de adoração de Cale. Inicialmente fútil e arrogante, ela acaba se mostrando uma mulher corajosa, e aposto que sofrerá horrores por isso nos próximos volumes. E Riba, a fã número 1 de Cale, desde que este a salva no Santuário. Ela é uma lufada de ar, e podem acreditar que ela ainda terá um papel fundamental na trama.

Admito que tive um pouco de dificuldade de determinar o tempo em que se passa a história. Algumas vezes, me parece ser totalmente medieval, outras, no entanto, parece se situar nos dias atuais. E o ambiente de desolação se reflete nos lugares, áridos e desolados. Com exceção de Memphis, que lembra uma cidade vibrante e cheia de vida, com os lados bons, e também os mais terríveis de qualquer metrópole.

Uma leitura fascinante, e que mostra uma perversão religiosa intrigante (que, claro, foi isso mesmo que me atraiu), que deixa o leitor ansioso pela continuação (tomara que não demore!).

Trilha sonora

Para começar, uma música que eu adoro, Buddha for Mary, seguida por From yesterday e Story of my life, todas do 30 seconds to Mars (já falei o quanto eu amo essa banda?). As duas últimas caem direitinho para Cale, enquanto a primeira é dedicada aos Redentores. Também Send the pain below, do Chevelle, Live and let die, com o Guns, The unforgiven, Metallica.

Curiosidade

A crueldade e o fanatismo dos Redentores lembram a Inquisição, que na Idade Média, matava qualquer um que pensasse diferente da Igreja, sob a acusação de heresia e adoração ao diabo.

Se você gostou de A Mão Esquerda de Deus, pode gostar também de:

  • O nome da rosa (o filme pelo menos. Não li o livro) – Umberto Eco
  • Mundo Sem Fim – Ken Follett
  • coleção Dexter – Jeff Lindsey

 

E por falar em filme, bem que A Mão Esquerda de Deus daria um bom filme. O autor é roteirista, então quem sabe? E para quem gostou do livro, recomendo também a série Dexter, um serial killer justiceiro. Humor negro da melhor qualidade.