Mundo de Tinta é um universo onde ficção e realidade se confundem e também o nome da trilogia iniciada com o best-seller Coração de tinta, seguida de Sangue de tinta e que chega agora ao fim com Morte de tinta. Nesse universo, um "língua encantada" é alguém que, ao ler uma história em voz alta, tem o poder de trazer o mundo dos livros para a realidade, assim como viajar ele mesmo, e levar quem estiver por perto, para o mundo fantástico da palavra escrita. É o que aconteceu com Mo, um encadernador de livros, e sua família, quando um dia, ao ler em voz alta seu livro favorito - Coração de tinta -, ele manda a mulher para o mundo da ficção, trazendo em seu lugar alguns vilões da trama. Mo e sua filha Meggie acabaram transitando entre essa fronteira; viveram um bocado de aventuras nessas viagens e conheceram milhares de personagens incríveis - muitos deles malvados até a alma. Desta vez, com a ajuda de Dedo Empoeirado, Farid, Resa e Violante, Mo enfrenta o mais terrível de todos os vilões, o Cabeça de Víbora, numa batalha final, de vida ou morte. Mas, antes dela, personagens já conhecidos dos livros anteriores vivem suas aventuras. Fenoglio, o autor de Coração de tinta, tem que combater Orfeu, plagiador que se utiliza de passagens de seu livro para reescrever e manipular a história. Meggie, ao se apaixonar por Farid, se depara com as alegrias e decepções do primeiro amor. Resa, mãe de Meggie, traz em seu ventre um novo herdeiro. E Mortimer, nosso herói, que no Mundo de Tinta assume a personalidade do Gaio, espécie de Robin Hood, tem que lutar contra o próprio personagem que interpreta, já que pouco a pouco começa a se confundir com ele e a se esquecer de quem é no mundo real.
Como já disse, ainda bem que minha amiga me emprestou Morte de Tinta, porque eu não ia conseguir esperar muito pra ler. E devorei. Era difícil largar. Eu não via a hora de chegar em casa para ler. E, no final, fiquei enrolando porque não queria acabar.
Agora todos estão no Mundo de Tinta, e Mo finalmente mostra do que é capaz. Assumindo o papel do Gaio, ele agora tem que lutar contra o acordo que tinha feito com Cabeça de Víbora no livro anterior. E acaba revelando que ao fazer o acordo tinha um plano. Ele só não contava com a Morte interferindo, e agora ele tem que lutar também por Meggie. Ele está bem diferente dos outros livros, quase não dá pra reconhecê-lo, mas confesso que eu prefiro ele assim. Ele aprendeu a matar, e pegou gosto na coisa. Virou um verdadeiro soldado. Admito que às vezes dá até medo. Mas é uma delícia ver Mo desse jeito. E ele está ainda mais aterrorizador, porque já enfrentou a morte, e não tem medo dela. Tem medo por Meggie, mas ele mesmo não.
Dustfinger também volta, com um tremendo upgrade. E, se eu já gostava dele, agora gosto mais ainda. Ele continua sarcástico e enigmático, mas trouxe alguns truquezinhos bem legais da terra dos mortos. E, como Mo, não tem medo da morte. Como ele mesmo faz questão de mostrar a seus inimigos. Uma coisa não mudou: seu amor por Roxane. E acho que isso está até mais forte.
Meggie começa a sofrer as primeiras dores do amor. Apaixonada por Farid, ela vai ter uma baita decepção. E bota confusão na cabeça da garota. Além de Farid, ela também estraçalha o coração de Doria, um garoto que faz parte do bando dos ladrões (embora ele não seja um). E sua cabeça dá um nó. Ela está mais madura, e demonstra isso, para desolação de Mo e Resa. E também mostra que é tão teimosa como Mo. Ela é bem geniosa, o que ainda não tinha aparecido. E agora, tem muitos motivos para se preocupar. Mesmo nessa bagunça emocional, ela ainda é atenciosa e generosa, como mostra com as crianças.
Farid está mais revoltado, mas no começo ainda sofre muito com a falta de Dustfinger, o que causa muito ciúme em Meggie. Mas ele acaba provando do mesmo veneno quando Doria aparece na vida de Meggie. Agora ele já não é mais o aprendiz, já consegue domar o fogo tão bem como Dustfinger, e esse talento vai ser bem útil nas batalhas. E ela já não está mais tão medroso. Parte pra cima mesmo. Mas também, sofre horrores na casa de Orfeu no começo. Chega a dar pena, mas sua determinação em trazer Dustfinger do mundo dos mortos é grande e faz com que ele suporte tudo.
Orfeu. Taí um cara de dar medo. Ambicioso, ele só faz ler tesouros para si mesmo, e só se alia a quem ele acha que pode lhe trazer mais vantagens. Ele é o responsável por grande parte das reviravoltas desse livro, com seu poder de silver tongue. Para a revolta de Fenoglio. Ele faz tantas mudanças no Mundo de Tinta que não dá pra saber onde a história vai. E também traz a vidas uma das criaturas mais aterrorizantes, capaz até de colocar medo em Dustfinger: o íncubo. E continua arrogante. Só que agora rico, o que é uma combinação perigosa. Tem um ódio desmedido de Mo, mas não fica muito claro porque. E também de Dustfinger, mas esse é por puro despeito. Tudo bem, ele não é mulher, mas se aplica: hell hath no fury like a woman scorned.
Cabeça de Víbora, mesmo enfraquecido pelo ardil de Mo (não vou dizer qual é), ainda é uma ameaça. E continua o mal em pessoa (apesar de eu preferir Mortola, mas ela não aparece muito. Mas quando aparece, pode torcer por uma maldade daquelas). Seu corpo está apodrecendo em vida, mas sua mente continua alerta e sua sede de vingança é imensa.
E Violante tem participação maior. Determinada a derrotar seu pai, ela se alia a Mo e Dustfinger, mas suas intenções nunca são bem claras. Minhas suspeitas sobre ela se confirmaram: ela é mesmo uma mulher forte, escondida sob uma fachada de fragilidade e juventude. Ela comanda todo um pelotão de soldados bem embaixo do nariz de seu pai, e ele não tem ideia até alguém lhe contar seus planos. Mas ela vai sofrer por isso, o que será o grande erro de Cabeça de Víbora (além de aprisionar o Gaio e Dustfinger).
O livro tem um ritmo melhor que os outros dois, mas eu sinceramente esperava mais do final. Alguma coisas Cornelia Funke entrega muito cedo, e pra mim ficou faltando um epílogo. Tudo bem , tem aquela história do nascimento do filho de Mo e Resa, mas ainda assim ficou faltando algo. Ela deixou muitas coisas em aberto. Será que isso significa que podemos esperar mais aventuras no Mundo de Tinta? Espero que sim.
Curiosidade
Como nos outros dois, no começo de cada capítulo há uma citação de algum outro livro: da Godess Rowling (Cálice de fogo), Markus Zusak ( A menina que roubava livros) até Carlos Drummond de Andrade (A procura da poesia). Mas a curiosidade é que no capítulo 7 (Uma visita perigosa), a citação é de Geoffrey Chaucer. Sabia que quem interpretou ele em Coração de Cavaleiro (ai, saudade do Heath Ledger! RIP) foi Paul “Dustfinger” Bettany? E, falando em citações, no capítulo 5 (Fenoglio tem pena de si mesmo), a citação da Godess, Rowling de O Cálice de Fogo, Aqui está bonitinho, mas no capítulo 41 (Imagens feitas de cinzas), o crédito está Harry Potter e o cálice sagrado…Hello! O cálice de fogo não é o Santo Graal! Isso sem contar os erros de português (sela, de cavalo, com “C”). Cadê a revisão do livro?!
Trilha sonora
Claro, de novo Neverending story, do Limahl. Mas também Live and let die, com o Guns (sem desmerecer Paul McCartney, mas com o Guns é melhor) especialmente para o Gaio, e Bleed for me, do Saliva (também trilha sonora de Demolidor – O homem sem medo, que aliás é muito boa), que se aplica a vários personagens. Olha um trecho da letra:
All I ever wanted
was to be at your service
but now I'm alone
cause you were here and you're gone
And all I ever wanted
was to feel I had a purpose
but now that's all gone
E, para Dustfinger e Roxane (e também para Meggie e Farid), On Fire, do Switchfoot:
And you're on fire
When He's near you
You're on fire
When He speaks
You're on fire
Burning at these mysteries
Se você gostou de Morte de Tinta, pode gostar também de:
- coleção Harry Potter – J. K. Rowling
- coleção da Herança – Christopher Paolini
- A História sem fim – Michael Ende
- O trílio negro – Marion Zimmer Bradley
- A dança na floresta – Juliet Marillier
Um comentário:
Aiii!! Que bom que Dedo Empoeirado volta!
Fiquei super triste com a morte dele em Sangue de Tinta!
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