"Não há inocentes. Apenas diferentes graus de responsabilidade", raciocina Lisbeth Salander, protagonista de "A Menina que Brincava com Fogo", de Stieg Larsson. O autor - um jornalista sueco especializado em desmascarar organizações de extrema direita em seu país - morreu sem presenciar o sucesso de sua premiada saga policial, que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo.
Nada é o que parece ser nas histórias de Larsson. A própria Lisbeth parece uma garota frágil, mas é uma mulher determinada, ardilosa, perita tanto nas artimanhas da ciberpirataria quanto nas táticas do pugilismo, que sabe atacar com precisão quando se vê acuada. Mikael Blomkvist pode parecer apenas um jornalista em busca de um furo, mas no fundo é um investigador obstinado em desenterrar os crimes obscuros da sociedade sueca, sejam os cometidos por repórteres sensacionalistas, sejam os praticados por magistrados corruptos ou ainda aqueles perpetrados por lobos em pele de cordeiro. Um destes, o tutor de Lisbeth, foi morto a tiros. Na mesma noite, contudo, dois cordeiros também foram assassinados: um jornalista e uma criminologista que estavam prestes a denunciar uma rede de tráfico de mulheres. A arma usada nos crimes - um Colt 45 Magnum - não só foi a mesma como nela foram encontradas as impressões digitais de Lisbeth. Procurada por triplo homicídio, a moça desaparece. Mikael sabe que ela apenas está esperando o momento certo para provar que não é culpada e fazer justiça a seu modo. Mas ele também sabe que precisa encontrá-la o mais rapidamente possível, pois mesmo uma jovem tão talentosa pode deparar-se com inimigos muito mais formidáveis - e que, se a polícia ou os bandidos a acharem primeiro, o resultado pode ser funesto, para ambos os lados.
"A Menina que Brincava com Fogo" segue as regras clássicas dos melhores thrillers, aplicando-as a elementos contemporâneos, como as novas tecnologias e os ícones da cultura pop. O resultado é um romance ao mesmo tempo movimentado e sangrento, intrigante e impossível de ser deixado de lado.
A princípio, A menina que brincava com fogo não parece que pertence à trilogia Millenium. Lisbeth na praia, no Caribe? Que raio é isso? Mas não se enganem. Mesmo com merecidas “férias”, ela não deixa de lado seu superhipermega computador, e sai fuçando a vida dos hóspedes do quarto vizinho no hotel. Não seria a nossa querida Lisbeth se não fizesse isso. De volta à Suécia, ela se encontra em uma armadilha da qual será difícil escapar. Ela continua a mesma, com a língua afiada, determinada e briguenta. Só que agora sabemos o porque de tanta raiva. E, apesar do título, ainda se trata de homens que não amam as mulheres, o que deixa Lisbeth ainda mais invocada (mal posso esperar para ler o terceiro, em que ela parte para a luta. Sai da frente!).
O que Lisbeth não sabe é que pode contar com amigos fiéis que não duvidam por um segundo sequer de sua inocência. Claro, um deles é Mikael Blomkvist, seu parceiro jornalista de Os homens que não amavam as mulheres. Prestes a publicar mais um artigo bombástico expondo o tráfico sexual na Suécia, o jornalista responsável pelo furo e sua namorada criminologista aparecem mortos. Para piorar a situação, as digitais de Lisbeth aparecem na cena do crime. Sabendo do ódio que Lisbeth tem contra homens que não amam as mulheres (eu sei que está repetitivo, mas essa expressão é irresistível e Lisbeth não seria Lisbeth sem essa característica), Blomkvist fica com a pulga atrás da orelha resolve iniciar uma investigação paralela. Dragan Armanski, o antigo chefe de Lisbeth, também. E ainda aparece um boxeador aposentado, claro, um dos mais improváveis (mas de algum modo, muito lógico) amigos de Lisbeth. Todos convencidos de que, apesar de ter tendências violentas (sempre justificadas, e todas muito boas de ler), Lisbeth não seria capaz de assassinato.
Também ficamos sabendo um pouco mais sobre Lisbeth, e no final uma revelação surpreendente sobre o passado dela, e finalmente descobrimos o que “All The Evil” (claro que não vou mencionar o que é). Lisbeth tinha tudo para se tornar vítima, mas, muito pelo contrário, ela é batalhadora, e não se sente confortável no papel de vítima.
Confesso que, por causa do começo tão diferente do que eu esperava, demorei um pouco para engrenar no livro, mas depois é difícil de largar. Como no primeiro, não é para quem tem estômago fraco. Esse é ainda mais violento, e também achei que as cenas de sexo são um pouco mais ousadas (sem ser vulgares. Afinal, o autor não é Nora Bing).
E, se eu achava que a tal família Vanger é complicada, é porque ainda não tinha lido o segundo. Os bad guys desse são bem piores. Continuam sádicos e brutais, mas também lucram com isso. E o tal gigante é intrigante, e assustador. Bem parecido em certos sentidos com Silas, o albino masoquista de O Código Da Vinci. Fico imaginando quem vão escalar para o filme.
Um aviso: é preciso ler o primeiro antes, senão algumas coisas ficam meio perdidas. Não que elas sejam importantes para a trama, mas o leitor pode ficar se perguntando: ué, de onde saiu isso? Uma leitura muito boa e, apesar do tema ser pesado, agradável.
Trilha sonora
Burn, do Deep Purple (claro) e também Everything burns, com Anastasia e Ben Moody (uma parceria improvável, mas que deu muito certo. é trilha de Quarteto Fantástico e é pena que não é uma música conhecida. Para quem quiser conferir:Everything burns). Também Assassin, do Muse e a ótimaThe kill, do 30 seconds to mars
Se você gostou de A menina que brincava com fogo, pode gostar também de:
- O Código Da Vinci – Dan Brown
- Anjos e Demônios – Dan Brown
- A rainha do castelo de ar – Stieg Larsson
- Os homens que não amavam as mulheres – Stieg Larsson
- Nada dura para sempre – Sidney Sheldon
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