sábado, 19 de julho de 2014

Dois para Conquistar – Marion Zimmer Bradley

 

dois para conquistarQue aconteceria se dois objetos absolutamente idênticos em forma e substância fossem reunidos? Este é o pivô deste romance passado durante os dias inflamados do final da Era do Caos. Da época em que Darkover estava dividido em Cem Reinos em guerra e a civilização oscilava à beira do esquecimento.

Cumprindo a minha promessa a mim mesma de reler e resenhar os livros de Marion, especialmente a série Darkover, vim com mais um volume da série. Dois para Conquistar se situa na Era dos Cem Reinos, e ocorre umas centenas de anos depois de Rainha da Tempestade e A Dama do Falcão (aliás, se você não conhece  a série Darkover, recomendo ler as resenhas anteriores, em ordem, porque eu explico um pouco sobre ela). O planeta se encontra dividido em diversos pequenos reinos, como diz o nome da era, e guerras de fronteiras e políticas assolam todo o mundo do Sol Sangrento. E também preciso me corrigir em uma coisa: a trilogia Clingfire, que eu mencionei em Rainha da Tempestade, na verdade ocorre nesta época dos Cem Reinos, e não na Era do Caos. Na verdade, tanto ele como este situam-se num período de transição.

Sim, a terra é assolada por guerras de poder, muitas ainda envolvendo a tecnologia de matriz, com suas armas de longo alcance e letalidade total. E com este cenário como pano de fundo, estamos nas Astúrias, reino que pertence aos Di Asturien. Mas há também uma tentativa de unificação dos reinos sob um único estandarte, e no caso esse estandarte é o dos Hastur, a família que se diz descendente direta dos deuses Hastur e Cassilda, e que é a mais poderosa de Darkover. Neste panorama cresce Bard, filho bastardo de Dom Rafael di Asturien. Bard é criado na corte, sob tutela do irmão de Dom Rafael (que eu não me lembro agora como se chama), e tem na verdade todas as regalias dadas a um príncipe e herdeiro legítimo. Só que Bard na realidade é um personagem detestável. É misógino e machista, belicoso ao extremo, só está feliz durante a guerra, orgulhoso e paranoico e possessivo ao extremo. E essa combinação não é nada boa.

E Bard é o narrador da história, então a maior parte da narrativa se passa na cabeça dele. Ele acha que todo mundo deve algo a ele, e que tudo que dá errado em sua vida é por culpa de alguém, menos dele e de seu temperamento violento. Veja bem, Bard se acha na verdade vítima de seu pai por ser filho bastardo. E quando a mão da princesa Carlina, filha do rei das Astúrias e sua prima, ele acha que ela é sua posse. Aliás, é assim que Bard vê todas as mulheres que passam em sua vida. E ele tem um laran péssimo, que faz com que ele use compulsão para que elas façam sexo com ele. Sim, pessoas, Bard é um estuprador serial, e o pior, nem se dá conta disso. Acha que todas as mulheres no fundo querem ser dominadas. E quando ele acaba tentando forçar Carlina a ceder (porque na cabeça de Bard, estar noivo dela equivale a ser marido, e dá o direito de possui-la), e ele acaba cometendo uma atrocidade e é banido das Astúrias por sete anos, ele vai para o norte, nas colinas Kilghard e se torna um mercenário conhecido como Lobo. E o tempo em exílio só fez o temperamento de Bard piorar. E não se reocupem, ele vai ter o que merece, mas não vou falar sobre isso, pra não dar spoiler.

Mas, nada dura para sempre, e quando o velho rei que sentenciou o exílio morre, Bard retorna a sua casa. E ainda obcecado pela ideia de Carlina (isso é importante. Na realidade, Bard não a deseja, ela não é o seu tipo, mas sim uma peça para sua ambição) e agora que seu irmão Alaric é rei das Astúrias e seu pai o regente, Bard é elevado a lorde comandante do exército. Esqueci de dizer que o velho rei morreu com um filho pequeno, que sua mãe leva para longe, fugindo da guerra, por isso Alaric sobe ao poder, mas na verdade é seu pai, Dom Rafael, quem governa (qualquer semelhança com Westeros e um certo Usurpador não é mera coincidência). E lembra que eu disse que há uma tentativa de unificar todo o mundo sob um único rei, um Hastur. Pois então, Dom Rafael (e ele não está sozinho nisso) não aceita, ou melhor, ele até acha que a unificação é uma boa ideia, mas desde que seja com ele no comando.

Esse pacto na verdade implica mais do que isso. Depois dos horrores produzidos pelas torres, como o fogo aderente e a água de ossos, que matam à distância e condenam inocentes na guerra pelo poder, Varzil de Neskaya quer propor o banimento das armas produzidas pelo laran. E sim, a unificação para se certificar de que isso aconteça. E esse é um ponto delicado, porque se eu não tenho fogo aderente, mas meu vizinho tem e me ataca com ele, como eu vou me defender? E enquanto alguns já aderiram ao pacto, sob a tutela dos Hasturs, outros ainda não. E para ajudar na estratégia de conquistar todo o mundo, Dom Rafael elabora um plano ousado, e potencialmente perigoso. Através de tecnologia de matriz, ele busca a cópia exata de Bard. E ela vem de muito longe.

A cópia atende pelo nome de Paul Harrell, e é um terráqueo. Só que Paul é um criminoso, e está em sono suspenso como punição. Porque Paul não é só a cópia física de Bard, mas também é exatamente o mesmo homem que Bard é, só que em outro lugar. Ou pelo menos, é isso o que dizem, Porque para mim, Paul até pode ser assim, mas depois que acorda em Darkover, ele é outro home, bem diferente de Bard. É mais comedido, não é orgulhoso, e mais humilde e menos selvagem que Bard. E o objetivo do velho ao trazer Paul é que ele possibilite que Bard, que é um excelente estrategista militar, possa estar em dois lugares ao mesmo tempo, e assim, dividir o exército, e assegurar a vitória.

Dois para Conquistar é um dos poucos livros de Marion que não tem uma mulher como protagonista, mas isso não quer dizer que elas não estejam presentes e que não desempenhem papel crucial na trama. A começar por Carlina, que é uma princesa, mas não é mimada, é forte e decidida, e não quer casar com Bard, nem com ninguém. Ela é inteligente e independente, e segue seu próprio caminho, sem que ninguém a detenha. Não é uma conformista. Não posso falar mais dela senão dou spoilers, mas ela tem papel fundamental no final.

Também Melisendra, uma leronis que se preservava virgem para a Visão, mas que acaba compelida por Bard e é a mãe de seu filho. Melisendra é outra mulher forte, decidida, e acaba desarmando Bard com suas atitudes. Ela acaba se envolvendo com Paul, e é extremamente compassiva. Ela passa horrores, mas ainda é capaz de perdoar. E a voz da razão no livro vem de Melora, irmã mais velha de Melisendra, leronis de Neskaya. Ambas são inteligentes e piedosas, independentes e senhoras de si. Só elas entendem Bard, e conseguem lhe mostrar um pouco de misericórdia.

O livro é muito bem narrado, a história prende, mas confesso que passar muito tempo na mente de Bard é terrível, devido à forma como ele vê as mulheres. E Marion conseguiu se desprender totalmente e construir um Bard muito complexo. Neste, em vez de aventuras com em A Dama do Falcão, vemos mais tramoias políticas e trapaças, mas isso tudo faz parte de Darkover, um mundo tão fascinante e tão cheio de nuances como Westeros. Ainda prefiro os romances da Era do Caos, mas de modo geral, Darkover é viciante. Ficção-científica de primeira, mesclada com fantasia. Se você não conhece ainda, vá atrás.

Trilha sonora

This is War, do 30 seconds to Mars é perfeita, em tudo, inclusive pela letra (a warning to the people, the good and the evil, this is war). Seven devils, Florence and the Machine também. Monster e Demons, Imagine Dragons (Coração vermelhoCoração vermelhoCoração vermelho) e Somebody else´s song, do Lifehouse (mais Coração vermelhoCoração vermelhoCoração vermelho).

Se você gostou de Dois para Conquistar, pode gostar também de:

  • série Darkover – Marion Zimmer Bradley;
  • As Brumas de Avalon – Marin Zimmer Bradley;
  • O incêndio de Tróia – Marion Zimmer Bradley;
  • O Trílio Negro – Marion Zimmer Bradley;
  • As Crônicas do Gelo e do Fogo - George R. R. Martin;
  • O Senhor dos Anéis – J. R. R. Tolkien.

2 comentários:

Nadia Viana disse...

Oi, Fê. Sou louca pra ler a série Darkover. Eu consegui um volume no skoob e vou tentar trocar por outros ou achar em sebo porque os poucos a venda são bem caros. Seria bom se relançassem. Parece muito legal!
Beijos.

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Na!

Você vai gostar. Procura mesmo em sebo, porque faz bastante tempo que eu não vejo em livrarias, só encontro dela os de Avalon. E como você quer ler em inglês, tem vários que não foram lançados aqui, mas se procurar bastante você acaba encontrando.

Beijo!