quarta-feira, 10 de julho de 2013

1356 – Bernard Cornwell

 

1356Setembro de 1356. Por toda França, propriedades estão sendo incendiadas e pessoas estão em alerta. O exército inglês — liderado pelo herdeiro do trono, o Príncipe Negro — está pronto para atacar, enquanto franceses e seus aliados escoceses estão prontos para emboscá-los. Mas e se existisse uma arma que pudesse definir o desfecho dessa guerra iminente? Thomas de Hookton, conhecido como o Bastardo, recebe a tarefa de encontrar a desaparecida espada de são Pedro, um artefato que teria poderes místicos para determinar a vitória de quem a possuísse. O problema é que a França também está em busca da arma, e a saga de Thomas será marcada por batalhas e traições, por promessas feitas e juramentos quebrados.

Já começo essa resenha com uma bronca na edição brasileira. Nem sei se já saiu, mas já sai com erro grotesco na capa. Acho que quem leu a Trilogia A Busca do Graal, e sabe o final de O Herege vai sacar de cara. E se você não leu, vou dizer logo: apesar de a história ser com Thomas de Hookton, este não é o livro IV da Busca do Graal. É uma história independente. E, como eu disse, quem leu a trilogia sabe que é impossível ser continuação. Erro grotesco, mesmo que seja golpe de marketing. Errado, e pior, que reflete muito mal na própria editora para os fãs que acompanham Cornwell. E mais que isso, se você leu com atenção a sinopse aí em cima, já viu que desta vez Thomas e cia. estão atrás de OUTRA relíquia da Igreja, portanto não estão atrás do Graal. Como eu disse, mesmo sendo jogada de marketing, foi um erro grotesco e reflete mal na própria editora.

Desabafo à parte, desde que saiu eu já estava louca para ler. E me dei o livro de Natal. Desde então ele estava ali, me chamando. E com Thomas de Hookton, meu arqueiro favorito (fora o Oliver, mas o Oliver eu só conheci depois), claro que eu tinha que ler.

Este se passa cerca de 10 anos depois de O herege, Thomas agora é conhecido como Le Batard, o Bastardo, mas ainda lidera os Hellequin, seu grupo de foras da lei e serve o conde de Northampton. Ainda é casado com Genevieve e agora a família cresceu. Eles tem um filhinho chamado Hugh. Ele vive na França, ainda em Castillon d´Arbizon, sua base, e é protegido pelos próprios camponeses, pois Thomas os trata bem. Thomas também está rico, e leva uma vida boa. Ele agora, mais velho e pai de família, está mais cuidadoso, mas ainda não leva muito a sério a Igreja. Até que ele recebe a incumbência de encontrar a tal espada de São Pedro, também conhecida como La Malice, mencionada na sinopse. Claro que Thomas vê essa relíquia com certo ceticismo, mas não tanto depois do Graal. Só que ele vai atrás do mesmo jeito.

Antes porém, Thomas aparece a serviço do Conde de Labrouiellade, para resgatar sua esposa Bertille, que fugiu com o amante. Mas nem bem a missão está cumprida Thomas se arrepende, porque percebe que o conde é um verme (pra não dizer outra coisa) e se acha no direito de fazer o que bem quer só porque tem dinheiro. E, adivinha, nessa, Bertille acaba indo embora com Thomas. Dessa vez nem tanto por causa dele, mas por causa de Genevieve, que havia partido com Thomas, acaba se apiedando e se identificando com a moça.

Bertille é uma jovem de uns 20 anos, talvez menos, e uma beldade. Mas está condenada a ficar casada com o conde, que é um homem cruel (vou poupar os detalhes, mas digamos que esse conde e Ramsay Bolton seriam BFF´s) e, pior, orgulhoso. E quando sua esposa escolhe ir com Thomas e seu bando, claro que ele não leva numa boa, e assim Thomas ganha mais um inimigo. Bertille também vai ser importante por outro motivo, mas não vou falar porque ainda.

Fora Thomas e Genevieve, só quem eu me lembro do bando dele que está nos livros anteriores é Sam. Ele quase não aparece neste, mas agora é o segundo em comando de Thomas, e quando ele aparece, pode apostar que as coisas estão feias. E as poucas aparições dele são importantes.

Outro que reaparece é Robbie Douglas, o amigo escocês de Thomas. Depois de quase morrer pela peste, ele retorna a seus parentes, em especial um tio nobre que está na França só mesmo para matar ingleses. Robbie continua ingênuo e facilmente manipulável. É assim que ele acaba a serviço da Ordem dos Pescadores, uma ordem de soldados mais ou menos de elite (eu já explico) dedicada a encontrar e proteger a espada de São Pedro (mais ou menos como os Templários para o Graal). Mas na verdade, é só um grupo de soldados que lutam a favor dos padres corruptos (leia-se Cardeal Bessières e seu novo BFF, Marchant. Já falo dele) que querem a relíquia para si, e consequentemente o poder também. E, com a promessa de purificar sua alma, Robbie acaba entrando nessa contra Thomas, quebrando seu juramento (esqueci de dizer que o cardeal diz que o juramento a um herege não é válido, e encoraja Robbie a quebrá-lo) de não lutar contra ingleses do final de O Herege. Mas é só participar da primeira missão que Robbie se arrepende e se bandeia novamente para ao lado de Thomas. Como eu já havia dito, Robbie é ingênuo, e os outros acabam tirando vantagem dele.

Outro membro da Ordem dos Pescadores é Roland de Verrec, um cavaleiro francês muito habilidoso e temido nas arenas de justas. Um detalhe: ele é virgem. E é a esse fato que ele credita sua habilidade. Também ao fato de ele alegar ter visto a virgem em uma visão quando pequeno e que ela disse que ele deveria se manter puro até casar. Assim, claro que ele é devoto. Só que como Robbie, ele também é muito ingênuo, e depois dessa mesma missão que em que Robbie foge, ele também. Não exatamente pelos mesmos motivos. Sim, ele discorda do que o cardeal e o padre Marchant fazem, que é puro sadismo e ganância, mas também porque ele conhece Bertille. Daí, ele sabe que sua pureza está com os dias contados. E como Bertille está contra os franceses, pois entre eles se encontra seu marido, e porque ela se sente protegida junto a Genevieve e Thomas, Roland acaba trocando de lado. Mas ele não luta pelos ingleses em si, mas por Bertille. Ele ainda é francês até o fim. Ele é um personagem interessante ainda porque ele pode ser temido e habilidoso nas justas, mas não sabe nada de guerra de verdade, e se decepciona quando aprende o que é. Ele tem um belo choque de realidade, e Bernard Cornwell sabe descrever isso brilhantemente.

E falta eu destacar mais um personagem amiguinho de Thomas. Keane, um irlandês abastado estudando na França para ser médico, se não me engano (isso ou para ser padre). Keane aparece primeiro como inimigo de Thomas, mas logo se percebe que não é bem por aí. E ele acaba sendo importante numa parte, salvando Thomas de forma bem nojenta (acho que Jean Valjean e o conde de Monte Cristo ficariam orgulhosos). Keane é um jovem de uns 21 anos, bem humorado e ávido por aprender a ser soldado. Arqueiro, na verdade.

Do outro lado, como eu já disse, está o cardeal Bessières, que alimenta o desejo de vingança contra Thomas desde que este matou seu irmão. Ele continua ávido por poder, agora alimentando o sonho de ser papa. E para isso conta com a espada de São Pedro. E junto com ele padre Marchant, um homem alto, de frios olhos verdes. Outro sádico. O grande erro deste é se meter com a mulher de Thomas. Além dele há o conde de Labrouiellade, mas dele eu já falei.

Tudo é muito bem descrito, desde a ambientação até as batalhas, e como sempre, sangrentas e dinâmicas. Neste, Bernard Cornwell retrata com o realismo característico a batalha de Poitiers, onde mais uma vez o exército inglês se encontrava absurdamente em desvantagem numérica, mas mesmo assim consegue uma vitória improvável. Este é um dos numerosos conflitos da Guerra dos Cem Anos, e se há uma continuidade entre este livro e a trilogia do Graal (fora os personagens) é que ambos fazem parte dessa guerra, chegando até Azincourt (para quem não sabe, apesar do nome, a Guerra dos Cem Anos durou na verdade mais, se não estou enganada, por volta de uns 120 anos). A narrativa é prazerosa, e se alterna entre os personagens, sendo que o foco principal sempre é Thomas. O livro é dividido em 4 partes, e a mais legal pra mim, a que deslanchou a leitura, é a segunda. Recomendadíssimo, mas tenha em mente que não tem nada a ver com a Busca do Graal.

Trilha sonora

Breath of life (whose side am I on, whose side am I?), do Florence and the Machine pe perfeita.

Curiosidade

Príncipe NegroLutando pelos ingleses em Poitiers, em sua batalha mais significativa está Eduardo, Príncipe de Gales, também conhecido como o Príncipe Negro. Herdeiro de Eduardo II, depois da vitória em Poitiers, ele retorna à Inglaterra. Não se sabe porque de seu apelido, o mais provável é que se deva à cor de sua armadura, segundo Cornwell na nota histórica no final do livro. Pelo que consta, Eduardo é o oposto de sombrio. E causou certo rebuliço ao casar-se por amor com Joana de Kent, o que era incomum numa época em que os casamentos eram vistos como uma forma eficaz de aliança política. Saiba mais aqui - Eduardo, Príncipe Negro. Mas o que me chamou mesmo a atenção é que ele está em Coração de Cavaleiro. E muito bem interpretado por James Purefoy. É ele que depois descobre que a família de William é nobre e assim William pode lutar nas justas.

Se você gostou de 1356, pode gostar também de:

  • As Cônicas de Artur – Bernard Cornwell;
  • trilogia A Busca do Graal – Bernard Cornwell;
  • As aventuras de Sharpe – Bernard Conrwell;
  • O condenado – Bernard Cornwell;
  • Stonehenge – Bernard Cornwell;
  • Azincourt – Bernard Conrwell;
  • As Crônicas Saxônicas – Bernard Cornwell;
  • As Crônicas do Gelo e do Fogo _ George R. R. Martin;
  • Os Pilares da Terra – Ken Follett;
  • Mundo Sem Fim – Ken Follett;
  • coleção O Imperador – Conn Iggulden;
  • coleção O Conquistador – Conn Iggulden.

10 comentários:

Nadia Viana disse...

Ahhh eu quero esse livro, Fê! Mas acho que vou ter que reler a trilogia primeiro. Socorro. Não dá pra ler tudo o que eu quero! :)
Vacilo esse erro deles hein! Só pra vender mesmo.

Beijos.

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Na!

Olha, não é necessário reler a trilogia antes. O mais importante é mencionado nesse. Mas se voc~e quiser entender melhor, eu recomendo.

Vacilão mesmo esse, e uma estratégia de marketing péssima, porque passa como relaxo e não profissionalismo.

Beijos!

Jéssica Soares disse...

Oi, Fernanda! Tudo bem? Eu ia perguntar exatamente isso, se é necessário ler a trilogia para ler 1356... Vou ler o primeiro livro agora nas férias, espero terminar logo para comprar o meu exemplar de 1356. Agora eu sou muito suspeita para falar do Bernard viu haha Acho ele incrível e assim que eles anunciaram um novo livro do autor aqui no Brasil, eu comecei a pipocar de felicidade hehe Pena que a editora cometeu esse baita erro heim... De qualquer forma, fiquei empolgada! Bjão e bom fim de semana!
Jéssica - http://lereincrivel.blogspot.com.br/

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Jéssica!

Você vai ler rapidinho, você vai ver. Essa trilogia é muito legal também, como a de Artur.

Eu também sou suspeita pra falar dele, porque ele é GRRM são meus autores preferidos. E Rowling, claro.

Beijos!

Vagner Fonseca disse...

Fernanda,

Acho que no filme Coração de Cavaleiro, ele não "descobre" que ele é nobre, ele diz que Willian é e acabou. Ele diz: "Meus historiadores descobriram que Willian descende de uma antiga linhagem real, e essa é a minha palavra, portanto, acima de contestação..."

Foi aí que me amarrei mais no ator e no personagem... tipo é isso e acabou a história.

Vou ler esse livro, graças a sua resenha me despertou interesse. Por isso sou leitor assíduo do seu site e sempre que posso recomendo ele.

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Vagner!

Acho que é bem por aí mesmo, eu digo que é nobre, e ponto final! Eu adoro esse filme, mas agora sempre que vejo me dá uma pontada no coração. Mas sabe que quando via antes n]ao dava muita coisa por James Purefoy, foi só depois de ver Roma que eu comecei a amar o ator.

Leia, sim, o livro é muito bom.

Beijos!

Vagner Fonseca disse...

Fernanda,
Vou te confessar uma coisa que nunca falei pra ninguém. Hoje em dia até ver o filme "10 coisas que odeio em você" me emociona... não de chorar que não sou disso :-P, mas me emociona de marejar os olhos pelo ator que ele era, pela qualidade do trabalho e pela tristeza de como ele estava quando morreu. "Coração de Cavaleiro" ele estava feliz e estava brilhando e era um filme de luz e talvez ele não estivesse preparado para tanta coisa pesada e negra que vem com filmes como "Dark Knight" e em ser o Coringa...

Pena...

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Vagner!

Pena mesmo. Não posso assistir nenhum filme dele e não sentir uma pontada, pelo que você falou, o ator que era, que poderia ter sido, e também fico triste por causa da filhinha dele, que não pode conhecer o pai.

Beijos!

Herida Ruyz disse...

Olá,
Confesso que ainda estou em duvida sobre ser ou não uma continuação da trilogia do Graal. Li os livros anteriores, porém alguns sites internacionais estão colocando 1356 como livro IV da série.
vai entender?

bjs

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Herida!

É, eu vi isso também. Mas não é continuação não, só o mesmo personagem. Até porque quem leu os outros sabe que não tem como ser continuação, simplesmente impossível. Leia sim, que vale a pena. E você vai ver logo de cara que não é continuação.

Beijos!