terça-feira, 6 de julho de 2010

O Incêndio de Tróia

 

Tróia Em O Incêndio de Tróia, Marion Zimmer Bradley, autora de As Brumas de Avalon, recria a história da Guerra de Tróia – e a narra a partir do ponto de vista de Kassandra, bela e atormentada princesa de Tróia. Na brilhante recriação que autora faz da famosa lenda, a queda de Tróia acontece de uma forma nova e ousada, desde a provação de Páris, o rapto de Helena (neste livro, não a cruel adúltera da lenda, mas uma mulher afetuosa, dedicada a Páris e aos filhos) e a convocação dos exércitos gregos por Agamenon, o enfurecido cunhado de Helena, à tragédia final da destruição da cidade, condenada pelos deuses – e pelo orgulho voluntarioso de seus líderes. A heroína deste épico é Kassandra, e a forte tensão do romance provém tanto da luta interna desta com seu sentimento de lealdade dividido (pois sua lealdade ao pai, o rei, e aos irmãos é contraposta à crescente fidelidade à velha fé no matriarcado e na Mãe Terra) quanto do sério conflito entre gregos e troianos, no qual ela – abençoada, ou amaldiçoada, que é com o poder da profecia – prevê de forma obsessiva que tudo aquilo que mais ama será destruído. O romance começa com o nascimento de Kassandra e de seu irmão gêmeo Páris. Este é criado por uma família de pastores, em virtude de uma profecia de que gêmeos trazem má sorte. Kassandra cresce sem sequer saber da existência do irmão – a não ser pelas visões inexplicáveis em que enxerga os ventos através dos olhos dele... Sua mãe, a rainha Hécuba, era uma amazona antes de se casar, e quando Kassandra está prestes a se tornar mulher, é enviada para passar um ano com as tribos das amazonas, onde toma conhecimento dos poderes das mulheres antes que estas fossem subjugadas por uma nova onda de patriarcado. Ao voltar para Tróia, Kassandra dedica-se a tornar-se sacerdotisa de Apolo, o Deus-Sol; mas, dentro dela, desenvolve-se um conflito forte e perturbador entre os “velhos costumes”, em que as mulheres mandavam e a religião originava-se da Mãe Terra, e o novo mundo de deuses e reis do sexo masculino – um mundo caracterizado por disputas sem sentido e uma ânsia de sangue que levam ao cerco de sua amada cidade.

 

Também não sei quantas vezes li este livro. Claro, sendo de Marion Zimmer Bradley (uma das minhas autoras preferidas), já seria motivo, e ainda por cima sobre a guerra de Tróia? Alguma dúvida que eu tinha que ler?

Claro que há muitas diferenças em relação à Ilíada, mas nem era para ser fiel, mesmo. O Incêndio de Tróia conta a história do ponto de vista de Kassandra, irmã gêmea de Páris. Vidente, ela vive desde a infância com a maldição (é maldição mesmo) de predizer o que vai acontecer a Tróia, mas ninguém acredita nela. Todos a consideram louca. Na verdade, Kassandra é uma mulher forte, que carrega o fardo de suas previsões sem reclamar. Obstinada, nunca perde a esperança de que Tróia de alguma forma resista. É ultra fiel a sua família, inclusive Páris, que só a trata mal.

Páris é um mimado. Ao nascer, foi feita uma profecia a seu respeito, de que ele traria a desgraça para Tróia. Com medo, seu pai, Príamo, o manda para ser criado por um casal de pastores e o menino cresce sem ter ideia de sua origem real. Ele se torna um filho atencioso para seu pai adotivo, e é um pastor competente. Tudo corre bem, até que um belo dia ele vai a uma feira em Tróia, onde toma conhecimento de sua verdadeira identidade. Daí, Páris conhece a riqueza, e passa de um humilde pastor para um comandante arrogante. Imediatamente, ele esquece sua família de adoção, bem como sua mulher, não reconhecendo inclusive o filho que tem com ela. Tudo o que importa para Páris é a beleza e a liderança, motivo pelo qual ele se ressente de Heitor.

Ah! Heitor! Como não se apaixonar por Heitor? Ele é meu segundo personagem preferido na literatura (a primeira é Morgana, de Brumas). Heitor é um herói troiano com todas as qualidades. Não luta porque quer, mas porque os deuses assim determinaram, ama sua família devotamente, principalmente sua mulher Andrômaca e seu filho Astíanax, e é o único que não duvida de Kassandra e a trata como um irmão mais velho trataria a irmã mais nova. Heitor morre, todo mundo sabe, e da primeira vez que eu li, chorei nessa hora, ao mesmo tempo que me sentia indignada com o que Akiles (Marion preferiu preservar a grafia grega, por isso o K) faz com seu corpo.

E já que falei de Akiles, vamos a ele. Akiles não passa de um  garoto mimado e violento, que acredita ser protegido dos deuses e que não pode morrer. Temperamental, passa boa parte da guerra entocado em sua tenda, por causa de uma disputa com Agamenon (aliás, é aqui que começa a Ilíada) por uma escrava. Mas, ao contrário do filme, não porque tivesse se apaixonada por Briseida, mas porque ela era sua propriedade (escravos eram um sinal de status). Akiles só retorna a luta quando seu “amigo” Pátroklo morre pelas mãos de Heitor. Enfurecido, Akiles mata Heitor e sai carregando seu cadáver atrás da biga (como no filme, mas ele arrasta o corpo por dias). Akiles, ao contrário de Heitor, só pensa em lutar, e não vê valor em mais nada. Seu romance com Pátroklo fica subentendido, nunca sendo realmente mencionado o fato (mas, convenhamos, ele não voltaria para a guerra para vingar a morte de Pátroklo se não fossem amantes).

Helena aqui é retratada como uma mulher amorosa, devota à família e ama realmente Páris. A princípio é vista com desconfiança pelos troianos, mas logo conquista a todos com seu jeito meigo e simples de ser. Também fica amiga de Kassandra, e também não duvida de suas previsões, chegando até a brigar com Páris por este ser tão mesquinho com a irmã.

Marion mistura várias das lendas antigas neste romance, como os centauros (que não são retratados como meio homens, meio cavalos) e as amazonas, dando sempre seu toque e valorizando o culto na deusa Mãe-Terra, como também o faz em Brumas. E às vezes isso entra em conflito com a lenda de Tróia. Por exemplo, Tróia não era a cidade de Apolo, mas sim de Afrodite. Era a cidade da beleza. E quem queria a destruição de Tróia eram Hera e Atena, que perderam no concurso em que Páris diz qual das deusas é a mais bela. E, como todos sabem, Tróia cai por causa do famigerado cavalo, ideia de Odisseu, para colocar os gregos dentro dos muros. Mas isso não tira em nada o encanto do livro, e a história é envolvente e emocionante.

Trilha sonora

Uma música que eu adoro e que cairia bem é Now we are free, tema de Gladiador (é a que toca no final). Além disso, as instrumentais de Hans Zimmer (o cara por trás da trilha de Gladiador) ou as do filme mesmo. Aliás, a que toca no final,

Filme

Apesar das críticas de todos os lados, eu adoro o filme Tróia. Claro que ele tem várias diferenças, sendo que a mais gritante é que Aquiles não é amante de Pátroclo, mas dá pra entender, né? Imagina ver Brad Pitt e Garret Hedlund making out na tela… (nào tenho nada contra homossexuais, mas ver homem com homem não é o meu negócio) Melhor só ver ele com Briseida mesmo (ai, que delícia!). E Agamenon morre ao voltar para casa, assassinado pelo amante da mulher (claro que Klitemnestra tinha um amante. Agamenon passou dez anos na guerra, o que ele queria?). Fora isso, até que o filme é bem fiel à Ilíada. Depois, existe uma coisa chamada liberdade criativa, que permite que se baseie uma obra em outra. Eu também acho que o elenco é muito bom, com destaque para Eric Bana como Heitor (adivinha quem eu imaginava como Heitor…). Gosto muito dele, em todos os filmes que faz, e acho que a cena dele e Aquiles se preparando para o confronto em que Heitor morre é uma das melhores que eu já vi, e sem nenhum diálogo. E a caracterização é muito boa também. E ninguém melhor que a lindíssima Diane Kruger como Helena (que era a mulher mais bela do mundo na época. Que tal ela para Afrodite se um dia resolverem filmar os outros Percy Jackson?)

Se você gostou de O Incêndio de Tróia, pode gostar também de:

  • As Brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley
  • Coleção Ramsés – Christian Jacq

Curiosidade

Há rumores que a cidade de Tróia realmente existiu, e que na realidade foram muitas, que caíram, devido a terremotos ou guerras, mas outra cidade era erguida no lugar. Hoje, é o nome de um sítio arqueológico próximo a Hissarlik, na Anatólia, na costa da Turquia, aos pés do Monte Ida. A Tróia homérica (e, consequentemente, a retratada no romance de MZB é denominada Tróia VII (todas as cidades encontradas lá são chamadas Tróia).

(Fonte: Tróia)

6 comentários:

Fernando Moraes disse...

Eu nunca li, pretendo ainda ler Incendio de Troia. Mas eu acho que o filme Troia nao eh inspirado na obra de Marion.

Eu até vou verificar isso.
Mas acredito que voce esteja comentendo um equívoco, ou eu estou por fora.

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Cara N@ando,
o filme Tróia não foi mesmo baseado no livro de Marion, nem eu disse isso. Na verdade, o filme é baseado na Ilíada, e eu deixei isso bem claro no post. Mas como se trata do mesmo assunto, eu coloquei junto. Mas obrigada pelo comentário, e sinta-se à vontade para visitar sempre.

Ana disse...

Já li o Incêndio de Troia, assim como vários outros livros da Marion.
É uma das minhas autoras favoritas, e adorei a forma como ela retratou Kassandra. Acho que faltava mesmo uma visão feminina sobre os acontecimentos, é um livro muito bom!

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Ana!

Também é um dos meus livros favoritos e ela é uma das minhas autoras preferidas também. Também gosto muito da Kassandra, adoro como ela foi retratada, e porque ela é geralmente renegada a segundo plano na queda de Tróia.

Beijos!

Fernanda

Andréia disse...

Olá, Ana!

Pesquisando o universo da história antiga sobre Grécia, Tróia e outros lugares (como boa historiadora que sou) acabei cruzando com seu blog e o post do livro "O Incêncio de Tróia" que eu amoOoo de paixão! A primeira vez que li, estava no antigo 2° Grau (hoje Ensino Médio) e foi amor a primeira leitura. Simplesmente me encantei pela história vista pelos olhos de uma personagem feminina. Como você também já o li inúmeras vezes, ainda mais depois que adquiri um exemplar para chamar de meu! rsrsrs
Sou fã de Marion Zimmer Bradley e da saga As Brumas de Avalon!
Super indico a todos... certamente irão se apaixonar também!
Parabéns pelo post e blog, adorei!

Abraços, Andréia

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Andréia!

É um dos meus preferidos mesmo, amo muito. Já li várias coisas dela, praticamente tudo que já saiu em português e algumas coisas em inglês.

Obrigada pelo comentário e seja bem vinda, apareça sempre!

Beijos!

Fernanda

PS: Ana é a menina que comentou antes, eu só respondi ;D