Agora que dei voz a todos os meus bebês, chegou a hora de fazer uma homenagem a todos os que já foram, mas que deixaram sua marca. Tenho que começar dizendo, se ainda não ficou claro, que sou louca por animais (se não fosse, não teria feito veterinária), e que os considero parte da família. Cada um deles me marcou de uma forma diferente, mas muito forte, e, de algum modo, me fizeram a pessoa que sou hoje. Quem tem animal sabe, e, com o risco de soar piegas e sentimental, eles são o maior amor que podemos ter, sem esperar nada em troca. Quem tem filhos pode dizer que não existe amor maior que de mãe, e isso é verdade, mas com os animais é diferente. E não estou menosprezando minha mãe (TE AMO MUITO MÃE!), nem meu pai (TAMBÉM TE AMO MUITO!), muito pelo contrário. Se não fosse por eles, eu provavelmente não teria tantas histórias de bicho para contar.
Tudo começou em 1980. Eu tinha 3 anos e minha irmã quase um ano. Meu pai é professor e, na época, dava aula particular (de matemática, pra quem quer saber) para uma família que tinha um casal de poodles, que tinha acabado de dar cria. Naquele ano, de presente de Dia do Professor (é, naquela época, professor ainda era bem valorizado) meu pai ganhou a Pupi, minha primeira cachorrinha (na verdade, tive outra antes, a Lili, mas eu era bebê e não me lembro dela. Minha mãe teve que dá-la porque ela subia no meu berço e fazia as necessidades lá). Voltando à Pupi. Ela chegou em casa com dois meses, e foi amor à primeira vista. Claro que não me lembro bem dela nessa época, mas lembro que ela foi uma companheirona para mim e para minha irmã durante a infância. Lembro bem dela correndo na praia. Confesso que ela não recebeu tantos mimos quanto os que vieram depois, mas tenham certeza que foi muito amada. Ela morreu com dez anos, vítima de um mordida de outra cadela. Nós tratamos, claro, mas ela tinha problema de coração, e no fim pegou um infecção generalizada. Mas até que isso acontecesse, foram meses indo ao veterinário tratar da ferida, que teve que cicatrizar sem pontos, dia sim dia não.
A Pupi deu cria à Sheyna, que é a mãe da minha Honey, que já se pronunciou aqui. A Sheyna, também conhecida por Teca, já teve uma vida mais fácil. Dormia na cama, teve mais cuidados. Morreu com dezoito anos, quase dezenove (faltavam três meses para o aniversário dela, que aliás era uma semana depois do meu, dia 30 de abril. Por isso eu sempre disse que ela era o meu presente de aniversário). A Sheyna era um doce. Ironicamente, também foi vítima de uma mordida, mas isso não foi porque ela morreu. Ela morreu porque estava com problema de coração (também), e viveu muito tempo depois da mordida. No fim, ela já estava cega, surda e não conseguia comer direito. Eu dava papinha Nestlé, aquela mais pastosa, de primeiro estágio. Mais que a Pupi, ela foi que marcou mais, até porque viveu mais, e tenho lembranças mais claras dela.
Quando eu estava no cursinho, veio o Ziggy, meu primeiro gato. E tenho que confessar, como todo mundo que diz que não gosta de gato (só diz isso quem nunca teve um), eu achava que gato é interesseiro, não gosta do dono, só do lugar, e é traiçoeiro. Eu não podia estar mais enganada. O Ziggy era um lorde. E adorava a Sheyna. Ela tinha cerca de sete, oito anos quando ele chegou, e no começo, morria de medo dele. Mas logo os dois se tornaram amigos e a Teca até remoçou. Eles brincavam a valer. Aliás, era uma característica do Ziggy fazer amigos assim. Ele fez amizade com todos os cachorros da vizinhança, até um dobermann. Uma das lembranças mais vívidas que eu tenho dele foi quando ele conheceu o Duque, o cachorro da minha vizinha. O Duque deu uma tremenda carreira no meu gato, que foi parar no alto do pinheiro que tinha na minha casa, que, sem brincadeira, tinha uns dez metros de altura. Juro que o gato foi se alojar lá no topo, e foi como um raio. Depois ficou miando para descer, mas eventualmente ele deu um jeito (nós não temos escada tão alta). Mais uma característica do Ziggy é que ele gostava de beber água na torneira (aliás a Kira também gosta, e isso é comum com gatos), e ele era tão cara de pau que ia na casa dos vizinhos pedir água. Sorte que todo mundo gostava dele e ninguém se importava de dar de beber ao bichinho. Ele sumiu faz sete anos, no dia 30 de dezembro, e muita gente, não só nós, sentimos a falta dele. Ele tinha oito anos quando sumiu.
Mais ou menos um anos depois de eu pegar o Ziggy (que eu esqueci de falar que eu peguei com uns dois meses), apareceu a Sara. Ela apareceu na casa da minha avó. Na época, meu avô estava em estado semivegetativo, de cama, e ela simplesmente se alojou na cama dele. Minha avó não quis ficar com ela, e como ela era muito boazinha, e linda demais, resolvemos ficar com ela. Só tinha um problema: ela estava prenha. Então esperamos ela ter os filhotes (que se não estou enganada, eram três, que arranjaram dono rapidinho), e então mandamos castrar e ela foi morar no curso de aulas particulares da minha mãe. Ela ficou lá até eu fechar meu pet (que era no mesmo prédio), então veio para casa. Ela morreu o ano retrasado, já bem velhinha e também ceguinha. Ela era outro docinho. Gostava de pessoas, e sempre ia pedir carinho, independentemente de ser alguém conhecido. Enquanto ela morou no curso, assistiu muitas aulas de matemática e física do meu pai, e aposto que aprendeu mais que muito aluno.
Enquanto eu ainda tinha o pet, apareceu a Linnel, que ganhou esse nome por causa de uma personagem de um livro da Marion Zimmer Bradley. Na verdade, ela apareceu no muro do outro lado da rua, e eu fui pegá-la. Ela tinha uns dois meses também e nós também a chamávamos de Número Um (por causa da manchinha que ela tinha na cabeça, pode reparar). Ela era uma graça. Uma coisa engraçada, é que ela começava a correr, brincando, e, do nada, cansava e deitava onde quer que fosse. Ela era muito companheira do Ziggy (apesar de ele não querer lá muita amizade com ela), e sentiu muito a falta dele. Foi ela quem trouxe a Kira de volta, quando a última sumiu, sério. Isso não foi imaginação minha. E ela também tinha o dom de fazer amizades, principalmente com outros gatos. Um dos amiguinhos dela, que eu chamo de Manchinha, ainda aparece aqui em casa para comer de vez em quando. Só que ele é bravo… Aliás, com a Linnel era assim “Entre, a casa é sua”. Mas isso custou caro. Um dia, ela se meteu em uma briga com um desses agregados, e deve ter ficado com um abcesso no tórax. Numa outra briga, ela caiu do telhado, e o abcesso (que é uma infecção localizada, dentro de uma bolsinha) arrebentou e começou a acumular pus na cavidade torácica dela. Eu levei na USP (sou a maior covarde quando se trata dos meus bichos. Não tenho coragem de mexer), drenaram todo o pus, mas ela não aguentou. Morreu no dia seguinte, já faz quatro anos. Ela tinha 5 anos.
Finalmente o Blue, meu siamesinho querido. Eu encontrei ele na praia, só pele, osso e orelhas. O Murruga gostou dele de imediato. O coitado do gato, que não tinha mais de um mês, nem conseguia andar de tanta lambida que levou do cachorro. O Blue era, de longe, o gato mais carinhoso que já tive. Ele dormia todas as noites na minha cama, abraçado comigo, ronronado perto do meu pescoço (sem brincadeira). E também atendia pelo nome (quem tem gato sabe o quanto isso é difícil. Gato tem vontade própria, e atende só e quando ele quiser). Ele me fazia muita companhia. Quando eu estava lendo antes de dormir, ele vinha e se deitava na almofada atrás de mim, apoiado no meu pescoço. E ronronava muito (pra mim, ronrom de gato é o melhor som do mundo). Ele sumiu dia 1 de janeiro deste ano, e apesar de só ter passado um ano comigo, me marcou muito. Eu ainda sinto muita falta dele, de noite, quando vou dormir (apesar de a Sophia dormir comigo). E foram muitas noites mal dormidas e chorando pela falta dele. E ele ainda está no meu perfil porque não tenho coragem de tirar. Seria como se ele tivesse morrido, o que eu não acredito que tenha acontecido. Ele era muito lindo, e como aparentava ser de raça (na verdade, ele não era siamês legítimo. Eu sei disso porque sou veterinária, mas para qualquer outra pessoa, ele passava por verdadeiro), alguém deve ter roubado ele. E o que me deixa mais revoltada é que ele tinha medalhinha com o nome e meu telefone de casa e celular. Quer dizer, quem pegou foi por maldade mesmo (may they rot in hell, and Hades be a real bastard. Não vou traduzir, acho que dá para entender). Essa pessoa é uma desalmada com certeza, e, para mim, não merece compaixão (dá pra ver como eu ainda estou revoltada). E, por isso, eu deixei de gostar de Ano Novo. Além dos fogos assustarem the beejesus o meu pobre cão (eu tenho que sedar ele para ele ficar mais tranquilo), dois dos meus gatos, tão queridos, tão amados, me foram tirados nessa época.
Nem preciso dizer que chorei ao escrever. Bicho é assim mesmo. A gente se apega, sofre muito quando eles se vão, até jura que nunca mais vai ter outro bichinho…Mas o tempo passa, e logo achamos outro para nos fazer companhia. Não são substitutos, porque nenhum é igual ao outro, mas são carinhosos e nos dão conforto quando nos sentimos mal. E também muitas alegrias. Uma vez, vi um comediante americano, não sei o nome, dizer que ninguém o faz rir tanto quanto seus cachorros. E quem tem animal sabe que é verdade. Por isso repito: não tem força no mundo capaz de me separar dos meus bebês!
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