sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Rainha da Tempestade – Marion Zimmer Bradley

 

Rainha da tempestade A grande epopeia do mundo sob o sol vermelho conhecido como Darkover não começou com a chegada dos terráqueos. começou muito antes, durante os dias sinistros da civilização que veio a ser conhecida como era do caos. este é o primeiro romance da autora, sobre os tempo em que a matriz estava nas mãos de homens ambiciosos, quando a interferência genética produzia prodígios e detentores de estranhos poderes, quando o herdeiro dos Hasturs encontrou o seu destino nas pessoas de mulher-feiticeira a quem amava e da criança mutante que jurou proteger.

Outro livro que nem sei quantas vezes eu li. A primeira foi com uns 12/13 anos, e me apaixonei instantaneamente. Mas deixa eu explicar algumas coisinhas sobre a série Darkover e a história deste em especial.

Darkover é um planeta distante, mais frio que a Terra. Não é como Westeros, o inverno só dura mesmo uma estação, a não ser na cordilheira chamada Muralha ao Redor do Mundo. O sol é vermelho, constantemente sendo chamado de Sol Sangrento, e o céu noturno é provavelmente o mais lindo do universo, com 4 luas, uma violeta, uma azul, uma verde e uma perolada. Cada uma tem nome e tamanho diferente, mas eu não sei qual é qual. O plante é habitado por humanos, mas eles tem um dom especial. Bom, nem todos, só os nobres, também chamados Comyn. São poderes psíquicos que permitem que, apesar de o planeta equivaler à nossa Idade Medieval (daí porque eu adoro a série), eles tem coisas bem avançadas, como carros aéreos, luzes e elevadores, construídos com esse poderes, que são aumentados com uma pedra chamada matriz. Todo personagem com laran (esse é o nome dos poderes) tem uma pedra de matriz, e ela é sintonizada a seu dono, de forma que só ele, ou uma guardiã, pode tocá-la. Se alguém sem preparo fizer isso, pode significar a morte.

A série tem 3 eras distintas: a Era do Caos (minha preferida, e onde se passa a história deste), os Cem Reinos e depois da chegada dos terráqueos. Há várias sagas, como a das Renunciantes (que eu não gosto muito), de Sharra e livros meio complementares, mas eles sempre se situam em uma dessas épicas e podem ocorrer simultaneamente. E também não há necessidade de se ler em ordem, mas eu prefiro, pra entender bem, porque chega uma hora que é bem confuso. Ao contrário do que diz a sinopse, este não é o primeiro segundo a cronologia da série, e sim o segundo. Mas para quem se interessar, eu recomendo que comece com este, que é um dos meus preferidos.

Rainha da Tempestade conta a história de Dorilys, uma menina de sangue nobre e com o dom de, como diz o título, comandar as tempestades. Ela é filha de Lorde Aldaran, senhor de um dos Domínios de Darkover. O planeta se encontra e guerra e numa tentativa de manter o poder, Lorde Aldaran força o casamento de Dorilys com seu meio irmão Donal. Claro que este ato terá consequências gravíssimas. E este livro se passa na Era do Caos, onde armas fabricadas com o poder de matriz são usadas indiscriminadamente. Uma das piores é o fogo viscoso, uma substância que queima tudo o que encontra de forma voraz (Luana, você deve conhecer algo do gênero ;D). E outra coisa importante de se destacar é que os casamentos e as rivalidades se dão por causa de um tal programa de reprodução que visa preservar os dons de laran mais poderosos. É manipulação genética pura (e olha que o livro é de 1978! Bem anterior aos transgênicos e etc e tal).

Bom, agora que todo mundo já está bem situado, é hora de partir para a resenha em si. Dorilys é provavelmente uma das personagens mais fascinantes que eu já vi. Ela já começa a demonstrar seus poderes ao nascimento, numa cena tensa e violenta. A garota cresce e aos 11/12 anos seu poder já causa terror em todos. É mimada demais e arrogante, porque todos temem sua ira, que desencadeia tempestades e convoca raios onde ela quiser. E não se engane, esse poder é letal (apesar de bem legal). Dorilys sabe muito bem seu efeito sobre as pessoas, e usa esse poder indiscriminadamente, só resguardando seu pai e seu irmão. Mas, com tamanho poder, como alguns personagens notam mesmo, ela é uma criança precoce, achando-se adulta, mas que ainda tem atitudes bem infantis. Sim, ela é detestável, mas com certeza uma personagem muito forte. E o casamento forçado com Donal só faz aumentar a confusão em sua cabeça. O que Lorde Aldaran se recusa a entender é que Dorilys não pode ser usada como um jogo político, sob o risco de destruir o planeta. Mesmo assim, desafio alguém a não gostar de Dorilys. Confesso, ela me irrita, dá raiva, mas eu a adoro. E queria muito que existisse um livro em que ela voltasse (BIG SPOILER! SE NÃO QUISER SABER O FINAL, NÃO LEIA ATÉ O FINAL DO PARÁGRAFO! No final, depois de causar uma das maiores tragédias na minha opinião, ela pede para ficar em sono suspenso por laran indefinidamente e é levada para a Torre de Hali. Trezentos anos depois, em A Herança de Hastur ou O exílio de Sharra, não lembro qual, um personagem entra em Hali, que a esta altura está abandonada, e vê o esquife de Dorilys e ela ainda está adormecida. O que eu queria muito ler é uma história onde Dorilys acordasse).

Donal, ah! Donal! Meio irmão de Dorilys por parte de mãe, ele foi a minha primeira paixonite literária. Donal também tem um laran relacionado ao tempo, mas não tão forte como o de Dorilys. Ele consegue sentir as correntes de ar e elétricas e desviar raios, mas não criá-los, como Dorilys, ou sempre (só quando está assustado). Donal é tudo de bom. É alegre e afetuoso, dedicado ao pai adotivo (Lorde Aldaran) e não é ambicioso. Também é apaixonado (e apaixonante). Não tem muito o que falar dele: é perfeito, fofíssimo (mais um candidato ao Top Piriguetagem 2012 ;D). E ele tem plena consciência do perigo que sua irmã representa, mas nada pode fazer para convencer seu pai.

Lorde Aldaran, por sua vez, é um homem duro e teimoso. Sua obsessão em manter o castelo e o Domínio é que vão desencadear toda a desgraça descrita no livro. Dá raiva, muita raiva. Só que ele até tem razão de ser assim. Sua mulher não consegue lhe dar filhos vivos, o que era uma desgraça, e os filhos que teve com a primeira esposa morreram na adolescência, da doença do limiar (esqueci de dizer que o laran se desenvolve plenamente nesta fase, e é frequentemente mortal. E o laran de Aldaran é especialmente letal). Por isso, mima tanto Dorilys. E ama Donal como um filho. A teimosia que insiste que mantenha Aldaran o leva a uma guerra com seu irmão, Scathfell. Mas isso vai custar ao velho muito mais do que a perda do castelo representaria.

Lembra que Donal é apaixonado? Bom, a sortuda que tem ele nas mãos (e nos braços, na cama…) é Renata, uma leronis da Torre de Hali (explicação: torres são lugares onde eles treinam e trabalham com matriz. E leronis são as mulheres que mexem com isso. Há homens também, como vamos ver mais adiante). Renata chega a Aldaran para tentar ensinar Dorilys a dominar seu dom e assim sobreviver à doença do limiar. É uma moça (novinha mesmo, uns 18/19 anos, mas já considerada mulher) independente e é feminista. Acredita que as mulheres forma feitas para bem mais do que gerar filhos. Na verdade, no começo ela despreza as mulheres que pensam assim e nem pensa em filhos. Também não sabe o que é o amor e não se interessa muito (o que não quer dizer que ela seja uma virgem amargurada, muito pelo contrário). Claro que isso muda quando conhece Donal. É uma mulher forte, mas gentil e não se deixa intimidar por Dorilys (ainda que a tema). Gosto muito dela. Ela é a voz da razão no livro, mas, claro, não lhe do ouvidos.

Ainda há mais dois personagens importantes: Allart e sua esposa Cassandra. Allart começa o livro como um noviço no mosteiro de São Valentim das Neves. Sua religião é parecida com o cristianismo, mas as regras são bem rígidas. Os noviços passam frio absurdo (tipo, e congelar mesmo. E isso me lembra. Darkover tem a sua própria mitologia. Além desta religião deste mosteiro, há outra que venera Hastur e Cassilda e tem um inferno gelado dividido em pelo menos nove. O senhor deste inferno é Zandru e, tanto eu como minha irmã, às vezes praguejamos contra o frio usando a citação dos darkovanos: está mais frio que o nono inferno de Zandru ;D), chegando ao extremo de dormirem nus sobre as pedras congeladas do mosteiro. Ele é descendente de Hastur (que além de uma espécie de deus, também é a família mais importante do planeta. Mais ou menos como os Kennedys nos EUA), e quando a linha de sucessão ao trono fica complicada, ele é forçado a sair do mosteiro por seu pai e se casar. O que ele não quer de jeito nenhum. Allart tem laran também, e o dele é a presciência. Mas não é só adivinhar o futuro. Seu laran mostra não só o futuro real, como todas as possibilidades. Ele se vê em diversas situações: morto, matando o pai, etc. E ele tem medo desses futuros pois não sabe qual se concretizará. Por isso ele se refugiou no mosteiro. E quanto a casar, além de ser forçado, ele não quer gerar filhos que tenham a mesma maldição que ele para o tal programa de reprodução. É inseguro e na verdade muito irritante no começo, mas ele muda quando conhece sua esposa, Cassandra, a quem ama acima de tudo. E ele passa de um rapaz inseguro e assustado a um competente e poderoso operador de matriz. Aos poucos ele domina seu medo e passa a encarar seu dom como um aliado e não como uma maldição.

E Cassandra é uma moça mais ou menos da idade de Renata (uma observação: tirando o velho Aldaran, todos os personagens são bem novinhos. Allart é o mais velho e tem uns 24/25 anos). Ela cresceu sabendo que era prometida a Allart e com a concepção de que seu papel era somente ser sua esposa e gerar filhos para o clã. Ela sofre um pouco no começo do casamento com Allart por causa do juramento dele de não gerar filhos (o que o impede de… entendeu, né?). É totalmente dependente de Allart, ingênua e insegura. Mas depois de passar um tempo na torre, ela começa a aprender a desenvolver seu laran e começa a pensar por si mesma. Ama Allart com a mesma intensidade em que é correspondida e passa a ser uma mulher forte determinada. Ela lembra muito a Danaerys, das Crônicas do Gelo e do Fogo.

É importante ressaltar que a guerra entre Lorde Aldaran e seu irmão não é a única. Allart também trava uma guerra com seu irmão, Damon-Rafael. Alias, como eu disse antes, este livro se situa na Era do Caos, e ela não tem esse nome à toa. O planeta todo está dividido por guerras. E, apesar de ser um outro mundo, é fácil esquecer que não é a nossa Terra. A história prende, é muito emocionante e cativante, cheia de ação e reviravoltas. Para mim, é o melhor da série (também gosto muito de outros, como A dama do falcão, Dois para conquistar e toda a saga de Sharra, mas eles não se igualam a este). E uma coisa bem legal é que Marion Zimmer Bradley morreu, mas deixou vários discípulos. Ela colaborava constantemente com eles, escrevendo livros para tapar os buracos deixados na série. A mais notória é Deborah J. Ross, mas não se nota a diferença na autoria. Recomendadíssimo.

Trilha sonora

Queen of rain, do Roxette, sempre foi e sempre será a música de Dorilys. Desde que a ouvi pela primeira vez, lá na década de 90, quando comprei o álbum (detalhe: era vinil ainda. Acho que tem gente aí que nem sabe o que é isso) Tourism, que eu já comentei aqui. Também Days go by, do Lifehouse 9repara na foto do Jason sorrindo, que fofo! Raridade isso! E o Rick tinha cabelo!). E ainda Your winter, do Sister Hazel (AMO essa música! E é bem como no vídeo que eu imagino as Hellers, as montanhas onde fica Aldaran, menos a estrada pavimentada).

Se você gostou de Rainha da Tempestade, pode gostar também de:

  • série Darkover – Marion Zimmer Bradley;
  • As Brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley;
  • O trílio negro – Marion Zimmer Bradley;
  • As Crônicas do Gelo e do Fogo – George R. R.Martin;
  • Ciclo A Herança – Christopher Paolini.

6 comentários:

Isabela disse...

Olá! Estou lendo a "Rainha da Tempestade" e não consigo desgrudar rs, a leitura é apaixonante. Adorei seu blog ;)

Abraço!

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Isabela!

Que legal, todo mundo só lembra das Brumas de Avalon! Mas esse é maravilhoso também, um dos meus preferidos dela.

Obrigada pelo comentário e volte sempre!

Beijos!

Fernanda

Lorena disse...

Fernanda, por um acaso encontrei seu blog (um acaso coisa alguma, estava procurando por spoilers de Destinada! hehe), e aí vi o link para "A rainha da Tempestade". Nos meus 12 anos li pela primeira vez todos os 4 livros de "As Brumas de Avalon", como também "A casa da Floresta", muito importante para entender Avalon....e descobri tb Darkover." A Torre Proibida" foi o meu primeiro livro sobre Darkover e depois dele, comecei com a correria atrás dos outros livros da série (que é antiga), da qual sou fã, e também sou apaixonada pela Era do Caos. Apesar de várias descontinuidades nas histórias dos livros sobre Darkover, foi esta a série de ficação científica e fantasia que me fisgou há 15 anos e que ainda me faz rir de alegria apenas de poder falar com outra pessoa (no caso vc e seus leitores) sobre ela!!! Fico feliz toda vez que lembram que Marion Zimmer Bradley não é só "As Brumas de Avalon"!!! Também amei ler "O incêncio de Tróia" (adoro a visão desta história sob o ponto de vista de Cassandra, que quase ninguém dá muito valor em filmes e em outros livros mas que na mitologia é importante) e também A Teia de Trevas e Teia de Luz, dois livros falando sobre a queda de Atlântida...e tive o prazer de encontrá-los em preços acessíveis em sebos, em edições de capa dura e em ótimo estado de conservação!!! Na verdade, acabei adquirindo tudo que encontrei da Marion Zimmer Bradley e colaboradores!!! Enfim, parabéns pelo blog, foi uma grata surpresa nesta madrugada de garimpo meu na net!!!

Sucesso sempre!!!

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi Lorena!

Em primeiro lugar, seja muito bem vinda! Obrigada pelo comentário!

É muito legal mesmo conhecer outros fãs de MZB, que sabem que ela é muito mais que As Brumas :D Como você, eu também li As Brumas opela primeira vez aos 12 anos e me apaixonei. Por muitoas anos esse foi no meu livro perferido (ainda é, mas depois de ler As Crônicas de Artur do Bernard Cornwell, eu tive que mudar um pouco de perspectiva). Eu já li quase tudo que tem da Marion em Português, e alguns que ainda não saíram, como a trilogia (na verdade falta o último, A flame in Hali, mas eu não consigo encontrar) Clingfire, que ainda nào saiu aqui. E acho que meu gosto por fantasia se deve a essa coleção mesmo, com a mistura de ficção cietífica e idade média. E os meus da Queda de Atlântida são da capa dura também, muito bonitos. Eu também gosto de ler em sequencia: A casa na Floresta, A Senhora de Avalon e depois as Brumas. E agora saiu Os Corvos de Avalon, que é anterior à Casa na floresta (que mudou de nome, sei lá eu porque), e conta a revolução que dizimou os druidas daqeula ilha sagrada, e matou a rainha Boudicca. Nem preciso deizer que estou louca pra ler,né, mas é tão caro...

Beijos e volte sempre!

Fernanda

Anônimo disse...

Já li Rainha da Tempestade mil vezes,eu adoro esse livro,Darkover é um mundo tão ou mais interessante quanto Westeros,toda essa guerra de feitiçaria acontecendo é demais,acho que Marion antes de morrer,deve ter escrito uns vinte ou mais livros sobre Cottman iv,que é como Darkover é conhecido na Terra,e Dorilys,me faz pensar em Daenerys,alias,parece plágio,com a diferença que Dorylys é muito mais interessante,para ganhar guerras Dorilys não precisa de dragões,basta usar o campo gravitacional do planeta e fazer tempestades colossais usando seu Laran,eu amo a linha de romances sobre Darkover,já devo ter lido bem uns 10 ou 15 livros,daria tambem uma ótima série de TV tão apaixonante quanto Game of Thrones.

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

OI Temis!

Eu amo da paixão a série Darkover. E é bemprovável que Martin tenha lido também. E não acho ruim ele ter se inspirado nela. AMO a Dorilys! É como eu disse, ela me irrita, dá raiva, mas eu adoro. EU acho a Dany mais parecida com a Cassandra, que de menina assustada passa a mulher forte e dona de si. Eu acho os dois mundos fascinantes igualmente. Cada um tem uma particularidade que cativa a gente.

Beijos e obrigada pelo comentário!

Fernanda