quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Mundo Sem Fim

Mundo sem fim Inglaterra 1327. Numa floresta do condado de Kingsbridge, quatro crianças testemunham o assassinato de dois homens e fazem um pacto de silêncio: jamais revelarão a ninguém o que se passou naquele dia. Anos depois, as vidas de Caris, Merthin, Gwenda e Ralph se cruzam num mundo de riqueza e miséria, amor e ódio.
É na Kingsbridge medieval, regida pela Igreja e povoada por reis e cavaleiros, servos e senhores, que floresce a paixão de determinada Caris Wooler e do corajoso Merthin Builder. Ela, mulher de personalidade marcante e filha do mais eminente mercador da cidade, está decidida a fazer o condado prosperar, não sem antes desafiar várias convenções sociais. Merthin, por sua vez, se consagra como construtor de talento, mas sonha com o dia em que Caris estará definitivamente a seu lado.
Gwenda, em meio a uma vida inteira de privações, luta para mudar seu conturbado destino. Irmão mais novo de Merthin, o ambicioso Ralph cresce obstinado a fazer parte da nobreza, ainda que para isso tenha de mostrar sua face mais cruel e implacável.
Numa atmosfera de conspirações, costumes rígidos e jogos de poder, todos precisam sobreviver ao passado, às intrigas e a um terrível inimigo comum: a peste bubônica. As autoridades do priorado de Kingsbridge não tem dúvidas de que se trata de um castigo divino para purgar os pecados da comunidade.

Meu interesse por Mundo Sem Fim começou quando minha irmã comprou o livro por incríveis R$ 9,90. Incríveis mesmo, considerando que o preço normal do livro é só sete vezes mais. Isso foi uma daquelas promoções malucas da internet. Quando chegou, li a sinopse e, louca pela Idade Média que sou, claro que tinha que ler de imediato. Uma coisa me incomodava. O livro era continuação de Os Pilares de Terra. E agora?, pensei eu, mas já com aquele comichão de querer ler logo. Então fui fuçar no site do autor (www.ken-follett.com), vi que se passava duzentos anos depois e decidi: “What the hell”, e no mesmo dia que chegou já comecei a ler.
O que eu não sabia então era que eu me apaixonaria tanto e tão rapidamente pelo livro. Logo no começo da leitura, já tinha esse livro na lista dos favoritos. E, apesar das mil e tantas páginas, li rápido, não conseguia largar. Levei duas semanas para ler (isso porque eu enrolei um pouco e tive que trabalhar, senão teria lido em menos tempo).
A trama gira em torno de Merthin, Caris, Gwenda e Ralph, descendentes dos personagens de Pilares (que li depois e na verdade não consegui identificar o parentesco de todos, exceto Merthin. Mas também não li prestando atenção nisso, li por prazer mesmo). Quando crianças, eles presenciam um assassinato e juram nunca falar a respeito, evento esse que irá entrelaçar seus destinos de maneira inexorável.
Acho que a paixão pelo livro se deve a minha identificação com Caris. Determinda, inteligente e independente, ela vai enfrentar muita inveja e ignorância a fim de fazer o melhor para a cidade, sacrificando até seu amor por Merthin. Não quero parecer presunçosa, mas me vejo muito nela. Se eu vivesse naquela época, eu também, com certeza absoluta, seria acusada de bruxaria, e, ao contrário dela, provavelmente queimaria na fogueira. Não que Caris seja sempre certa e que eu não tenha tido raiva dela em alguns momentos. Sua teimosia é irritante (e, sim, sou como uma mula de teimosa também) e esse traço de sua personalidade é o que vai lhe causar mais sofrimento.
Também amo Merthin. Seu jeito calmo e curioso, com a cabeça sempre em atividade são suas características mais marcantes. Cauteloso, nunca fala nada até te certeza, e sempre pensa em todos os ângulos. Ama Caris mais que tudo, e, apesar da vida o levar para longe de Kingsbridge, nunca se esquece dela. Curiosamente, também me vejo um pouco nele.
Seu irmão Ralph, por outro lado, é o completo oposto. Ignorante (claro que inteligência não é uma característica genética), ambicioso e um sádico, não mede esforços para ter o que quer, e quando quer, mesmo que para isso tenha que passar por cima da própria família. Se Merthin inspira simpatia e pena no leitor, Ralph por outro lado, só inspira raiva. Não vemos a hora de este maldito pagar por suas maldades.
Finalmente Gwenda é uma mulher simples, mas não ignorante, que não se conforma com sua condição de serva e tenta de todas as maneiras sair desta condição. É a melhor amiga de Caris, e, como ela é determinada e capaz dos maiores sacrifícios para preservar aqueles a quem ama. Seu irmão Philemon acabará se tornando padre e assessor de Godwyn, o prior de Kingsbridge, mas não por vocação, e sim por conveniência, e o consegue através de astúcia. Ele está sempre de olho nos acontecimentos, pronto para contar ao prior, a fim de tirar vantagem.
Também vale a pena destacar o irmão Thomas. Ex-cavaleiro, entra para o priorado após o incidente na floresta (sim, o assassinato), segundo ele mesmo, como penitência pelos seus pecados. Na minha opinião, é o único no priorado que leva a sério seus votos. Está sinceramente arrependido de seja lá o que tenha feito. E está sempre disposto a ajudar Merthin.
Servindo como pano de fundo para tudo isso, há uma ameaça mortal: a peste bubônica. Tenho que admitir que é um tanto assustador. Ken Follett descreve habilmente o poder de devastação da doença. Parece que ninguém poderá se salvar, e o desespero, principalmente de Caris, para tratar os doentes e sua frustração quando parece que a doença está ganhando. É também engraçado ver como os tratamentos eram naquela época. A sangria era de longe o tratamento de escolha para tudo. Sem contar teia de aranha e esterco nas feridas para cicatrização (viva a penicilina!)
Mundo Sem Fim é uma leitura fascinante e apaixonante. Com certeza um dos melhores livros que eu já li (e isso é dizer algo!), e que com certeza vou reler umas tantas vezes ainda.

Nota histórica

Originária do oriente, a peste bubônica (ou negra), se espalhou pela Europa entre 1347 e 1349, dizimando entre 25% e 50% da população européia. Ela é causada pela Yersinia pestis e transmitida pela picada da pulga do rato. Com a perseguição às bruxas e o extermínio dos gatos (eh ignorância!) pela igreja, a população de ratos aumentou, o que fez com que o número de infectados aumentasse também (payback is a bitch!) e a doença se espalhasse mais rapidamente. Claro que as condições sanitárias da época também não contribuíram muito (fato muito bem demonstrado no livro). Essa epidemia causou pânico geral, e, sem entender como era a transmissão, os doentes eram abandonados e não recebiam cuidados e eram tantas as mortes que eram comuns os enterros em massa. (The Black Death)

 

Se você gostou deste livro, pode gostar também de:

  • Os Pilares da Terra – Ken Follett

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