Depois do final eletrizante de The Lion and The Rose, este começa exatamente onde o outro parou, com Tyrion sendo levado para as masmorras e Sansa fugindo. Este episódio causou muita polêmica, e desconforto, mas vou comentar conforme os acontecimentos se desenrolam. E desde já antecipo que vai gerar muitos comentários.
ATENÇÃO! SPOILERS DOS LIVROS CASO VOCÊ NÃO TENHA LIDO! Você foi avisad@.
Enquanto o caos reina na Red Keep, Sansa foge com Sor Dontos pelas ruas estreitas de King´s Landing. Pausa para ressaltar a locação de Dubrovnik, perfeita (nota mental: visitar King´s Landing). A sensação claustrofóbica de passar por essas ruas se encaixou perfeitamente com o estado de espírito de Sansa nessa hora, assustada, sem saber para onde ir. A sequência toda dá uma sensação de imediatismo e desconhecido que a ambientação nebulosa só fez aumentar. Muito bom. E daí, quando Sansa finalmente chega ao navio, quem a recepciona senão Mindinho? OK, nós que lemos os livros sabíamos disso, mas imagino a surpresa de quem não leu. Muito bem executado pela produção. Sansa estava tão perplexa quanto a audiência, e mais ainda quando descobre que tudo que Sor Dontos fez foi sob as ordens de Mindinho. Adorei o modo como ele fala que o cavaleiro/bobo da corte só fez o que fez pelo dinheiro, (SPOILER) o que levanta outra questão relacionada a Dany e as três traições que ela irá sofrer. Uma delas por dinheiro (sim, minha gente, ela ainda não sofreu esta, apesar do papel de Sor Jorah de entregá-la a Robert Baratheon). Acabei de pensar nisso, e é bom prestar atenção.
Voltando a Sansa, Mindinho a recebe e logo permite mais familiaridade ao pedir que ela o chame de Petyr. Quebra a formalidade e diminui o distanciamento entre os dois. Não vou entrar em mais detalhes, mas quem leu os livros sabe como este pequeno ato vale muito mais para a frente. Sansa ainda mostra o lado inocente, ao mostrar-se chocada quando Mindinho mata sem piedade Sor Dontos. E Mindinho com a frase fodástica do episódio:
(Créditos de imagem: Facebook Game of Thrones Brasil)
É assim mesmo, é a realidade de Westeros, não adianta querer mudar ou trazer para a nossa. E Mindinho é, sem sombra de dúvida, o melhor jogador do jogo dos tronos. E aqui, nestes poucos minutos, a Sansa que conhecemos morre, e começa a surgir outra. Esta foi a primeira lição de Sansa. E também o arco dela começa a ficar bem mais interessante. Mas vamos deixar isso para comentar mais tarde, conforme ele se desenvolve. Atuações impecáveis de Sophie Turner e Aidan Gillen (e vocês repararam que ela já está mais alta que ele?).
De volta a King´s Landing, Margaery e Olenna conversam. Detalhe para as duas com vestidos negros (lindos), de luto. Margaery bem sincera, deixando bem clara sua insatisfação em não ser mais rainha, mas consolada por Olenna. E achei o máximo a fala dela: “(Você é) Mais rainha do que era com Renly, menos do que seria se Joffey tivesse consumado o casamento antes de morrer”. Resumiu perfeitamente a situação de Margaery neste momento. Margaery ainda mostra claramente o que achava de Joffrey realmente, ao falar do modo como ele morreu, e nada de empatia na voz dela. Gostei também de Olenna contando sobre a morte do marido, e como teve que ser forte para encarar a tarefa de vê-lo morto. Também a confissão de ter que suportar o casamento. Obviamente ela simplesmente cumpria uma obrigação, motivada pelos seus próprios interesses. Margaery tem a quem puxar, e Olenna mostra porque é ela quem realmente manda em Highgarden. E quando Margaery ressalta como eram seus dois maridos, Olenna aponta que a situação está bem melhor. Claro, Tommen é bem mais manipulável, e Olenna já percebeu isso. De notar também que Margaery estava disposta a sofrer o que fosse com Joffrey, desde que isso significasse que ela seria rainha. Retomando uma fala dela na segunda temporada: “Eu não quero ser uma rainha. Quero ser A rainha.”. E ela quer mesmo. Note-se também que apesar dos vestidos de luto, o ambiente é claro e ensolarado, significando que os Tyrell realmente não estão muito entristecidos com a morte de Joffrey. O ambiente é leve, não tem a opressão de outras cenas do episódio.
Entre elas, a sequência que vem a seguir. Cersei está no septo de Baelor com Tommen, os dois junto ao cadáver de Joffrey, velando por ele. É quando chega Tywin, como sempre já causando. Impressionante como Charles Dance entra num lugar e já domina. Ele já chega dando lições a Tommen, perguntando o que faz um bom rei. Cersei ainda tenta protestar, mas Tywin, para variar, ignora. Dean-Charles Chapman mandando bem em cena, agora que tem falas. E aos poucos Tywin vai enumerando os reis que tem as qualidades listadas por Tommen, e seus destinos. Ironia escorrendo dos lábios de Charles Dance, lindo isso. E já clara a satisfação de Tywin por ter Tommen como Rei agora. Como Olenna, ele sabe que Tommen é mais dócil e facilmente manipulável. E ele já começa a manipulação aqui. Atenção para a fala: “Um rei sábio sabe o que ele sabe e o que não sabe. Um jovem rei sábio escuta seus conselheiros até que ele se torne maior de idade. E os reis mais sábios continuam a escutar muito tempo depois.” O que Tywin está realmente dizendo aqui é: você fará o que eu digo, porque eu é que governo essa m…. E o tempo todo Cersei ali, impassível. Perfeitas atuações aqui (inclusive de Jack Gleeson, que teve que ficar ali imóvel, fingindo-se de morto o tempo todo).
É quando chega Jaime, e quem leu os livros já esperava o que ia acontecer. Ou assim pensávamos, porque o que aconteceu realmente na série foi uma surpresa. E o motivo de tanta balbúrdia em torno do episódio. Imediatamente Jaime manda que as septas, guardas e quem mais estivesse ali para sair. E Cersei na hora acusa Tyrion. OK, o anão complicou para o lado dele quando disse que um dia, quando ela estivesse se sentindo segura e feliz, a felicidade se transformaria em cinzas em sua boca. Fato, mas Tyrion não estava fazendo uma ameaça, coisa que Cersei, em seu ódio pelo irmão não enxerga. Ela pede para Jaime vingar o filho morto, mas Jaime se nega a matar o irmão. A tensão só aumenta, até que Jaime não aguenta mais, e joga na cara dela que Cersei é uma mulher detestável, e que ele é amaldiçoado por amá-la. OK, não seria tão ruim se parasse aqui, ou se os roteiristas seguissem o livro à risca. Já é chocante o bastante que no livro Jaime toma Cersei ali, no Septo, com o corpo do filho estendido ao lado, mas um detalhe importantíssimo que foi ignorado: no livro, JAIME NÃO ESTUPRA CERSEI! E o que aconteceu na série foi um estupro sim. Ela disse não, várias vezes, e se debateu. E não venham com a ideia de que não foi com força suficiente. Não importa, ela não queria, e foi forçada. Uma vez deveria bastar, mas Jaime não liga. E isso é tudo o que está errado com a cena, que foi, em si, bem executada, com boas atuações. E agora me arrisco dando a cara a tapa.
A reação do público foi imediata, e vi muitas coisas por aí. Sim, eu concordo que a cena foi de uma violência desnecessária, e passa a ideia equivocada de que mesmo dizendo não, no fundo a mulher quer. NÃO, MIL VEZES NÃO! Não é não e ponto. Não tem essa de que é manha, ou qualquer outra desculpa que uma mente perturbada possa inventar quanto a isso. Vamos lembrar também que não é a primeira vez que isso acontece na série. Danaerys foi sistematicamente estuprada por Drogo, e mesmo no livro, desde a primeira vez. Não é porque ela deu permissão que não constitui estupro. Ela o faz relutantemente, e uma permissão relutante equivale a coerção, e na minha cabeça, na situação, constitui estupro. Mas na época não vi ninguém falar nada. Deixando claro, eu sou contra qualquer tipo de violência, seja ela voltada contra a mulher, homem, criança, ou animal (contra esta, em especial). E não acho que a série deveria suprimir isto, pelo contrário, acho que estas coisas podem levantar discussões importantes e necessárias. Além do quê, tanto a série como os livros retratam um mundo brutal, baseado num dos períodos mais violentos da nossa História, onde ainda não havia feminismo ou direitos humanos. Todos sofriam, e era um mundo predominantemente machista, sim. É muita ingenuidade achar que era qualquer coisa diferente, e querer transportar nossos valores atuais para essa época. Simplesmente não funciona.
Digo isso porque de uma discussão que deveria girar em torno do estupro, passou a algo mais, e começaram a extrapolar muito. Porque daí para acusar a série (e por tabela, os roteiristas, produtores, etc) de misoginia foi um pulo. E isso está errado. Primeiro, porque temos tanto na série como nos livros diversos exemplos de personagens femininas fortes. Arya se destaca em um ambiente totalmente masculino, Dany tomou controle de sua própria vida, e hoje comanda um exército, Olenna governa Highgarden, Margaery é independente e vai atrás de seus objetivos. Até mesmo Talisa, que morreu na temporada passada, mostrou que não era nenhuma bonequinha, e foi viver sua vida. E por outro lado, muitos personagens masculinos também sofrem abusos de diversos tipos. Theon está aí para provar, os Imaculados, com seu treinamento brutal, e que também são castrados, e sem querer me adiantar, mas Tyrion também vai sofrer abusos daqui para a frente (mais do que já sofreu nas mãos de Lysa Arrin), e o Cão, que sofreu horrores nas mãos de seu irmão. E ninguém acusa a série de misandria (o contrário de misoginia). Falando em Theon, vi muita gente reclamando que Ramsay estava caçando uma mulher, quando na verdade o horror que isso me causou não foi por ser uma mulher, mas por ser um ser humano, period. E depois, Ramsay no livro adora caçar moças, mas na verdade, como já vimos com Theon, Ramsay caçaria qualquer um, seja homem ou mulher. Isso é o caráter dele. E lembrei agora. Temporada passada, ainda disfarçado de “boy”, Ramsay deixa Theon escapar, até vai com ele até certo ponto, só para recapturá-lo. Isso é o quê, senão uma caçada? E Theon é homem. Então, a série retrata diversos abusos contra as mulheres, mas também mostra muitos abusos sendo cometidos contra os homens também. Isso é fato.
Também vi gente falando que personagens femininas acabaram perdendo espaço e sendo diminuídas. Sim, é verdade, veja Catelyn. E neste caso, para mim, pelo menos, era fundamental. Gente, no terceiro livro, que é a base tanto desta temporada como da passada, o que de mais importante que acontece no POV dela é justamente o que acontece com Robb, então, era mais do que previsível que isso acontecesse. E não foi simplesmente para Richard Madden brilhar. Michelle Fairley também brilhou. Por outro lado, outras personagens femininas ganharam destaque e foram mais bem trabalhadas que no livro. Exemplo: Shae. No livro, ela não passa de um puta mesmo. Mas na sértie, ganhou muito mais profundidade, gostem ou não do modo como ela foi retratada. E outros personagens masculinos, como Loras e o próprio Oberyn foram diminuídos. Loras virou boy toy, e Oberyn, um dos personagens mais legais no livro, aparece na série mais por suas inclinações sexuais do que pelo que Red Viper é mesmo. Sério, totalmente desnecessário isso, toda vez que o cara aparece, lá vem putaria. Apelação pura. E nesse sentido a HBO vem exagerando ultimamente.
O que me incomoda infinitamente mais do que esta discussão sobre machismo, misoginia, ou que mais, é a postura do diretor do episódio depois. Disse ele, numa emenda de desculpa: “Bem, se torna consensual no fim, porque tudo para eles (Jaime e Cersei) ultimamente resulta em tesão (…) Esta foi uma das cenas favoritas que eu já fiz” (para ver o restante da quote, cilque aqui). Oi? Como assim? Primeiro, que passa a ideia errada que eu já mencionei lá em cima de que a mulher pode dizer não, mas no fundo quer. Mais uma vez: NÃO É NÃO! Ponto final. Depois, mostra que ou o diretor não tinha consciência de que estava filmando uma cena de estupro, ou, pior, sabia, mas inventou um remedo de desculpa para se justificar. E como assim, essa foi uma das favoritas dele? OK filma, mas uma cena dessas deve SEMPRE causar desconforto, seja em quem filma, seja em quem assiste. E classificar isso como “uma das favoritas” é, no mínimo, muito estranho.
Sem contar que isso foi um desvio muito grande de caráter do personagem. Jaime está no caminho da redenção, muita gente que não gostava dele passou a gostar depois da temporada passada. Ele mostrou que tem sim, embora distorcido, um senso de honra. Ele segue sua própria lógica, e isso é uma das qualidades que ele tem de mais legais. Ainda, temporada passada ele livrou Brienne de ser estuprada. E agora vai lá e estupra a irmã? WTF????? Estamos falando do mesmo personagem? Depois, Jaime NUNCA faria isso com Cersei. Mas já notei que a série vem fazendo isso consistentemente. Veja o caso da Ygritte (volto nela daqui a pouco). E por que isso? Simples: porque vende. O alvo da série não é somente os leitores dos livros, mas muitos outros telespectadores que não leram, e, francamente, nem tem interesse de ler. E nestes casos, ninguém quer ver uma hora de seriado para ver a batalha interna de Jon Snow ou de Sansa. Sexo e violência vendem, infelizmente.E Game of Thrones não é a única série a retratar isso. Roma e The Tudors, ambas excelentes, também exploram isso. Então, gente, menos com as reações. E eu duvido que muitas das pessoas que tão fortemente criticaram a série vão parar de assistir.
Se a HBO quis retratar essa cena significando o rompimento de Jaime e Cersei, foi de extremo mau gosto. Primeiro que o timing da chegada de Jaime em King´s Landing foi totalmente errado, portanto a cena em si perdeu um pouco do sentido, não foi um reencontro, como no livro. Depois que já era chocante o suficiente sem adicionar o elemento estupro. Quer dizer, eles estão se pegando (pra ser boazinha) no Septo e em frente ao cadáver do seu filho. E finalmente, porque já começaram a mostrar o distanciamento dos dois em Two Swords, com a simples fala: você demorou demais. Ficou apelativa.
Só para ficar bem claro: eu sou contra a violência, e não gostei de como a série retratou essa cena em particular, por n + 1 motivos, todos já listados. Portanto, antes de me crucificar em praça pública, leve em consideração que esta é a minha opinião, você não é obrigado a concordar, mas por favor respeite. E isso não significa que eu sou mais ou menos mulher por isso. Depois, eu duvido muito que toda essa gente que andou criticando a crucificando produtores e roteiristas vai deixar de ver a série. E enquanto isso, sabe o que eles estão fazendo? Rindo da sua cara, vendo a audiência indo lá nas alturas.
E como esse post acabou ficando muito longo, e de uma resenha passou a um post opinativo, vou deixar para comentar o restante do episódio em outro post.
Beijos e até o próximo post!
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