Ao mesmo tempo engraçado e atordoante, o livro reúne as cartas de Charlie, um adolescente de quem pouco se sabe - a não ser pelo que ele conta ao amigo nessas correspondências -, que vive entre a apatia e o entusiasmo, tateando territórios inexplorados, encurralado entre o desejo de viver a própria vida e ao mesmo tempo fugir dela.
As dificuldades do ambiente escolar, muitas vezes ameaçador, as descobertas dos primeiros encontros amorosos, os dramas familiares, as festas alucinantes e a eterna vontade de se sentir "infinito" ao lado dos amigos são temas que enchem de alegria e angústia a cabeça do protagonista em fase de amadurecimento. Stephen Chbosky capta com emoção esse vaivém dos sentidos e dos sentimentos e constrói uma narrativa vigorosa costurada pelas cartas de Charlie endereçadas a um amigo que não se sabe se real ou imaginário.
Íntimas, hilariantes, às vezes devastadoras, as cartas mostram um jovem em confronto com a sua própria história presente e futura, ora como um personagem invisível à espreita por trás das cortinas, ora como o protagonista que tem que assumir seu papel no palco da vida. Um jovem que não se sabe quem é ou onde mora. Mas que poderia ser qualquer um, em qualquer lugar do mundo.
Confesso que não fazia muita questão de ler esse livro, até que li a resenha que a Nádia, do Palavra em Movimento (obrigada pela dica, Ná). Mas me surpreendeu como gostei desse livro. Não chega a ser um favorito, mas gostei muito.
Charlie é um adolescente prestes a fazer 16 anos, começando seu primeiro ano no colegial, depois que seu melhor amigo se suicida. Ele tem um irmão e uma irmã, ambos mais velhos, e sua relação com a família é meio complicada, porque sua família não é lá muito estruturada. Seus pais ainda estão presentes, mas há o histórico de abusos (físicos e até sexuais) em ambos os lados, o que marcou muito ambas as famílias.
Charlie, diferente de seu irmão e sua irmã, que são populares e tem um futuro promissor à frente (seu irmão é jogador de futebol americano com bolsa de estudo em uma universidade prestigiada nos Estados Unidos, e sua irmã também conseguiu bola para outra instituição de prestígio), é introspectivo, tem dificuldade de se relacionar com os colegas, fica à margem. O que dá um ponto de vista diferenciado e privilegiado do que acontece ao redor. Charlie também é muito inteligente, mas tem sérios problemas: além de perder seu amigo como eu disse, também perdeu sua tia preferida quando pequeno e se culpa por isso até hoje. Por isso ele não se aproxima muito de ninguém. Nem mesmo de sua família. No final do livro fiquei pensando se ele não tem algum grau de autismo, porque se isola (nas palavras de Sam, sua amiga), por sua inteligência acima da média, e pela forma como os outros se dirigem a ele. E Charlie também é muito inocente em alguns sentidos, por exemplo, com relação a garotas e sexualidade e o primeiro amor. Além da montanha-russa de sentimentos dele, que eu entendo que é normal nessa fase, mas Charlie supera em muito o adolescente mediano. Ele não tem problema nenhum em chorar em público, o que é muito incomum, principalmente para garotos, nessa fase. E ele faz isso frequentemente.
Peraí, estou fazendo Charlie parecer um bobão. Não é isso, muito pelo contrário. Ele é preceptivo e eu me identifico com ele em muitos aspectos, só estou ressaltando porque eu fiquei com a impressão que, além da óbvia depressão, ele deve ter algum tipo de autismo: o isolamento, ele não deixa as pessoas o tocarem com frequência, a inteligência, as mudanças de humor, da apatia ao entusiasmo, em poucas horas… Só isso. Estou meramente passando minha impressão.
Ele fica isolado até conhecer Sam e Patrick, dois irmãos do último ano aparecem em sua vida num jogo de futebol. eles começam a conversar e nem Sam, nem Patrick mostram achar Charlie esquisito (entenderam agora o que eu coloquei ali em cima?), e Charlie imediatamente sente que pertence a algo. Se sente “infinito”. E começa a participar das coisas, ao invés de ficar “invisível”.Sam é muito bonita, inteligente, cheia de vida, e é o centro das atenções de Charlie. Patrick é alegre, sempre fazendo piadas, homossexual assumido e também mito sensível. Os dois são a válvula de escape de Charlie para fugir da apatia. Eles e Bill.
Bill é professor de inglês de Charlie, e o incentiva muito a ler (esqueci de dizer que Charlie também adora ler). Não só a ler, mas Bill também oferece livros extras a Charlie, e pede trabalhos sobre eles. É ele que fala da inteligência de Charlie. É ele que enxerga o potencial de Charlie.
Uma história cheia de altos e baixos, como eu disse antes, uma montanha-russa de emoções, temas fortes, como gravidez, drogas, sexualidade, mas mostradas de forma delicada e fácil de ler (eu poderia ler de uma sentada, mas levei 2 dias), e de forma muito íntima, na forma de cartas. Um livro recomendadíssimo, não só para jovens, mas para qualquer um que goste de uma história bem narrada.
Trilha sonora
A única que não é listada no livro (esqueci de dizer que Charlie também gosta muito de música, e ataca de DJ de vez em quando), mas eu acho que tem a ver, é Simon, do Lifehouse. Tiradas do livro: Asleep, do Smiths (essa é a favorita do Charlie, volta e meia ele fala dela), Blackbird (AMO!), Something (AMO também) e Dear Prudence, dos Beatles (AMO eternamente), MLK, do U2, Landslide, do Fleetwood Mac, Another brick in the wall, do Pink Floyd (e uma das únicas que eu gosto deles. Teacher, leave them kids alone…quem nunca?), Vapour trail, do Ride, Scarborough fair, Simon and Garfunkel (que eu ouço desde pequena por influência do meu pai. Amo eternamente também), A whiter shade of pale, Procol Harum, Time of no reply, do Nick Drake, Gypsy, da Suzanne Vega (que todo mundo aqui conhece por causa de Luka, lembra?), Nights in white satin, do Moody Blues, Daydream, do Smashing Pumpkins, Dusk, do Genesis e Heroes, do Wallflowers (que eu prefiro assim, pode me bater Luana! Mas olha de bônus pra você, com o David Bowie , que não é mencionada no filme, mas está na trilha do filme, que eu não assisti ainda. E escolhi com o Wallflowers porque também tem a ver com o nome do livro, que em inglês é The perks of being a wallflower).
Se você gostou de As vantagens de ser invisível, pode gostar também de:
- Morte Súbita – J. K. Rowling.
8 comentários:
Feee... não me entusiasmei muito com esse livro a princípio... não creio que irei comprar o livro, se algum conhecido tiver eu ierei pegar emprestado para ler, mas vou ver o filme... com certeza!!!!
Amo o livro e o filme. fiquei apaixonada pela história e li de uma sentada,rs.
Acho o Charlie um personagem complexo e a forma como ele enxerga as coisas são complexas também.
Beijos,
Carissa
http://artearoundtheworld.blogspot.com
Que bom que gostou do livro, Fê. Eu adorei o livro mesmo! :) Chorei e tudo rsrs. Muito fofo.
Ah, no autismo, embora as pessoas confundam, não existe grau. O autista não se comunica de forma alguma, nem visualmente (não olha nos olhos, parece que o olhar atravessa as pessoas) e não conversa. Existem outros transtornos que se chamam Transtornos Gerais do Desenvolvimento que sempre aparecem em filmes como Rain Man, mas que não são autismo. Como não se mencionam muitos sintomas do Charlie no livro, não me atreveria a dar um palpite sobre o que ele tem, mas acho que dá a entender que ele tem esquizofrenia, quando ele fala sobre crianças esquizofrênicas no hospital.
Beijos.
Ops, Geral não, Global* rs.
Eu tinha ouvido falar do filme, mas não sabia que era baseado em um livro. Quando vi seu post, mesmo que sabendo que filme nenhum expressa a amplitude de um livro, resolvi assistir o filme. Acabei de ver. Depois vim ler seu post e minha suspeita se confirmou: o livro deve ser mto bom, pq o filme é ótimo. É doce, é envolvente. Já assistiu?
Oi gente!
Fefa, no começo eu também não me empolguei, mas vale a pena.
Carissa, o Charlie é mesmo um personagem complexo, e seu modo de ver o mundo é totalmente único, só dele mesmo.
Nádia, obrigada pelo esclarecimento. Eu realmente não sabia disso, e como você disse, filmes como Rain Man enganam a gente. Eu pensei mesmo em algo assim. Esquizofrenia? Talvez. Pensei nisso também, mas depois fiquei na dúvida por causa dos delírios induzidos pelas drogas. O que eu acho mesmo, que eu esqueci de mencionar, é que ele tem um distúrbio bipolar, por causa das mudanças bruscas de humor: uma hora ele está bem, e sem mais nem menos começa a chorar. Isso me chamou muita atenção, especialmente por causa do que eu falei, eu lido com adolescentes direto, eles não são de mostrar tanta emoção assim, especialmente meninos. Se o Charlie chorasse assim na frente dos meus alunos (não todos, claro, mas de uma boa parte), ia sofrer bullying pro resto da vida. O que eu achei bem legal foi que justamente ninguém liga pra isso, aceitam ele como ele é.
Dora, eu vou ver o filme sim, não sei quando. Talvez eu baixe, mas não sei. Não tenho muita paciência ;)
Beijos!
Fê
É, pode até ser bipolar mesmo, mas o autor não deu muitas pistas. Acho que não era importante pra ele definir isso. Mas certamente, um adolescente como ele sofreria muito bullying. E é muito legal como os amigos no livro o aceitam. :)
Beijo.
É verdade, não acho que influencie na história, Só mencionei porque foi minha interpretação.
Beijos!
Fê
Postar um comentário