sábado, 18 de outubro de 2014

Os Deixados para Trás – Tom Perrotta

 

O que aconteceria se, de repente, sem nenhuma explicação, pessoas simplesmente desaparecessem, sumissem no ar? É o que os perplexos moradores de Mapleton, que perderam muitos vizinhos, amigos e companheiros no evento conhecido como Partida Repentina, precisam descobrir. Desde o ocorrido nada mais está do mesmo jeito — nem casamentos, nem amizades, nem mesmo o relacionamento entre pais e filhos. O prefeito da cidade, Kevin Garvey, quer acelerar o processo de cura, trazer um sentimento de esperanças renovadas e propósito para sua comunidade traumatizada. Ainda que sua família tenha sido desfeita com o desastre: sua esposa o deixou para se juntar a um culto cujos membros fazem voto de silêncio; seu filho, Tom, abandonou a faculdade para seguir um profeta duvidoso chamado Santo Wayne; e sua filha adolescente, Jill, não é mais a dócil estudante nota dez que costumava ser. Em meio a tudo isso, Kevin ainda se vê envolvido com Nora Durst, uma mulher que perdeu toda a sua família no 14 de Outubro e continua chocada com a tragédia, apesar de se esforçar para seguir adiante e recomeçar a vida. Com emoção, inteligência e uma rara habilidade para enfatizar os problemas inerentes à vida comum, Tom Perrotta escreve um romance impressionante e provocativo sobre amor, conexão e perda.

Não confunda este livro com a coleção Deixados para Trás. Este é uma ficção científica e que, ao contrário da coleção de mesmo nome, não tem nada de religiosa. Na verdade, ele faz é uma crítica pesada ao fanatismo e religiosidade.

A vida corre pacata e sem muitos acontecimentos extraordinários na pequena Mapleton, quando em 14 de outubro (eu tinha esquecido a data, é pura coincidência eu postar isso agora) pessoas aleatórias desaparecem no ar, sem deixar vestígios e sem explicação. As pessoas estavam lá, e no segundo seguinte, simplesmente não estavam. E daí não demora para o caos se instalar. Acidentes aconteceram em diversos lugares, aviões caíram porque seus pilotos sumiram, e o pânico, junto com a incredulidade dos desaparecimentos. Afinal, por quê essas pessoas se foram? Para onde? Vão voltar?

Fast-forward 3 anos, e o prefeito de Mapleton, Kevin, tenta colocar um pouco de normalidade de volta na cidade, criando um dia especial para celebrar os Desaparecidos e mostrar que ainda há vida depois da Partida Repentina. Kevin mesmo perdeu sua família. Sua esposa o deixou, o filho largou a faculdade e a filha adolescente anda desconectada de tudo. Mas Kevin tenta levar a vida como se nada tivesse acontecido. Logico que ele sente, está também meio que no limbo, mas ele tem um trabalho a fazer. Kevin é um homem comum, pai de família solitário que procura alguém para dividir seu tempo.

Sua filha, Jill, é a típica adolescente que reage de forma estranha (porém previsível) às mudanças em sua vida. De aluna aplicada, popular e linda, ela passa a não ligar para a escola, raspa o cabelo num ato de rebeldia e começa a passar as noites bebendo e fumando maconha com os amigos. Seu irmão, Tom, é o aluno popular também, com boas notas, atleta que consegue bolsa numa universidade prestigiada, mas que larga o curso depois dos desaparecimentos e do abandono de sua mãe. E sua mãe, Laurie, que não é religiosa no começo, saiu de casa para se juntar a um culto que prega o voto de silêncio, e tem o hábito muito desagradável de simplesmente ficar encarando as pessoas para que não se esqueçam dos que sumiram.

Nora é uma mulher atraente que acaba se envolvendo com Kevin, mas que enfrenta a depressão por ter perdido toda a sua família em 14 de outubro. Ela tenta se comportar como uma pessoa normal, é ciclista, sai, mas no fundo não consegue se desapegar do passado, dos episódios de Bob Esponja que a aproximam dos filhos pequenos. Ela tem altos e baixos durante a trama.

Ainda de destaque no livro eu poderia citar Meg, a parceira de Laurie no culto, uma menina de uns 25 anos, que estava para se casar, tinha a vida feliz e acertada, mas que do nada decide se juntar ao culto, e Aimee, amiga de Jill, que mora em sua casa para fugir do lar abusivo em que vive, e que é um respiro no livro. Ela é a única que mostra algum tipo de vida, os outros personagens simplesmente observam a vida passar, à espera que um milagre aconteça.

A narrativa se divide entre os personagens, mas eles são, para mim, muito superficiais. O autor se preocupou mais em registrar o cotidiano de cada um, e como cada um lida com a dor da perda, e isso ela faz muito bem. Mas senti falta de algo mais, ou de uma evolução dos mesmos.

Outra coisa que foi bem descrita foram os cultos. Com o desaparecimento repentino de aproximadamente 20% da população (não sei se mundial, porque a história é centrada em Mapleton, mas pelo pouco que é mencionado do mundo fora de Mapleton, acredito que o fenômeno seja mundial), uma coisa que pipoca aqui e ali são cultos comparando o desaparecimento com  o Arrebatamento Divino. O de Laurie é um deles, e seu filho Tom segue um pastor, digamos assim, que se aproveita do desaparecimento para fundar uma religião, e ganhar dinheiro com isso, mas ele acaba sendo acusado (com razão) de pedofilia, e acaba preso. E o autor não poupa críticas a estes cultos a ao fanatismo.

Só que deixou a desejar no ponto do que está acontecendo fora de Mapleton, e também o próprio desaparecimento não foi muito explorado, não há especulação de quem está por trás dele, por exemplo, como acontece em  Sob a Redoma. Não há também o conflito de poder que se instala em Chester´s Mill, ou na Pagford de Morte Súbita. E senti falta disso, o que acontece com as pessoas numa situação extrema?, o que é muito bem explorado nestes dois livros. Também não me agradou muito o final, que foi muito repentino, e não amarrou nenhuma ponta. Ficou em aberto. Eu não tenho nada contra isso, mas deixe um cliff-hanger, ou o mínimo espaço para especulação, o que não há, porque simplesmente não temos pistas do que pode ter acontecido, o que está por trás dos desaparecimentos, por exemplo. Ato divino? Abdução extra-terrestre? Coma em massa induzido? Não sei. A narrativa é fluida e fácil, mas é um livro no máximo morno. Eu li porque me interessei pela série da HBO, que eu ainda não assisti, mas que vou começar e espero que seja mais bem desenvolvida que o livro.

Trilha sonora

Sober, da Pink tem a ver com alguns personagens. Aftermath, do Adam Lambert eu acho que tem a ver com Jill. E finalmente, para o livro como um todo, Somewhere out there e Life do Our Lady Peace.

Se você gostou de Os deixados para Trás, pode gostar também de:

  • Sob a Redoma – Stephen King;
  • Morte Súbita – J. K. Rowling.

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