Hoje, quando você sair à procura de Yancey, o Rimador, e tiver de abrir caminho em meio às prostitutas, aos valentões e aos viciados loucos por mais um dia de cheirada ou um trago, você irá se deparar com o corpo de uma criança. O cadáver exala um odor que não é dele, um cheiro que recende a magia e a um lugar, se Sakra quiser, para o qual você jamais irá querer voltar. Não fique tempo demais de bobeira perto do corpo; os gélidos vão querer saber o que você fez e o que há na sua bolsa. E quando eles te pegarem, é para a Casa Negra que você irá, onde o Comandante fará uma oferta que você não terá como recusar. Bem-vindo a um mundo como nenhum outro, com uma linguagem estranha e rica e uma violência tão sombria quanto o mais negro dos noires.
Desde que eu vi esse livro na livraria, pela capa, me chamou a atenção. Só que eu fui empurrando, empurrando por causa do preço até que finalmente achei num site e consegui baixar. E não demorei para pegar para ler.
A história começa com o Guardião, que pelo menos neste primeiro, não tem nome (ele tem, mas não é revelado) apresentando como são as coisas em Rigus, cidade fictícia mas que tem várias semelhanças com o nosso mundo. A diferença é que eles tem magia. E o Guardião, um ex-agente da Rainha, vive no submundo de Rigus, onde agora sobrevive de traficar sopro-de-fada (droga da qual ele mesmo tem dependência) e também pela parceria com Alphonsus em um bar, onde também mora. E tudo segue na normalidade, quando crianças começam a desaparecer, e alguns dias depois aparecem mortas, exalando um cheiro horrível e não natural. E como os responsáveis por esses crimes macabros não deixam rastros, os oficiais da Casa Negra acabam por chamar o Guardião novamente ao serviço, off-record, para investigar os crimes.
E começa aí uma caçada pelo assassino, e também contra o tempo, porque o Guardião tem um prazo para terminar suas investigações, caso contrário vai parar nas celas da Casa Negra. E não apenas ele deve achar o assassino, mas também tentar esclarecer os motivos para a matança.
O Guardião é um homem carrancudo, sombrio, mas eficiente. E como traficante, ele conhece muito bem os caminhos por onde investigar, e como lidar com as pessoas certas para ajudar na investigação. Ele é o típico anti-herói que a gente adora adorar, sem muitas palavras, sarcástico e nada social. Ele foi expulso do serviço da Rainha, mas a gente ainda não sabe porquê, sabe um pouco de seu passado na Guerra, e de sua infância sob a tutela do Grou Azul, um mago poderoso que lança os feitiços de proteção sobre Rigus. Esse Guardião lembra muito o Cormoran Strike, de O Chamado do Cuco (sequência saindo em breve! \o/ Hail to the queen!), em mais de um sentido: tanto o personagem como o desenrolar da trama, revelada camada a camada e costurada para revelar o quebra-cabeça no final.
Mas, mesmo que relutante, o Guardião tem um ajudante: Garrincha, um garoto de uns 12 anos, de rua, mas que acaba sabe-se lá porquê entrando para o serviço do Guardião. Garrincha não é de muitas palavras, mas é teimoso, avesso às regras, inteligente, competente e tem a vivacidade normal de uma criança dessa idade. Ele faz umas perguntas bem insolentes, que são uma diversão à parte no livro.
Vale ainda destacar Célia, uma outra protegida do Grou, feiticeira de alto grau que em certo ponto da vida foi (e continua sendo) o interesse amoroso do Guardião. Provavelmente ele é a pessoa que mais entende o Guardião, e que conhece a alma dele. Há entre eles muita coisa inacabada, e uma tensão palpável toda vez que eles estão juntos. E o Grou, que cuido dos dois enquanto crianças, é um mestre idoso já, e meio amalucado, mas que de dentro de sua loucura acaba ditando a razão.
Há outros personagens interessantes também, como Brightfellow e o Espada (eu não lembro agora o nome dele), mas eles aparecem relativamente pouco, e nem posso elaborar muito sobre eles para não dar spoiler. Adolphus, o parceiro e melhor amigo do Guardião, é outra voz de razão no livro, e vale também destacar sua mulher, uma baixinha invocada que consegue dominar tanto o Guardião como o marido com uma palavra.
A narrativa é boa, flui (eu só demorei para ler porque li no kobo, e só uso o meu para ler fora de casa, e tenho passado bastante tempo em casa depois que tranquei a faculdade, só trabalho à tarde). A trama é envolvente, e o mistério pode até ser meio previsível, mas como acontece em O Chamado do Cuco, só é revelado mesmo no final, e tem umas reviravoltas que eu também só descobri no final mesmo. A história é contada em primeira pessoa pelo Guardião, por isso também que não dá para confiar muito no mistério, porque ele relata tudo do seu ponto de vista, e ele tem muitos desafetos. Daniel Polansky também criou uma mitologia própria, e um mundo rico e diverso, mesmo que facilmente identificável para nós. Agora é esperar que a sequência mantenha o nível (digo isso porque ultimamente andei me decepcionando um pouco com algumas).
Trilha sonora
From yesterday, do 30 Seconds to Mars foi á única que eu consegui pensar.
Se você gostou de O Guardião, pode gostar também de:
- O Chamado do Cuco – Robert Galbraith (aka J. K. Rowling);
- A Mão Esquerda de Deus – Paul Hoffmann;
- A Crônica do Matador de Reis – Patrick Rothfuss.
6 comentários:
Oi, Fê! Tudo bem? Eu não conhecia o livro, mas curti a premissa! Como você disse, personagens anti-heróis sempre acabam tendo um apelo muito grande e eu curti essa história do Guardião não revelar o seu nome. Seja por qual motivo for, fiquei com a impressão de que os livros irão desenvolver uma grande história com muitas reviravoltas no futuro... E fiquei curiosa também com relação a magia e como ela é usada nesse mundo. Enfim, adicionei na minha lista de desejados e espero conferi-lo logo! Bjs
Jess
Fernanda, eu vi uma colega de classe lendo esse livro a bastante tempo, mas não me interessei muito pela história, mas depois da sua resenha eu ficou um pouco empolgado, mas só um pouco, rs. Talvez, em um futuro distante, eu resolva lê-lo.
PS.: Onde você baixa livros? Eu baixo nesse site: http://lelivros.club/ tem quase 3000 livros, mas alguns que me interessam eu não consigo achar :(
Abraços,
Vitor
Oi gente!
Jess, acho que a história só tende a melhorar. Eu também adoro anti-heróis, e o Guardião é muito bem trabalhado.
Vitor, engraçado você não se interessar porque é exatamente o tipo de livro que você gostaria, sério. E acho que baixei nesse site que você falou mesmo.
Beijo!
Fê
Oi gente!
Jess, acho que a história só tende a melhorar. Eu também adoro anti-heróis, e o Guardião é muito bem trabalhado.
Vitor, engraçado você não se interessar porque é exatamente o tipo de livro que você gostaria, sério. E acho que baixei nesse site que você falou mesmo.
Beijo!
Fê
Muito legal, Fê. Mas já tenho tantas séries de fantasia medieval para ler que vou passar essa. Nem procuro mais nenhuma hehe.
Beijos.
Oi Na!
Eu gostei bastante desse primeiro, viu? Quem sabe um dia você se anima a ler?
Beijo!
Fê
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