segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

O Inverno das Fadas – Carolina Munhóz

 

Inverno das fadasEXISTEM PESSOAS NORMAIS em nosso planeta. Homens e mulheres simples que nascem e morrem sem deixar uma marca muito grande ou mesmo significativa na humanidade. Mas existem outros que possuem talentos inexplicáveis. Um brilho próprio capaz de tocar gerações. Como eles conseguem ter esses dons? De onde vem a inspiração para criar trabalho maravilhosos? São cantores com vozes de anjos, artistas com mãos de criadores e escritores imortais. Existe uma explicação para isso. Sophia é uma Leanan Sídhe, uma fada-amante, considerada musa para humanos talentosos. Ela é capaz de seduzir e inspirar um homem a escrever um best-seller ou criar uma canção para se tornar um hit mundial. A fada dá o poder para que a pessoa se torne uma estrela, um verdadeiro ícone, ao mesmo tempo em que se aproveita da energia do escolhido para alimentar-se. Causando loucura. E MORTE.

Já fazia um tempo que este livro estava na minha estante, só esperando. E já havia visto algumas coisas boas a respeito dele, então resolvi arriscar. E não precisava de mais nada para me convencer do que o fato de a Carolina Munhóz fazer parte do Potterish.

Sophia (gostei do nome, como da minha gata) é uma fada. Mais precisamente ela é uma Leanan Sídhe, uma fada sedutora. Ela precisa recarregar as energias sugando dos seres humanos, não necessariamente do sexo masculino. E o modo de fazer isso é pelo sexo. Ou seja, esse livro não é uma fantasia infantil. Ela se prepara para o ano novo das fadas, que acontece no nosso Halloween, e é nesta celebração que ela conhece sua próxima presa: William. Ele é um escritor extremamente talentoso, e em troca de ganhar um dom acima da média, ele só precisa dar sua vida para que Sophia recarregue as suas energias. E Sophia está cansada disso, depois de tanto tempo. Não que ela possa fazer algo a respeito, é só a natureza dela. E ela se sente muito mal depois que seu alvo morre.

Só que William é um caso diferente. Para começar, é ele quem exerce poder sobre ela, e não o contrário. Isso fica claro já no primeiro encontro. O que há de errado com ele? Por que ele parece não ser afetado por ela? Será que finalmente Sophia, a fada que não pode amar encontrou o amor? Só que ela continua sendo uma Leanan Sídhe, e a vida de William continua em risco pelo simples fato de ter Sophia por perto. Agora, ela terá que lutar com todas as forças e contra todo o seu povo para conseguir ficar ao lado de seu amado para sempre.

Sophia é a única personagem um pouco mais trabalhada no livro. Ela luta constantemente contra sua natureza e tem muitos questionamentos. É determinada e corajosa, porém também um tanto fútil e um pouco cheia de si mesma. OK, dá para engolir porque faz parte de sua natureza. Mas no fundo, ela só faz isso mesmo por causa de William,e confesso que isso é um tanto irritante. Não vejo nela um motivo mais forte nem um crescimento muito significativo durante a trama. E William pode até ser um escritor hipertalentoso, mas na verdade é um (desculpe a expressão) bunda-mole. Ele não tem a inocência que torna outros personagens adoráveis, mas sua total apatia é patética e sinceramente ele não é material para personagem principal. E nem é o tipo de mocinho que desperta paixões na gente.

A trama é interessante, e dá para perceber que Carolina bebeu na fonte de Avalon. O que eu já disse que não é problema nenhum, só que a autora não teve maturidade para desenvolver bem a trama, que é fraca e falha. Só que há muita enrolação e às vezes a história empaca. Não que a leitura seja difícil, pelo contrário, é fluida, mas é que nada acontece, só explicações detalhadas dos costumes e rituais. Sinceramente eu me decepcionei um pouco com o livro, esperava mais. Talvez ele seja meloso demais para o meu gosto. Também a menção de inúmeros ídolos pop que morreram, sem a preocupação de disfarçar as características, foi um exagero. Entendo que ela talvez tenha tentado fazer uma homenagem, mas poderia ser mais sutil, e isso fala contra a criatividade dela. Não vou mencionar quem são, mas ao ler fica óbvio de quem ela está falando. E novamente, essas descrições acabam tomando um espaço desnecessário, quando ela poderia estar elaborando a trama melhor. Outras tramas paralelas que poderia ser desenvolvidas perdem espaço para o romance água-com-açúcar. Porém, no final melhora um pouco, e quase dá uma guinada legal. Mas quase só. Faltou também um vilão bem desenvolvido. Até existe um, além da própria natureza da fada, mas apareceu pouco e suas motivações deixaram muito a desejar. Uma coisa legal, que poderia ter funcionado bem, é que a autora dá os nomes dos capítulos de acordo com versos de músicas, que estão todas listadas ao final, mas na maior parte das vezes elas parecem jogadas e não fazem muito sentido. E a lista de músicas do final foi outra coisa que me atraíram para o livro. Mas faltou um pouco de maturidade e profundidade à narrativa.

E aqui, se me permitem, abro uma discussão: o que leva o livro a ser classificado como juvenil, ou Y/A? É o sexo? Porque é exatamente o que ela deixa implícito no podcast sobre Jogos Vorazes - Em Chamas. Enquanto o podcast em geral é legal, me peguei pensando em como isso se reflete na obra dela. O que quero dizer é o seguinte: enquanto ela classifica THG como juvenil por não ter sexo (e, convenhamos, isso nem é o essencial da trilogia), é com certeza muito mais maduro que este livro dela (não conheço os outros dela para falar, mas se seguirem a mesma linha, então se aplica também). E também, o que dizer de obras como O Senhor dos Anéis ou Os Miseráveis, que não tem um pingo de sexo, mas que ninguém em sã consciência sonharia em classificar como juvenis? E eu poderia outros exemplos de livros classificados como juvenis pela falta de sexo, e que são mil vezes mais maduros que o dela. E outras, como Ahmnat, que tem cenas de sexo veladas (algumas, na verdade, nem tanto) e eu vejo constantemente na prateleira dos juvenis das livrarias? Só penso em como isso é errado, e o que há de errado com quem classifica os livros. Será que o povo não lê para classificar? E só para deixar bem claro, não é por você escrever cenas de sexo elaboradas e jogá-las em seu livro que faz da história adulta. Na verdade, o sexo só pelo sexo no livro até infantiliza e desvaloriza a narrativa. Só para pensar.

Trilha sonora

Como eu disse, ela listou as músicas no final do livro, mas não vou falar de todas, porque são muitas e não gosto de todas. Então vou me ater às que eu gosto mais e que tem um pouco a ver com a narrativa: Whataya want from me, Pink e Andam Lambert; Numb e Leave out all the rest, do Linkin Park; My immortal; e Broken, Seether feat. Amy Lee.

Se você gostou de O Inverno da Fadas, pode gostar também de:

  • saga Crepúsculo – Stephenie Meyer;
  • House of Night – P. C. e Kristin Cast;
  • As brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley.

3 comentários:

Nadia Viana disse...

Bom saber que o livro não é lá essas coisas. Não vou nem tentar. Gostei muito da sua discussão sobre a classificação dos livros, mas eu li que tem a ver com idade alvo mesmo, que muitas vezes coincide com a idade dos personagens. YA é de 14 a 21 mais ou menos. New adult são os adultos no início da fase de responsabilidade lá pelos 20 e poucos. Mas de qualquer forma, todo critério é relativo porque existem histórias adultas com protagonistas crianças como O Menino do Pijama Listrado, Caçador de Pipas, etc. Mas certamente as cenas sexo não deveriam ser um critério.

Beijos.

Jéssica Soares disse...

Oi, Fernanda! Tudo bem? Esse é um livro que eu estou louca para ler, ou estava até ler sua resenha... Até onde percebi, a Carolina não só bebe na fonte de Avalon, mas também na série "Georgina Kincaid" da Richelle Mead... Fiquei bem decepcionada ao saber que a narrativa é infantilizada e os personagens não são desenvolvidos.
Sobre o que você falou da classificação de um livro, eu super concordo e assino embaixo. Um livro pode ter cenas de sexo, mas se elas estão ali sem propósito e se a história não tem profundidade ou amadurecimento, quem é que vai querer ler isso? Tá, gosto existe para tudo, mas histórias como "Jogos Vorazes" não podem ser consideradas só YA. Já vi vários "adultos" assistindo/lendo a série e falando que ela traz discussões bem profundas e desenvolvidas. THG é classificado como YA, mas é uma história que vai muito além.. Enfim, quero ainda ler "O Inverno das Fadas" para chegar as minhas conclusões, mas agora farei isso com uma expectativa não tão alta... Bjs
Jéssica

Fernanda Cristina Vinhas Reis disse...

Oi meninas!

Nádia, eu achava exatamente isso também, que tinha a ver com a idade dos protagonistas e o público-alvo, mas é bem o que você disse, tem livros adultos com protagonistas crianças, e aí, como faz? Eu coloquei mesmo só por causa do que ela mesma falou no podcast. Ela até reclama da falta de sexo em THG, o que nem é importante para a história.

Jess, sim, eu pensei nisso também, na Georgina Kincaid. Não li ainda, mas sendo da Richelle Mead, acredito que ela tenha desenvolvido a história bem. E concordo com THG, não acho que possa ser classificada como Y/A somente. Acho que tem tanta coisa ali para se explorar. E não vou dizer para você não ler este livro, faça isso sim, e tire as suas conclusões. Eu sempre faço isso, procuro não ler resenhas de livros que ainda não li e pretendo para que não seja influenciada.

Beijos!