Após interferir no massacre da família Dunning, Jake inicia uma nova vida na calorosa cidadezinha de Jodie, no Texas. Mas todas as curvas dessa estrada levam ao solitário e problemático Lee Harvey Oswald. O curso da história está prestes a ser desviado... com consequências imprevisíveis.
Em Novembro de 63, livro inédito de Stephen King, a viagem no tempo nunca foi tão plausível... e aterrorizante.
Já faz um tempo que eu terminei esse livro. Durante o carnaval, mais exatamente, mas ando tão ocupada que não tive tempo de comentar antes.
O livro começa com Jake Epping, um professor de escola secundária no interior do Maine, nos Estados Unidos em 2011.Abandonado pela esposa alcoólatra, que o trocou por um cara que conheceu no AA, Jake leva uma vida pacata, dando suas aulas e comendo na lanchonete do amigo Al.
Até que um dia, corrigindo as redações dos alunos adultos, Jake se depara com a história de Harry, o zelador da escola, que tem uma séria deformidade, resultado de ter sobrevivido ao massacre que o próprio pai executou na família. E esse fato vai mudar a vida de Jake de um modo que ele nunca imaginou possível.
Vendendo hambúrgueres a preços inacreditavelmente baixos, a lanchonete de Al não tem um fama lá muito boa, sendo que seus sanduíches são conhecidos como Gatobúrguer. Mas acontece que a lanchonete não é um local comum. Escondido dentro do freezer há um buraco de minhoca que leva o viajante diretamente a 1958. E, diante dessa possibilidade, Al convence Jake a ir para o passado para tentar salvar o presidente Kennedy do assassinato por Harvey Lee Oswald, e assim mudar definitivamente o rumo da história. Para melhor ou pior, só lendo para saber.
E, como cada vez que se entra pelo buraco de minhoca (ou a toca do coelho, como Al gosta de chamar), há um novo começo, e isso possibilita que possam ser feitas tentativas, caso a primeira não dê certo. E, abalado com a história de Harry, Jake decide experimentar e tenta primeiro salvar seu aluno. Só que tudo que alguém faz no passado tem repercussões no presente, e o passado é persistente, ele não quer ser mudado. Então, ao viajar para o passado, Jake vira George, e agora é um homem bem diferente.
Enquanto Jake tem a mentalidade de uma pessoa na casa dos 30 anos em 2011, e leva essas ideias para o passado, ele se assombra com a segregação, as ideias racistas e o tabagismo. Já George, apesar de ter os mesmos valores de Jake, é implacável, e não tem pudores na hora de fazer o que precisa ser feito para poder mudar o futuro. E quero mesmo dizer o necessário, mesmo que isso sejam atos impensáveis a Jake.
Mas como ele chega em 1958, e JFK só morre em 1963, Jake passa 5 anos no passado, como George, e chega um ponto em que um se confunde com o outro. E, claro, ele não fica esse tempo todo parado em um só lugar, mesmo porque ele volta para o Maine, e JFK morre no Texas. Então, depois de cuidar da família de Harry, ele parte para uma cidadezinha pequena chamada Jodie, no interior do Texas, próxima o suficiente de Dallas para continuar com seus planos de salvar o presidente e ficar de olho em Oswald.
Lá, ele arruma emprego de professor na escola secundária local, onde conhece Sadie, uma moça de 28 anos, saindo de um casamento abusivo, e tentando fugir do marido dominador. Jake se apaixona de cara por Sadie, e a história deles se desenrola de forma natural, e é forte o bastante para fazer Jake pensar seriamente se vai cumprir mesmo sua missão.
Sadie é uma mulher forte, simpática, inteligente, mas com sérios traumas devido ao casamento conturbado. E, de certa forma, é o complemento ideal para Jake/ George. Ambos são muito queridos pelos alunos, e tem muita química. Cada um é para o outro a cura dos traumas do passado.
Mas Jake é tão persistente quanto o passado, e mesmo amando Sadie com toda a sua alma, ele persiste no objetivo de parar Oswald. Para isso, ele o mantém sob vigilância constante. Oswald é mirrado, tem o QI um tanto limitado, e é facilmente influenciável por outros mais insidiosos que ele. E sofre de um complexo de inferioridade enorme, tudo cuidadosamente alimentado pela mãe dominadora, tanto que ele acredita piamente que seu destino é ser famoso e que JFK é o culpado pelo seu estado de pobreza e constante má sorte. E, tendo passado muito tempo na Rússia, Oswald sofreu uma lavagem cerebral profunda, e acredita que o socialismo é a solução para tudo no mundo. Assim, ele se torna peça facilmente manipulável no jogo de poder, e, sob a influência de "amigos" poderosos e ricos, ele vai lentamente elaborando seu plano de matar JFK. E como se isso não fosse suficiente, Oswald ainda é um marido abusivo para sua esposa russa, Marina.
Assim, depois de conhecer Oswald, Jake se convence de que está no caminho certo. Afinal, se JFK vive, a guerra no Vietnã não acontece, e muitos soldados americanos deixam de morrer no conflito. O Reverendo Martin Luther King não será assasinado em Memphis em abril de 68, e a marcha pelos direitos civis teria tomado outros rumos. A segregação acabaria mais cedo... mas será? Quais as possíveis consequências de salvar JFK? Uma coisa é salvar um aluno de uma tragédia terrível, outra muito diferente, é salvar o homem mais poderoso do mundo, cujas ações repercutem muito além de seu tempo. E não custa lembrar que JFK não foi um presidente assim tão bom. Os Estados Unidos sob seu governo sofria uma crise econômica grave para a época, e sua política externa era um desastre. Veja bem o fiasco da Baía dos Porcos. Mas, como sempre acontece, depois de morto, ele foi endeusado e todos se perguntam se não teria sido melhor se ele vivesse. Um professor de história meu dizia que a melhor coisa que JFk fez foi morrer. Assim como Getúlio qui no Brasil.
Um livro cheio de reviravoltas, numa narrativa deliciosa e fluida, que envolve a gente em cada palavra, e que dá para ler bem rápido, mesmo para suas mais de 700 páginas. E, claro, sendo de Stephen King, o livro ainda tem detalhes pra lá de aterrorizantes. As consequências dos atos de Jake em 2011 são devastadoras, e o final é inesperado e leve. Uma viagem deliciosa pelo tempo.
Trilha sonora
It´s the end of the world as we know it, do REM; We didn´t start the fire, Billy Joel (uma aula de história americana em 4 minutos, confira a letra); e, claro, não podemos falar de viagem no tempo sem incluir essa música:Back in time, clássico do Huey Lewis and the News.
Se você gostou de Novembro de 63, pode gostar também de:
- Under the Dome - Stephen King;
- trilogia do Século - Ken Follett.