domingo, 13 de março de 2016

Novembro de 63 - Stephen King

A vida pode mudar num instante, e dar uma guinada extraordinária. É o que acontece com Jake Epping, um professor de inglês de uma cidade do Maine. Enquanto corrigia as redações dos seus alunos do supletivo, Jake se depara com um texto brutal e fascinante, escrito pelo faxineiro Harry Dunning. Cinquenta anos atrás, Harry sobreviveu à noite em que seu pai massacrou toda a família com uma marreta. Jake fica em choque... mas um segredo ainda mais bizarro surge quando Al, dono da lanchonete da cidade, recruta Jake para assumir a missão que se tornou sua obsessão: deter o assassinato de John Kennedy. Al mostra a Jake como isso pode ser possível: entrando por um portal na despensa da lanchonete, assim chegando ao ano de 1958, o tempo de Eisenhower e Elvis, carrões vermelhos, meias soquete e fumaça de cigarro. 

Após interferir no massacre da família Dunning, Jake inicia uma nova vida na calorosa cidadezinha de Jodie, no Texas. Mas todas as curvas dessa estrada levam ao solitário e problemático Lee Harvey Oswald. O curso da história está prestes a ser desviado... com consequências imprevisíveis.

Em Novembro de 63, livro inédito de Stephen King, a viagem no tempo nunca foi tão plausível... e aterrorizante. 


Já faz um tempo que eu terminei esse livro. Durante o carnaval, mais exatamente, mas ando tão ocupada que não tive tempo de comentar antes. 

O livro começa com Jake Epping, um professor de escola secundária no interior do Maine, nos Estados Unidos em 2011.Abandonado pela esposa alcoólatra, que o trocou por um cara que conheceu no AA, Jake leva uma vida pacata, dando suas aulas e comendo na lanchonete do amigo Al.

Até que um dia, corrigindo as redações dos alunos adultos, Jake se depara com a história de Harry, o zelador da escola, que tem uma séria deformidade, resultado de ter sobrevivido ao massacre que o próprio pai executou na família. E esse fato vai mudar a vida de Jake de um modo que ele nunca imaginou possível.

Vendendo hambúrgueres a preços inacreditavelmente baixos, a lanchonete de Al não tem um fama lá muito boa, sendo que seus sanduíches são conhecidos como Gatobúrguer. Mas acontece que a lanchonete não é um local comum. Escondido dentro do freezer há um buraco de minhoca que leva o viajante diretamente a 1958. E, diante dessa possibilidade, Al convence Jake a ir para o passado para tentar salvar o presidente Kennedy do assassinato por Harvey Lee Oswald, e assim mudar definitivamente o rumo da história. Para melhor ou pior, só lendo para saber.

E, como cada vez que se entra pelo buraco de minhoca (ou a toca do coelho, como Al gosta de chamar), há um novo começo, e isso possibilita que possam ser feitas tentativas, caso a primeira não dê certo. E, abalado com a história de Harry, Jake decide experimentar e tenta primeiro salvar seu aluno. Só que tudo que alguém faz no passado tem repercussões no presente, e o passado é persistente, ele não quer ser mudado. Então, ao viajar para o passado, Jake vira George, e agora é um homem bem diferente.

Enquanto Jake tem a mentalidade de uma pessoa na casa dos 30 anos em 2011, e leva essas ideias para o passado, ele se assombra com a segregação, as ideias racistas e o tabagismo. Já George, apesar de ter os mesmos valores de Jake, é implacável, e não tem pudores na hora de fazer o que precisa ser feito para poder mudar o futuro. E quero mesmo dizer o necessário, mesmo que isso sejam atos impensáveis a Jake.

Mas como ele chega em 1958, e JFK só morre em 1963, Jake passa 5 anos no passado, como George, e chega um ponto em que um se confunde com o outro. E, claro, ele não fica esse tempo todo parado em um só lugar, mesmo porque ele volta para o Maine, e JFK morre no Texas. Então, depois de cuidar da família de Harry, ele parte para uma cidadezinha pequena chamada Jodie, no interior do Texas, próxima o suficiente de Dallas para continuar com seus planos de salvar o presidente e ficar de olho em Oswald.

Lá, ele arruma emprego de professor na escola secundária local, onde conhece Sadie, uma moça de 28 anos, saindo de um casamento abusivo, e tentando fugir do marido dominador. Jake se apaixona de cara por Sadie, e a história deles se desenrola de forma natural, e é forte o bastante para fazer Jake pensar seriamente se vai cumprir mesmo sua missão. 

Sadie é uma mulher forte, simpática, inteligente, mas com sérios traumas devido ao casamento conturbado. E, de certa forma, é o complemento ideal para Jake/ George. Ambos são muito queridos pelos alunos, e tem muita química. Cada um é para o outro a cura dos traumas do passado.

Mas Jake é tão persistente quanto o passado, e mesmo amando Sadie com toda a sua alma, ele persiste no objetivo de parar Oswald. Para isso, ele o mantém sob vigilância constante. Oswald é mirrado, tem o QI um tanto limitado, e é facilmente influenciável por outros mais insidiosos que ele. E sofre de um complexo de inferioridade enorme, tudo cuidadosamente alimentado pela mãe dominadora, tanto que ele acredita piamente que seu destino é ser famoso e que JFK é o culpado pelo seu estado de pobreza e constante má sorte. E, tendo passado muito tempo na Rússia, Oswald sofreu uma lavagem cerebral profunda, e acredita que o socialismo é a solução para tudo no mundo. Assim, ele se torna peça facilmente manipulável no jogo de poder, e, sob a influência de "amigos" poderosos e ricos, ele vai lentamente elaborando seu plano de matar JFK. E como se isso não fosse suficiente, Oswald ainda é um marido abusivo para sua esposa russa, Marina.

Assim, depois de conhecer Oswald, Jake se convence de que está no caminho certo. Afinal, se JFK vive, a guerra no Vietnã não acontece, e muitos soldados americanos deixam de morrer no conflito. O Reverendo Martin Luther King não será assasinado em Memphis em abril de 68, e a marcha pelos direitos civis teria tomado outros rumos. A segregação acabaria mais cedo... mas será? Quais as possíveis consequências de salvar JFK? Uma coisa é salvar um aluno de uma tragédia terrível, outra muito diferente, é salvar o homem mais poderoso do mundo, cujas ações repercutem muito além de seu tempo. E não custa lembrar que JFK não foi um presidente assim tão bom. Os Estados Unidos sob seu governo sofria uma crise econômica grave para a época, e sua política externa era um desastre. Veja bem o fiasco da Baía dos Porcos. Mas, como sempre acontece, depois de morto, ele foi endeusado e todos se perguntam se não teria sido melhor se ele vivesse. Um professor de história meu dizia que a melhor coisa que JFk fez foi morrer. Assim como Getúlio qui no Brasil.

Um livro cheio de reviravoltas, numa narrativa deliciosa e fluida, que envolve a gente em cada palavra, e que dá para ler bem rápido, mesmo para suas mais de 700 páginas. E, claro, sendo de Stephen King, o livro ainda tem detalhes pra lá de aterrorizantes. As consequências dos atos de Jake em 2011 são devastadoras, e o final é inesperado e leve. Uma viagem deliciosa pelo tempo.

Trilha sonora

It´s the end of the world as we know it, do REM; We didn´t start the fire, Billy Joel (uma aula de história americana em 4 minutos, confira a letra); e, claro, não podemos falar de viagem no tempo sem incluir essa música:Back in time, clássico do Huey Lewis and the News.

Se você gostou de Novembro de 63, pode gostar também de:


  • Under the Dome - Stephen King;
  • trilogia do Século - Ken Follett.