sábado, 22 de novembro de 2014

1984 – George Orwell

 

Winston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. O’Brien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que 'só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade - só o poder pelo poder, poder puro.'

Como estou tentando sair da minha zona de conforto literária (aka fantasia e ficção histórica), já fazia um tempo que eu estava para ler este livro. Ele estava só me esperando na estante. E não me arrependi dessa guinada. Eu já tinha visto coisas boas sobre o livro, e pude comprovar que é mesmo muito bom.

Winston Smith, o protagonista de 1984, é um homem de 39 anos, comum, que trabalha para o Ministério da Verdade, ou Miniver em Novafala. Ele é encarregado de ler e corrigir antigos jornais e publicações, editando de acordo com o que o Partido quer que seja a verdade. Complicou? É assim: suponha que no Brasil o governo controle a imprensa, e a distribuição de chocolate para cada cidadão. Ano passado nossa cota era de 30 g, mas ontem saiu um edital dizendo que nossa nova cota é de 20 g. É trabalho de Winston ir atrás da Folha de São Paulo do ano passado, encontrar o artigo que diz que nossa cota é de 30 g e corrigir, dizendo que agora é de 20 g. Ou se por acaso saísse uma estatística desfavorável ao governo, é obrigação de Winston encontrar o dado e alterar o número a fim de que o Grande Irmão apareça como grande salvador da pátria, e desta forma, assegurar que todos amem o Grande Irmão.

“Foi informado de que houvera inclusive manifestações de agradecimento ao Grande Irmão pelo fato de ter elevado a ração de chocolate para 20 g por semana. Sendo que ainda ontem, refletiu, fora anunciada a redução da ração para 20 gramas por semana. Seria possível as pessoas engolirem aquela, passadas apenas vinte e quatro horas do anúncio? Sim, engoliam.” (p. 75 – 76)

Winston vive na Oceânia, uma das três potências que restaram depois das guerras atômicas. A Oceânia no momento está me guerra com a Eurásia, e em paz com a Lestásia, mas essas guerras se alternam. Só que pela mutabilidade do passado, sempre parece que as guerras com cada uma das nações vizinhas independentemente sempre aconteceu. Assim, o controle do governo sobre a população é total. Até mesmo pensamentos são proibidos, e sempre, sempre, a vigília do Grande Irmão pelas teletelas. Os trabalhadores do governo, que vivem melhor, mas tem ainda menos liberdade que os proletas, sempre devem usar um macacão horroroso como uniforme. Em outras palavras, é o comunismo levado ao extremo.

Mas Winston não se encaixa nesse perfil dos habitantes de Oceânia. Ele tem uma mente inquieta e curiosa, reflete muito sobre o que acontece, como no trecho acima, mantém um diário, o que é contra a lei, por se tratar de um pesamentocrime, e sonha com uma revolução dos proletas. Para ele, eles são o futuro, eles são os vivos. Não que Winston escape totalmente do controle do Grande Irmão. Ele tem medo sim de ser descoberto, e quando aparece em sua vida Julia, ele pensa logo que tem que eliminá-la para se salvar.

Só que Julia n]ao quer denunciar Winston. Ele na verdade o ama, e a partir do momento que ela entra na vida de Winston para valer, o livro fica mais legal. É aí que Winston realmente acorda, e começa a desafiar, a seu modo, o sistema. Veja bem, até mesmo manter um relacionamento com alguém é proibido, a não ser que seja aprovado pelo Partido. Sexo só serve mesmo para fins de reprodução. E ao se relacionar com Julia, Winston está quebrando um dos grandes paradigmas do Partido. Julia pertence a uma facção, vamos dizer assim, do Partido, que usa uma faixa vermelha na cintura, sinal de castidade. O que não a impediu de manter relações sexuais com diversos parceiros ante de Winston, incluindo membros proeminentes do próprio Partido, que prega o fim do orgasmo. Julia odeia o Partido, e encontra em Winston um companheiro ideal. Ela é o ponto de alívio do livro.

E assim, Winston e Julia levam a vida, se escondendo do Partido e planejando a Revolução. Winston nesse sentido é mais ativo que Julia. Ela, até por ser bem mais nova que ele, se rebela nas palavras, mas não se interessa muito pelo que realmente está por trás de tudo. Até que Winston conhece no trabalho O´Brien. Instantaneamente, Winston sente uma conexão com O`Brien, e começa aí uma amizade improvável. O´Brien faz parte de um grupo contrário ao Partido, chamado de Confraria, e convida Winston e Julia a fazerem parte dele, o que os dois estão mais que preparados e dispostos a fazer, custe o que custar. O`Brien é mais soturno que Winston e Julia.

A narrativa é densa, mas não difícil. Não é sentimental, mas bem prática, e concisa. E também bem descritiva, (SPOILER) as cenas de tortura de Winston são angustiantes, bem como a descrição da vida na Oceânia. Esqueci de falar que o governo é absolutamente totalitário, e que não há noção de indivíduo, e as pessoas vivem (mal) em uma total ilusão. O livro é muito bom, só não ganhou 5 estrelinhas no skoob por motivos que vou explicar no próximo parágrafo, mas é muito bem estruturado e desenvolvido. Leitura obrigatória.

(ATENÇÃO! SPOILERS NESTE PARÁGRAFO! SE VOCÊ NÃO LEU O LIVRO, PULE!) O que não me agradou. Winston tenta começar uma Revolução, mas ela acaba não acontecendo. Winston e Julia são traídos, presos e torturados, e no fim, o Partido continua no poder, as pessoas continuam tão alienadas quanto no começo, e Winston se dobra às regras do Partido. Eu queria que houvesse essa revolução, e que o Grande Irmão fosse destronado. Por outro lado, como desconstrução do indivíduo, o livro é perfeito. E a frase final do livro é bem forte, e também uma grande sacada. E veja bem, não estou diminuindo a narrativa de George Orwell, acho que o objetivo dele era exatamente esse, mostrar que todos nós temos o nosso ponto de quebra, e que podemos ser dominados. E nesse sentido, o livro é brilhante. Genial mesmo. E temos que levar em consideração que livro foi escrito e publicado em 1949, logo depois do fim da II Guerra Mundial, o mundo acabava de ser dividido em dois, e o comunismo era visto como o grande mal. E a narrativa de George Orwell reflete exatamente isso, assim como Mordor representa a Alemanha nazista e Sauron é a personificação de Hitler para Tolkien. Uma distopia densa e uma aula de História, é isso que 1984 é.

Trilha sonora

Só consegui pensar em Another brick in the wall, do Pink Floyd, e ela é perfeita não só pela letra (we don´t need no education, we don´t need no thought control), mas porque o clipe  (que eu acho extremamente perturbador, aliás) resume bem o que eu imagino como a vida na Oceânia.

Filme

O filme de 1984 (o ano de lançamento, não o nome) é muito bom também. Tão denso e perturbador quanto o livro, com atuações maravilhosas de John Hurt e Richard Burton. A fotografia é sombria e a ambientação é rústica e decadente, combina com o clima do livro. E é bem fiel ao livro também, as coisas só acontecem mais rápido. Mas, se você não assistiu, eu recomendo que leia o livro primeiro, justamente porque por ser mais rápido, há a possibilidade de você se perder um pouco nos termos em Novafala e na estrutura geral.

Se você gostou de 1984, pode gostar também de:

  • A Revolução dos Bichos – George Orwell;
  • Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley;
  • Farenheit 451 – Ray Bradbury;
  • Laranja Mecânica – Anthony Burgess;
  • Jogos Vorazes – Suzanne Collins;
  • Divergente – Veronica Roth.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Eternidade por um Fio – Trilogia do Século #3 – Ken Follett

 

Durante toda a trilogia O Século, Ken Follett narrou a saga de cinco famílias americana, alemã, russa, inglesa e galesa. Agora seus personagens vivem uma das épocas mais tumultuadas da história, a enorme turbulência social, política e econômica entre as décadas de 1960 e 1980, com a luta pelos direitos civis, assassinatos, movimentos políticos de massa, a guerra do Vietnã, o Muro de Berlim, a Crise dos Mísseis de Cuba, impeachment presidencial, revolução... e rock and roll! Na Alemanha Oriental, a professora Rebecca Hoffman descobre que durante anos foi espionada pela polícia secreta e comete um ato impulsivo que afetará sua família para o resto de suas vidas. George Jakes, filho de um casal mestiço, abre de mão de uma brilhante carreira de advogado para trabalhar no Departamento de Justiça de Robert F. Kennedy e acaba se vendo não só no meio do turbilhão da luta pelos direitos civis, como também numa batalha pessoal. Cameron Dewar, neto de um senador, aproveita a chance de fazer espionagem oficial e extraoficial para uma causa em que acredita, mas logo descobre que o mundo é um lugar muito mais perigoso do que havia imaginado. Dimka Dvorkin, jovem assessor de Nikita Khruschev, torna-se um agente primordial no Kremlim, tanto para o bem quanto para o mal, à medida que os Estados Unidos e a União Soviética fazem sua corrida armamentista que deixará o mundo à beira de uma guerra nuclear. Enquanto isso, as ações de sua irmã gêmea, Tanya, a farão partir de Moscou para Cuba, Praga Varsóvia e para a história. Como sempre acontece nos livros de Ken Follett, o contexto histórico é brilhantemente pesquisado, a ação é rápida, os personagens são ricos em nuances e emoção. Com a mão de um mestre, ele nos leva a um mundo que pensávamos conhecer, mas que nunca mais vai nos parecer o mesmo.

Fechando a saga das cinco famílias que se inicia em Queda de Gigantes e sobrevive à Primeira Guerra Mundial e à Revolução Russa, e mesmo assim assistem os horrores da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Civil Espanhola (acabei de lembrar que esqueci de recomendar assistir O Labirinto do Fauno na resenha do livro, mas assistam. Uma fantasia gótica triste que tem como pano de fundo a Guerra Civil) em Inverno do Mundo, agora é a Guerra Fria e suas consequências que servem de cenário para os descendentes de Maud, Lev, Grigori, Werner e cia. do primeiro. Agora são seus netos e filhos que tem que viver no mundo delineado pelas escolhas de seus antepassados, tanto do primeiro livro como do segundo.

Eu na verdade nem sei por onde começo a comentar esse livro. São tantos personagens interessantes, tantos acontecimentos marcantes, que fica difícil e parece injusto escolher um em favor do outro. Este começa em 1961, na Alemanha dividida em dois governos: o capitalista e democrático ocidental, e o autoritário e socialista oriental. O Muro ainda não se ergueu, mas as pessoas precisam tomar muito cuidado ao atravessar de um lado de Berlin para outro. Rebecca, filha adotiva de Carla e Werner, mora com sua família (a mãe, pai, irmãos e marido) do lado errado de Berlin, embora Werner, agora um empresário dono de uma fábrica de TVs, tenha que trabalhar do lado ocidental. Rebecca tem opinião formada sobre o governo, e sua família é famosa exatamente por causa de sua posição política. Isso é um ponto muito importante, porque vai impedir a passagem de membros dela para o lado ocidental mais para a frente. Rebecca é casada com Hans, e o casamento não é lá dos melhores, embora ela ache que o marido é bom. Na verdade, não sinto muita afinidade entre os dois. E isso vai se explicar, mas eu não vou falar o que é. Basta dizer que por causa de um ato impensado de Rebecca, a família toda vai sofrer com a polícia secreta, a Stasi. Rebecca consegue fugir quando o Muro sobe. E tenho que dizer que é angustiante ler o Muro subindo, e o desespero das pessoas que se viram de um dia para o outro numa cidade dividida, famílias e amigos sendo forçados a se separarem por causa do Muro. Ken Follett descreveu com muita habilidade esta parte. Um detalhe que acabei de perceber. O livro é dividido em várias partes, cada uma com um título que anuncia o que vem, e o período que cobre. A primeira se chama Muro, e a última também. Olha só o cuidado: o livro começa com o Muro sendo erguido, e termina com ele caindo (ah vá! Não sabia que o Muro cai? Isso não é spoiler!). Vou falar mais disso mais tarde.

Seu irmão Walli, agora um jovem de 15 anos que sonha em ser uma estrela do rock ao estilo Beatles (Coração vermelhoCoração vermelhoCoração vermelho) e Rolling Stones, é idealista e enfrenta o governo a seu modo, cantando músicas proibidas. Walli se envolve com uma parceira musical, Karolin, mas por causa da pouca liberdade para compor e cantar as músicas que quer (ou até mesmo ouvi-las), ele decide fugir da Alemanha Oriental. E nessa fuga uma tragédia tem lugar, e ele então é perseguido para ser preso. Walli consegue fugir, vou dar esse spoilerzinho, porque ele é importante. Essa fuga vai separar Walli completamente de sua família, e isso vai ter um impacto muito grande em sua vida. Ele perde muito mais do que Rebecca ao fugir. E ele vai passar por momentos muito difíceis. Mas também passará por um lado muito bacana, realizando seu sonho de ser rock´n´roll star. E aqui, mas uma vez, Ken Follett fez um belo trabalho descrevendo o que a fama pode fazer com o indivíduo: ela pode ser a salvação, mas, mais frequentemente que não, ela é a ruína.

E quem é a salvação de Walli, em ambos os casos, é Dave Williams, seu primo, filho de Lloyd e Daisy. Dave é músico também, e logo os dois primos se entendem. E Dave tem a mesma ambição de viver da música que Walli. E vindo de uma família também politizada, Dave também tem opiniões fortes (um fato do final que ele fez é sensacional! E muito corajoso) e é também teimoso. Dave é disléxico, mas não sabe disso, nem sua família, que o vê como preguiçoso. E isso vai causar muitos atritos com Lloyd. Dave é uma lufada de ar, com sua personalidade leve e otimismo. Sua irmã, Evie, é uma atriz e também muito engajada politicamente. É forte, independente e faz o que quer, incluindo uma performance da loucura de Ofélia, em Hamlet, nua, aos 15 anos. Evie tem uma queda por Jasper Murray, filho de Eva Murray, a judia que Daisy acolheu me sua casa no anterior. E por isso, Jasper, um pobretão sem perspectivas, mas que se acha a última Bono de chocolate do pacote, vive com os Williams, mas é mesmo um parasita de primeira. É oportunista, e não poupa ninguém, desde que ele leve vantagem. Jasper acaba se tornando um jornalista investigativo importante, e seu mau-caráter acaba se desfazendo quando ele presencia o assassinato de Martin Luther King (daqui a pouco alo mais) e de passar um ano lutando pelos americanos no Vietnã.

E falando em Martin Luther King, vamos para o núcleo que luta pelos direitos civis nos EUA. George Jakes, filho de Greg Peshkov, e primo de Dave, é um jovem que presencia em primeira mão a luta pelos direitos civis e a dessegregação nos EUA. George é o filho que Greg teve com Jacky, que mesmo com idade mais avançada, continua sagaz. George é bastardo, não reconhecido oficialmente, mas que todo mundo sabe. Afinal, Greg, seu pai, é congressista. E por isso mesmo George acaba enveredando pela política. Ele estudou em Harvard, e se formou advogado, mas abriu mão de uma carreira em uma firma grande de Washington para ingressar na equipe de Bobby Kennedy, irmão de John F. Ele sabe que na verdade ele é mais um cargo decorativo, só para mostrar para o mundo que o governo Kennedy aceita afro-descendentes. Mas mesmo assim, ele vai tentar fazer o melhor com seu cargo para tentar garantir direitos iguais a afro-descendentes nos EUA. Ele presencia o assassinato de John F. Kennedy, e isso tem um grande impacto em sua carreira, bem como outras coisas que ele passou em sua luta contra a segregação. George é idealista no começo, e sendo criado no norte liberal, não tem uma ideia muit0 clara do que é realmente a segregação racial no sul, até que ele mesmo sofre com isso. George é racional, e provavelmente o personagem mais estável do livro. A seu lado está Maria, uma bela negra que viaja com ele desde o começo, e que além de lutar contra a segregação, também acaba se tornando uma feminista engajada. Mas ela não é falível, e comete umas besteiradas durante a história. E também preciso destacar Verena, uma mestiça filha de um ator negro e uma atriz de teatro branca. Verena é volúvel e um tanto deslumbrada. Mas tem papel importante na luta contra a segregação, trabalhando ao lado do reverendo Martin Luther King.

E na Rússia temos os primos de George, Dimka e sua irmã gêmea Tania. Tania trabalha para  o TASS, a imprensa oficial do governo, mas secretamente investiga o próprio governo , denunciando os abusos do regime comunista. E por isso acaba sendo transferida para Cuba, onde presencia de perto a Crise dos Mísseis. Já Dimka trabalha como assessor de Khrushchev, e tem uma visão mais romaceada do comunismo, acreditando que o sistema funciona, mas que pode sofrer alguns ajustes (oh, sweet summer child!). Mas ele vai ter suas convicções abaladas mais tarde, e isso vai fazer com que ele veja o mundo de forma diferente.

O livro é muitíssimo bem escrito, os acontecimentos são explicados de forma clara e sem enrolação. Mas para mim, as partes que mais valeram a pena foram, como já disse ali em cima, o aparecimento do Muro de Berlin, mas também sua queda, narrada quase como um sonho, do ponto de vista de Walli e Rebecca, do lado ocidental, e de Lili (irmã de Walli) e Karolin do lado oriental. As pessoas não acreditavam que era o fim, depois de conviver com aquela muralha por tantos anos. Também o discurso de Martin Luther King, “Eu tenho um sonho.”

“Eu tenho um sonho que um dia esta nação se erguerá e e realizará o verdadeiro significado de sua crença: temos estas verdades como evidentes, de que todos os homens são criados iguais.” (p. 440)

Ken Follett descreve tão bem esse evento que somos transportados para aquele 28 de agosto de 1963 em Washington (leia mais aqui). É muito emocionante.

Outra passagem foi a do assassinato de Kennedy, e ver o efeito que isso teve no país, mesmo que a melhor coisa que Kennedy tenha feito foi exatamente ser morto. Veja bem, antes disso, ele estava com a popularidade bem em baixa por causa de sua falta de comprometimento maior com os direitos civis por um lado, pela Guerra no Vietnã, por outro, e pela própria política econômica na época. Mas foi ele morrer para gerar comoção, e quando o vice Lyndon Johnson assume, o país dá uma virada.

“Um tiro ecoou.
King cambaleou para trás, ergueu os braços como um homem na cruz, bateu na parede atrás dele, e caiu.” (p. 676)

Outra parte muito emocionante. O assassinato de Luther King. De novo, somos transportados para aquele 4 de abril de 1968 em Memphis, Tennessee. E parece que somos nós as vítimas do tiro.

Ken Follett fecha a trilogia do Século com chave de ouro, todas as pontas foram amarradas, todas as famílias no fim se conectam pelo casamento ou por relações distantes. Como diz Cornwell, o destino é inexorável, e neste caso aproximou inexoravelmente todos os personagens que foram apresentados em Queda de Gigantes. Para mim, este é o melhor dos três, talvez por relatar a História mais recente (gente, eu me lembro da Queda do Muro de Berlin!). Recomendo a leitura, principalmente para você que tem Che Guevara como ídolo, e que acha que a solução está no comunismo. Fica uma lição:

“Todos esses homens eram tiranos, torturadores e assassinos em massa. Stalin não havia sido excepcional, era típico dos líderes Comunistas. Qualquer regime político que permitisse que pessoas assim governassem era mau, refletiu Dimka.” (p. 970)

“E no fim, o Comunismo derrotou a si mesmo” (p. 995)

Trilha sonora

De cara, não dá para não associar Martin Luther King com Pride (in the name of love) (early morning, April four, a shot rings out, in the Memphis sky…), We didn´t start the fire, de Billy Joel, recontando todo o século XX em 4 minutos (veja a letra). Eu poderia citar várias dos Beatles, pois várias são citadas, mas vou ficar com Revolution, que não é citada, mas por motivos óbvios, e com Strawberry Fields Forever (essa com direito a reprodução do verso “Living is easy with eyes closed, Misunderstanding all you see” na p. 612), Gimme shelter, dos Rolling Stones (War, children, it´s just a shot away), Blowing in the wind, Joan Baez (que estava me Washington para a Marcha dos Direitos Civis), They stood up for love, do Live (those who stood up for love, down in spite all the hate) e Blue, da Chantal Kreviazuk (where were you, when they, wrote the news).

Se você gostou de Eternidade por um Fio, pode gostar também de:

  • Os Pilares da Terra – Ken Follett;
  • Mundo Sem Fim – Ken Follett;
  • Queda de Gigantes – Ken Follett;
  • Inverno do Mundo – Ken Follett;
  • 1984 – George Orwell;
  • A Revolução dos Bichos – George Orwell.

PS: eu sei que a postagem ficou longa, mas acredite, eu tentei resumir ao máximo. É que o livro é tão complexo e tão cheio de fatos relevantes e personagens bons que fica difícil.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Como treinar Seu Dragão 2

Louca como sou por Banguela e Soluço, eu tinha que ver esse filme. E já começo esse post com uma bronca, recorrente, aliás. Por quê, POR QUÊ, as distribuidoras insistem em passar filmes de animação somente dublados? OK, a grande parte do público para esse tipo de filme é constituído de crianças, mas boa parte também é composto de adultos como eu, que não gostam de assistir nada dublado. E tenho mais um motivo para ver esse filme em especial no áudio original, que vou falar daqui a pouco. Por isso, demorei para comentar, porque tive que esperar sair em blu ray para ver (não tenho paciência de baixar e não gosto de ver filme longo assim no computador. Depois, Banguela merece alta definição ;))

Cinco anos se passaram desde que Banguela chegou em Berk e conquistou até mesmo Stoick, o absolutamente estoico (trocadilho infeliz, eu sei, mas que já nasce pronto para ser usado). Agora Berk vive em paz, e o esporte local é a corrida de dragões, a vila passou por muitas modificações para acomodar nossos amigos incendiários, contando inclusive com um estábulo luxuoso e sistema de apagamento de fogo de emergência. Tudo projetado por Soluço.



Agora um jovem de vinte anos (O QUÊ? PÁRA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER!), Soluço se prepara para assumir o posto de chefe da tribo depois de Stoick. Posto que, claro, Soluço não almeja, e de novo Soluço encontra um modo de fuga. E agora, com dragões, o mundo cresceu muito além dos penhascos de Berk. E  numa dessas escapadas, ele acaba descobrindo um novo lugar. E ao investigar mais, conhece um bando de caçadores de dragões liderados por Eret, com a voz rouca e supersexy de Kit Harington (mini surto), e mais uma razão para que eu assistisse em inglês (eu lá ia perder isso?). E mesmo só com a voz, é perceptível a diferença drástica de personalidade do soturno ( e lindo) Jon Snow (e as pessoas ainda dizem que ele é inexpressivo...you know nothing, people!). Aliás, o personagem de Eret é responsável por alguns dos momentos mais engraçados do filme.



Só que Eret não trabalha sozinho, mas serve Drago, com a voz grave de Djimon Houson (escolha perfeita, aliás), líder implacável de um bando de vikings do lado negro da Força, que ambiciona capturar todos os dragões existentes e desta forma, dominar o mundo (o que faremos amanhã, Cérebro?). Drago tem um passado com Stoick, e esta já sabe muito bem o que isso significa quando Soluço traz a notícia de sua existência: guerra. E é para isso que ele vai tentar preparar Berk. Afinal, um bom líder se preocupa em proteger os seus.



Mas, para variar, Soluço tem outros planos, e decide que consegue persuadir Drago a não atacar Berk. E nessa, ele acaba tendo uma surpresa do destino: sua mãe, que se presumia morta por ter sido levada por um dragão quando Soluço era um bebê, aparece. E Soluço vai descobrir que tem muito em comum com Valka, com a voz da linda Cate Blanchet. E percebi que esqueci de mencionar as vozes de Jay Baruchel como Soluço e Gerard Butler (ai, esse sotaque!) como Stoick, também perfeitos. Destaque para Gerard Butler soltando o vozeirão (e que voz! Se você duvida, assista O Fantasma da Ópera com ele. Confira The Phantom of the Opera com ele. Sim, pessoas, é ele mesmo cantando, e Emmy Rossum também).



Muita tensão, aventuras e surpresas esperam Soluço e Banguela neste filme. E uma coisa que eu achei muito bacana foi que os personagens cresceram. De adolescente desengonçado, Soluço virou um jovem confiante e plenamente consciente de suas responsabilidades. Astrid também se firma como uma personagem feminina forte, os outros amigos de Soluço também, e as cenas de Snotlout e Fishlegs (desculpa pessoal, mas não sei os nomes em português) tentando conquistar Ruffnut são hilárias (mas a menina só tem olhos para Eret - hehehe. O que rende também ótimas tiradas). E eles não só amadureceram como também estão fisicamente mais maduros, o que eu adorei, porque em animações isso normalmente não acontece. Ponto para os roteiristas e designers. E não só os personagens cresceram, tudo é maior neste filme. Eu diria que assim como a diva linda queen goddess Rowling fez com Harry e cia., o filme cresceu na mesma medida que seus espectadores, mas sem deixar de conquistar também os novos fãs.

Nem vou comentar nada sobre a animação em si, ou os backgrounds, pois dispensam. Simplesmente lindos, e a sequência final, dos créditos, traz desenhos ainda mais lindos. A Dreamworks definitivamente se firma como uma concorrente á altura da Pixar. A trilha sonora é mais ou menos a mesma do primeiro, e acaba com a gostosinha Where no one goes, do Jonsi (que também é responsável pela delicinha Sticks ans Stones, do primeiro. E curiosidade: Jonsi é parte do Sigur Rós, que nos presenteou com esta versão de The Rains of Castamere).



Dificilmente uma sequência consegue ser tão boa quanto o primeiro, especialmente em se tratando de animações. As exceções ficam por conta deste e Toy Story (eu até poderia citar Shrek, mas deste eu só gosto dos dois primeiros, os que vieram depois são infinitamente inferiores, caindo no que eu falei há pouco). Um filme que vai fazer você rir, chorar e se apaixonar ainda mais por Banguela.


"Uma vez que você ganha a lealdade de um dragão, não há nada que ele não faça por você."

E só mais uma coisa. Esse filme também mexe comigo de forma pessoal, porque a minha gata Kira é a cara do Banguela: